sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Mais ao Sul - por Christian Davesac

Um vinte de setembro

“A autenticidade é a diferença entre os que são e os que tentam ser!”

Ângelo Franco

Enquanto o mundo gira, o Rio Grande pára (não me venham com a nova regra de português!) para homenagear os farroupilhas, um legado de ideais que nos foi deixado e temos preservado com muito gosto. As polêmicas de justa, rebelde, oportunista, ou quaisquer que sejam possíveis são controversas, uns de um lado, outros de outro, afinal, “toda unanimidade é burra” – Nelson Rodrigues...

Retrocedendo um pouco no tempo, lembro-me que num cinco de setembro, sofri um acidente e após uma cirurgia mal sucedida permaneci hospitalizado por 25 dias, tempo que entre tantas inquietudes, apreciei um desfile temático de Porto Alegre via TV a cabo. Uma valorosa idéia que contagiou o público em geral, uma manifestação cultural apreciável com o apoio do governo do Estado, onde em via pública milhares de cavalarianos cruzaram as avenidas da nossa capital, civismo puro, manifestação espontânea, de pessoas provenientes de todos os rincões do nosso estado.

Neste ano, já que o tempo e a situação nos permitiram, resolvemos beber um pouco da fonte das lagoas, nos Campos Neutrais, e se tocamos pra Santa Vitória do Palmar, extremo sul do Brasil, fronteira com o Uruguay. Uma visitinha no Chuy, um assado de tiras de primeira, umas comprinhas básicas nos Free Shops, bueníssimas e rasas de baratas, e chegamos ao destino. Rodeio, penha (tertúlia), amigos e o piquete Nativo Changadores da Fronteira.

Bueno, o nome changador, é em homenagem aos precursores do gaudério, que por sua vez é anterior ao gaúcho (parece tudo a mesma coisa, mas não é!), mas resumindo, a denominação era utilizada nos primórdios da civilização “gaucha”, na era do couro, aos que se ocupavam em matar animais alçados ou não, com sua lança característica em forma de meia lua, para desjarretear com habilidade o animal em movimento e de cima do cavalo.

Recordo-me de diversas oportunidades que participei da semana farroupilha até por outras entidades, mas foi debaixo dessa bandeira, que me encontrei de melhor grado. Com esses paisanos, muitas crianças, esposas, namoradas ou irmãs, reescrevemos passagens da história do Rio Grande do Sul, com autenticidade a cada desfile, bem de a cavalo ou de cima de carroções puxados por cavalos ou bois, de rodado de madeira, sem aperos de sola e laços de algodão, assim como era na era do couro e até hoje perdura nas estâncias da fronteira pelo menos. Lá em Santa Vitória do Palmar, o desfile foi temático desde que o primeiro pisou na faixa empunhando a centelha crioula meio século atrás. Cada piquete (e são 13), que originalmente representava uma região do município, filiado ao CTG Rodeio dos Palmares, e com galpão próprio dentro da sede campeira, participa do rodeio de provas campeiras e artísticas com seus peões e prendas designados, em busca de pontuação para somar-se ao desfile temático livre, culminando com um grande churrasco para seus participes, dentro dos galpões desse parque de eventos, para depois à noite, na sede social, ser proclamado o vencedor geral, com premiação instituída pelo CTG patrocinador, e sem incentivos maiores que talvez da prefeitura municipal.

Eu já presenciei diversos desfiles em outras cidades, ouvi falar de outros, mas nunca tinha assistido em Santa Vitória, sempre estive envolvido, e dos bastidores, de passagem a gente observava amigos e conhecidos de outros piquetes, também com o mesmo propósito de cultivar as nossas tradições. Mas, nos Changadores, recordo entre outros, um ano em que se tematizou os jogos característicos do gaúcho; jogo de truco, escova, taba, carreiras, e até uma rinha de galos em praça pública, jogou-se um pala no chão, algumas moedas antigas, fez-se o remate e largamos dois galos por cima, como num tambor de rinhedeiro, e que antes que se pegassem foram agarrados novamente, seguindo-se o desfile normalmente.

Este ano, pude ver da calçada, em meio à multidão de pessoas que ali estava, uma demonstração de doma em frente às bandeiras hasteadas e autoridades presentes no palanque oficial, a gurizada gaúcha, que antes de aprender a ler, já assina o nome num esbarrar de cavalo, levou uma tropilha de gateadas, crioulas de marca, soltas atrás da égua madrinha, ao longo de três quilômetros de aplausos pela avenida principal da cidade, colocaram-nas na forma no passo municipal, se embuçalou uma, encilhou, montou apadrinhado, deu o primeiro galope e puxou de cima pra que aprendesse a respeitar pela boca, como fizeram os índios na pampa quando se apegaram ao cavalo e, até os dias de hoje os brancos com algumas variações. O desfile foi tão emocionante que até os visitantes, subconscientes, saem comentando a quantidade de pronomes, cheio de pronomes, como no dialeto característico da região.

Quando inventaram os desfiles temáticos do governo do Estado, trouxeram carnavalescos do Rio de Janeiro pagando e bem para montar o evento, com carros alegóricos puxado a trator e em lombo de camionete, com bandeirolas, lantejoulas e o que mais couber neles; Se é pra mentir, “vamo mentir parelho”! Agora, se for para nos conhecermos, quem quiser, dirija-se ao sul pela BR 471 até perder a reta de vista, e siga mais um tanto até onde se fala diferente, lá não tem de se andar por riba da goma e, “quem sustenta suas razões sempre é bem vindo” (Aqui bem mais ao sul - CD Marca Fabiano Bacchieri 2004- C.Davesac/F.Bacchieri).

Christian Davesac

Rincão das Corticeiras, 22 de setembro de 2010

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Nada Chega


Memórias da Pinheiro por Rosalva Rocha



Saudades da NÃO EMPURRA

(por Rosalva Rocha – 28/08/10)


Grande parte dos moradores da Pinheiro sempre se envolveram com Gincanas, participando efetivamente da EQUIPE NÃO EMPURRA.

Na minha opinião a melhor, sempre a melhor!

O seu nome foi criado em Tramandaí, em uma mesa de bar, para concorrer à uma Gincana promovida pela Atlântida & Chanceller.

QG em uma residência à beira mar, com todo o ar de quem não sabia o que fazer para fazer render um bom resultado – e fizemos “chover”, transformamo-nos em protagonistas de histórias que jamais serão esquecidas.

Lembro-me de uma prova em que o Fernando (Aguiar) transformou-se nos seus 20 e poucos anos em um senhor de mais de 70, para cumprir uma prova de fotografia, imitando a propaganda, na época, do Chanceller. Eu, sem o menor tino musical, por falta de integrantes para compor um “conjunto” para cantar Strangers In The Night, bati triângulo na beira da praia, ao lado da Maristela (Bemfica) tocando gaita. Dá para imaginar?

Sagramo-nos bi-campeões e deixamos história no Hotel Laje de Pedra por 3 dias, com muita farra e alegria. Este foi o nosso prêmio. E pasmem: nesses dias, nossa companhia à beira da piscina era, nada mais nada menos, do que a Maria Teresa Goulart. Sim! Ela mesmo! Sabe-se lá se não seria um sinal para as inúmeras vitórias que não tardariam a ocorrer.

Anos depois o Rotary Club de Santo Antônio resolveu retomar a famosa Gincana, anteriormente chamada de “Gincana da Barão”. O Dr. Kury liderava a equipe de elaboração de provas, o Nazir administrava-a como um todo, em parceria com outros patrulhenses entusiasmados e mais do que profissionais no ramo, pois nunca se ouviu falar em qualquer pequena fraude que tivesse ocorrido.

E não deu outra: a turma da NÃO EMPURRA se mobilizou e entrou de cabeça naquilo que ela aprendeu a amar de uma forma, no início, um tanto desordenada mas que, com o passar dos anos, passou a profissional.

Trabalho árduo, sempre regado a muito bom-humor.

Muitas vitórias,

Algumas derrotas por problemas de tempo (essa sempre foi a nossa desculpa!),

Muitas bandeiras, sendo que uma delas confeccionada em 2 madrugadas, para “bater” literalmente o tamanho da bandeira da SODA, que por nós tinha sido considerada uma afronta quando de um desfile anterior (era gigantesca!).

Desfiles de rua de “cair o queixo”. E nada de desleixo por parte dos integrantes.

Anos e anos com muita mobilização, muita pesquisa, muito trabalho.

QG com portas sempre abertas para todos, o que sempre diferenciou a NÃO EMPURRA das demais. Nela o chefe era multiplicado por todos!
É óbvio que sempre houve lideranças, mas sem se deixar contaminar por mandos e desmandos. Todos eram nivelados pela
Tabela Hay.

Rivalidade ferrenha com as demais equipes, especialmente com a AFUCAMA, AZUL e SODA, que contavam com alguns grandes amigos da nossa turma mas que, no final de semana da Gincana, passavam a ser inimigos mortais.

Lembro-me de eu, uma menina recatada, certinha e mais do que comportada - rsrs, ter feito coisas que até hoje não acredito, a exemplo de falsificar a assinatura de um bispo, ligar em nome de outra pessoa imitando sua voz, rolar-me na grama aos tapas com um “inimigo” da SODA, etc. e tal.

Tudo era válido naqueles finais de semana mais do que prazerosos.

Ficávamos tão ansiosos que não conseguíamos dormir, comer então nem pensar, passando geralmente duas noites acesos: a de sexta, preparando o desfile para o dia seguinte e a de sábado envolvidos na busca de provas.

Tanta gente boa;

Tanto papel crepom;

Tantos balões;

Tantos rojões.

Tantos talentos que afloravam a cada ano, a exemplo do Rivelino que descobriu que era um expert em “catar” qualquer bicho na madrugada - nunca deixou a NÃO EMPURRA na mão na “Prova do Bicho”.

Seria insano de minha parte citar todos os nomes que fizeram e fazem parte da equipe, pois ela é grande, muito grande, se extendendo até a Miraguaia, nossa grande conquista.

Diga-se de passagem minha e do Alexandre (Aguiar) que, tempos antes da realização de uma das Gincanas, resolvemos tirar um sábado à tarde para visitar os miraguaienses como se fôssemos Festeiros de uma Festa do Divino. E deu certo. Simbiose perfeita! Lá muita confraternização foi realizada, contando com a comunidade integrada do início ao fim.

Sandrinho (Neves) e companheiros – saudade de vocês!

Saudade da nossa molecagem, sempre organizada financeiramente pela Edilene, com mãos de ferro.

Saudade do Toninho que era o único que conseguia fazer com que parássemos de gritar dentro do QG. Fera nas articulações internas!

Saudade de pessoas que conosco se juntaram e uma grande amizade se formou, a exemplo da Luciana (Rocha), e da família da Dona Miguelina, sempre presentes em todas as horas.

E é esse aspecto que sempre fez da NÃO EMPURRA uma equipe diferenciada.

Lá os integrantes se sentiam bem.

A NÃO EMPURRA tinha um imã, agregava gente de todas as formas, cores e até mesmo sabores,

Fazia amores;

Sem dores;

Mas sem cores, pois sempre foi preto no branco!

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Só lhe dê Solidão, Soledade - por S. Costa

CPF

Até parece!

Mas nossos repórteres são muito burros, ou,

Simplesmente, sensacionalistas.

Quem não sabe que, a partir de um CPF,

Desvendam-se a vida de qualquer um?

Estamos vivendo em mil e quinhentos

Ou no século XXI?

Nós, pobres mortais,

A cada compra,

Mostramos nosso cartão de identidade, nosso CPF,

Digitamos nossa senha.

Afinal, somos honestos.

Não queremos enganar ninguém.

Mostramos nossa cara mas,

Os mal intencionados estão de olho!

Como tirar vantagem?

É o velho conto do vigário!

Os ingênuos sempre marcham...

Não que suas perdas sejam significativas.

Afinal, sempre podem achar graça em serem logrados.

Faz parte.

Dói um pouco mas, visto daqui a pouco

É sempre motivo de piada.

Senão, que graça teriam

Perdas e ganhos?

Alguém pensa que ganhou

Outro pensa que perdeu?

Na verdade todo mundo

Empatou.

A morte é certa e,

O mundo, efemeridade!

- Solide Costa -

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Capítulos da Josi - Semana Farroupilha

Semana Farroupilha

E novamente chega setembro! Eu tenho um carinho por esse mês... os dias ficam maiores, aguardo ansiosa a entrada da primavera no 22 e o temporal de setembro, São Miguel, lá pela volta do 29. Não é a despedida das invernias que agrada, gosto do frio e da calmaria do inverno, mas quem pegou a lancha de São José do Norte pelo menos uma vez na vida, entende a importância de um tempo bom!

Também tem o 20 de setembro. As festividades gaúchas, para mim, nunca se resumiram a uma semana, pois a batalha farrapa no Norte aconteceu dia 16 de julho, sempre muito comemorada por lá, que emenda com a expointer em agosto que se estende até 20 de setembro.

Para alguns o espírito gaúcho revive em julho, pra outros só em setembro mesmo e pra muitos simplesmente não morre, embora afrouxe um pouco em fevereiro, quando a praia nos liberta até pra ensaiar um lá,lá, “leithon”...

Independente do que se faça durante os outros meses, setembro é guardado pra ressuscitar um regionalismo muitas vezes infundado. Quantos reverenciam os Farroupilhas e são tetranetos de imperiais; que concordam com uma guerra motivada pela injusta tributação do charque e são descendentes dos lanceiros negros, que só deram o sangue e a vida para serem alforriados.

Confesso que para sair em defesa de Bento Gonçalves e atacar Soares de Paiva eu precisava de mais um tempo de estudo, mas reconheço que essa revolução, que durou 10 anos, conseguiu à época e perpetua-se até hoje, unir os gaúchos. E mesmo que seja por uma semana, é esse sentimento de igualdade que nos faz um povo forte e muito parecido, apesar de tanta diferença.

Para nós não importa se as horas são vistas pelo sol, pelo relógio da igreja ou pelo celular via internet; se no ipod tem Lady Gaga, no carro tem Soledad, no 4 em 1 ouve-se Pedro Ortaça ou se o radinho de pilha permanece na estação que só toca Teixerinha; independente se no armário tem mais terninhos, calças saruel ou bombachitas, que aquecem no inverno e esfriam no verão.

O principal é que não suportamos a promiscuidade dos bailes funks, nos chocamos com a vulgaridade das mulheres frutas e respondemos ao preconceito da imprensa esportiva do Brasil produzindo, a ponto de fazê-los tirar um técnico daqui e colocarem outro gaúcho no comando da sua seleção.

Não importa onde se está, na campanha, serra, litoral, fronteira ou região metropolitana. Quem não planta e colhe nos bons campos sulistas, ou não acorda com o canto do galo, não mira mais adiante do alto de um cavalo bem encilhado nem assiste a parição das ovelhas, provavelmente estique aramados, construa mata-burros, muros, casas e prédios ou manejam ceifas, tratores, computadores e outros instrumentos, que curam feridas, sustentam a justiça e vendem os produtos gaúchos. E todos, indistintamente, o consomem.

É somente uma semana no ano que nos damos conta de que somos iguais, mas privilegiadamente temos essa semana pra desencilhar os cavalos e os preconceitos, e é essa semana que nos fortalece a defendermos uns aos outros apenas pela geografia.

Acho que valores são mais fáceis de construir do que manter, por isso peleamos todos os dias para dar continuidade à herança que nos foi deixada, de coragem, identidade, cultura e honra. Se não nos posicionamos sobre história, mas lutamos para defender esse legado, então que sirva essa façanha de modelo a toda terra.

- Josi Borges -

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Mais ao Sul por Christian Davesac

E tudo isso, os antigos sabiam só por observação

O que os gaúchos não sabem sobre cavalos, não encheria muitos livros” – Tropeando Pingos

Robert Cunninghame Graham (1852/1936)

Hoje, olhando o tempo lá fora, depois de se rebolcar de raio e trovão, babando água, branqueando as várzeas, acalmou. Ontem lá pelas 5 horas da tarde, o céu escureceu e virou noite, logo em seguida, uma chuva de pedra, e uma manga d’água, 1/3 do que prevê o mês em uma hora, e seguiu chovendo. Ainda bem que deixei o rebanho de ovelhas parindo encerrado no galpão, costume antigo de quem precavido, peleia com o tempo pra salvar uns bichinhos.

E sobre isso me propus escrever, sobre o que meu avô me contava e mostrava e, quem sabe o avô do meu avô também falava; Coisas de campo, que um campeiro sabe, sem saber nem porque sabe, só sabe que é assim. Mas bueno, esse tema sempre me acompanhou e inclusive no final da década de 90, compus com Joca Martins uma música sobre o tema (ingenuidade de principiante ou meus versos eram tão ruins que nem me lembro mais) que não vingou e se perdeu no tempo, e hoje mais esclarecido, talvez consiga contar direito o que penso ser de fato.

Muita gente do meio rural e da cultura gaucha, que acompanha expo-feiras e também as comemorações tradicionalistas, observa que expointer de Esteio e semana farroupilha sem chuva não existe. A estória conta, e eu que nunca fui chegado a santo, conferi com as datas, que nos fins do mês de agosto um temporal de grandes proporções se forma geralmente coincidindo com o dia de Santa Rosa (30), outro em setembro, próximo a comemoração de São Miguel (29), e posteriormente, encerrando o ciclo, no início de outubro (4), e como já dizia meu bisavô: “_Antes de São Francisco eu não tenho medo de seca”!, e, ainda, que depois de uma chuva feia, o tempo se compõe de fato quando entra um pôr de sol amarelado. Pois bem, essas datas, expointer de Esteio e semana farroupilha, também se aproximam dos santos já nominados.

Ainda pesquisando encontrei sobre o mais famoso, o temporal de Santa Rosa, que sua crença se deu por ocasião da eminente invasão da costa do Peru em 1615; diante do fato, as internas de um convento, se puseram a rezar onde se destacava, Izabel Flores de Oliva (30 de abril de 1586 / 24 de agosto de 1617), posteriormente beatificada com o nome de Santa Rosa de Lima, padroeira das Américas (e eu nem sabia!), que enquanto fazia suas orações, uma tormenta se aproximou da costa impedindo o desembarque dos invasores. O povo atribuiu a tormenta as suas orações e de acordo com alta incidência de tormentas na data de comemoração da santa, assim foi batizado o temporal de Santa Rosa, de grande popularidade na região do Prata. Estudos meteorológicos apontam que a tormenta de Santa Rosa nada mais é que a primeira tempestade que se costuma produzir nas latitudes médias no final do inverno, entre a última semana de agosto e a primeira de setembro. Com a proximidade do equinócio da primavera, a atmosfera começa a sofrer alterações nos movimentos de circulação do vento. O avanço de ar mais quente do norte, a crescente radiação solar e a entrada de perturbações atmosféricas a partir do sul e oeste tendem a favorecer a ocorrência de temporais no final do inverno, em datas próximas ao dia 30 de agosto. Estas perturbações estão associadas ainda ao ar muito frio que permanece no sul da América (metsul).

E isso tudo, os antigos sabiam só por observação!

Invariavelmente, com maior ou menor intensidade, dia mais, dia menos, alguma coisa acontece com o tempo nessa época, pelo menos aqui onde resido, no Rincão das Corticeiras, e também nos campos da fronteira sul, onde me criei.

E como escreveu Fernando Adauto (jornal SulRural, Tropeando, setembro de 2009), “Com certeza, previamente os pesquisadores conheceram a freqüência das enchentes de Santa Rosa em fins de Agosto e São Miguel no final de setembro. Antes do El Niño, da La Niña e do Cléo Kunh, estes santos eram famosos, tendo conquistado o prestígio por séculos”. Mas pelo visto, ainda não se deram conta disso, depois do Catarina, tudo virou ciclone extratropical, e aí mesmo que a nossa cultura vai sendo esquecida

Christian Davesac

Rincão das Corticeiras, 13 de setembro de 2010

Dá-lhe Samuca

São os músicos patrulhenses marcando seu lugar nos festivais do Estado.
Nesse final de semana foi a vez do Samuel Costa - nosso Samuca, levar o troféu de melhor instrumentista no retorno do Serra, Campo e Cantiga, em Veranópolis.
Valeu Samuca!
Forte abraço

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Mais ao Sul por Christian Davesac

Um certo espetáculo


O que mata a sede é a água e não o copo!”

Glênio Fagundes


Algum tempo atrás, estava num semáforo em Pelotas, quando fui abordado por rapazes e moças arrecadando dinheiro para participar de um concurso, era um concurso de danças folclóricas em alguma cidade do nosso estado. De metido, resolvi perguntar o que eles dançavam e me surpreendi com a resposta, entre outras danças tinha um tal de “chote das flores” (o nome não era esse, mas pouco importa, o fato é que ou não existe, ou não é do meu tempo), e como já fui do meio, por mais de 10 anos, posteiro de invernada e com diploma do IGTF (te mete!!!faz tempo!!!), ainda guardo um amansa burro, manual de danças e pilchas com a capa azul, do Paixão Côrtes e Barbosa Lessa -, retruquei pra mim, após dispensar a gurizada, como as coisas mudaram! Não sei se pra melhor ou pior, mas, creio que simplesmente mudaram.

Bueno, entrei pra os ctg’s, com 7 anos de idade, invernada mirim, juvenil, adulta e já mais taludo virei a cabeça quando me pediram pra fazer carteirinha, carteirinha do mtg, quem sabe eu precisasse dela pra comprovar minha identidade, então, por não me enxergar mais dentro desse contexto, de um centro de leis que nada pode a não ser o que eles acham que pode, como por exemplo: bombachas que qualquer um que a use leva um tropicão na própria ou se enreda nas esporas à cavalo, botinha de sanfona com topizinho boleado, lenço de qualquer cor e, pra agasalhar, dispensaram um bom poncho trocando-o por um abrigo de moletom com os símbolos da instituição, mas isso deve ser pra bonito! Na verdade, o que não me serviu foram os costumes, e, eu nunca fui do rebanho, então me bandeei pra o outro lado.

Recentemente, lendo em um jornal de grande circulação, descobri que um cidadão foi excluído dos quadros do mtg, e não podia mais laçar nos rodeios promovidos por ctg’s, porque participou de uma procissão não “abençoada” pelos doutores de hoje do tradicionalismo, mas isso só aconteceu porque ele tinha carteirinha e se resignou a esses mestres. Ora, tradição e folclore é a história de um povo, que herdamos de nossos antepassados, e que havia se perdido; quando alguém se achou no dever, juntou meia dúzia de gato pingado, pesquisou, trabalhou e recuperou nossos costumes. Com esse intuito, homens, travestidos desse ensejo, recorreram o Rio Grande do Sul, atrás de cada idéia, de cada resto de memória, de cada perna cansada que pudesse ensinar meio passo de dança, ou que mesmo surdo pela idade, soasse nota e meia de melodia para comporem esse acervo. Parece-me que isso tudo foi esquecido, a moda agora é estilizar, a única visão que tem esses jovens é “fegart ou enart”, não sabem de onde saíram as danças que executam, que a nossa bota é diferente do cowboy americano, que um lenço significa mais que um enfeite, é a orientação política de quem o usa; aqui no Rio Grande, ou se é contra ou a favor, ou chimango ou maragato, pica-pau ou federalista, gremista ou colorado, é um estado que se tem posições e por isso eu as defendo.

Eu depois que desmamei dos ctg’s, empunhei a bandeira da liberdade, me alimentei de cultura, construí minha personalidade, compus versos, participei de festivais de música por outros 10 anos, sempre com a minha autenticidade. Hoje, de uma forma mais caseira, espero estar contribuindo de alguma maneira para que as pessoas se dêem conta do que já foi feito, e que há muito por fazer, mas dentro de limites, dentro de um contexto, um panorama que nos foi regalado, talvez por isso, agora a pouco, em um evento, se homenageava o símbolo do tradicionalismo, o próprio “Laçador” de Caringi, em carne, osso e bigode, Paixão Côrtes, que infelizmente, não pode comparecer para apreciar o espetáculo da sua obra!


Christian Davesac

Rincão das Corticeiras, 7 de setembro de 2010

*Christian Davesac também escreve no projeto Colunistas, www.radiosul.net

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Primavera

Há ¼ de século atrás, quando construí minha casa, meu projeto de vida era simplesmente terminar de criar minhas filhas, fortalecer-lhes as asas e mandá-las voar. Quanto a mim, era ficar em casa cozinhando, recebendo amigos, fincar raízes e deixar a “casa” como um ninho.

De pintassilgo, em que qualquer “cuco” pusesse seus ovos, que iria criá-los como meus. Cega para o tamanho dos ovos, amando um seres ali nascidos e, finalmente, ser carregada lomba acima e enterrada num cantinho onde alguém plantaria uma árvore e muito tempo depois diria:

- Hoje abriga passarinhos e borboletas como já abrigou filhas, genros e netos (netas).

Em vez de subir a ladeira carregada, desci, e me mudei para o andar de cima, numa nova residência, na qual tento criar um lar.

Deixei para trás mil bugigangas que, afinal, me fizeram feliz em determinado momento, mas que não me fazem mais falta.

Ops! Chega de carregar uma tralha velha.

Larguei o saco das preocupações na beira do caminho e segui uma nova trilha, que não sei onde me levará.

A única certeza que tenho é que, um dia, tornarei a subir a montanha e repousarei, numa cova pouco profunda, sobre a qual alguém, gente ou pássaro, largará uma semente qualquer, da qual brotará uma plantinha que atrairá pássaros, borboletas, abelhas, e me farão sentir-me viva, pois estarei novamente a alimentar as criaturas que Deus colocou na terra

Meu corpo será o adubo que fará novas vidas brotar.

Que bom que tive uma bela existência.

Não me lamentem quando eu partir.

Nunca estarei muito longe.

Estarei sempre perto dos corações daqueles que me amam, assim como aqueles a quem amo sempre estarão perto de mim.


A semente só volta a ser fruto se morrer. Enterrada, cria novas raízes, e rebrota.

Esta é minha filosofia: largar aquilo que pesa, recolher-me ao ninho da terra, deixar o tempo passar, o verão da maturidade, o inverno da decadência, adormecer na cama e, ou, no seio da terra, com a certeza de que, sempre, haverá uma nova primavera.


Solide Costa - 09/09/2010

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Tropeços molhados

Eu tinha muitas pretensões na época da escola. Jogar futebol, estrelar a feira de ciências, dançar no grupo da ginástica aeróbica... e cantar no Coral dos Canarinhos.
Depois de alguma – muita – insistência, a mãe acabou cedendo e me deixando participar, bem avisada eu estava de que, depois de entrar para o Coral, deveria comparecer a todos os compromissos.
Mas eu estava encantada. Depois de algum tempo, puxa-saco da Irmã Reginalda, que na época comandava o grupo de pequenos cantores, já solava o Cordeiro de Deus.
Me achava o máximo.
Acompanhava o Coral – e a mãe de motorista do grupo – nas missas das duas igrejas da cidade e nas festas religiosas do interior.
Pensava até em estudar interna no Colégio das Freiras, tamanho o delírio que sentia ao me apresentar.
Mas minha carreira artística, para a graça dos religiosos ouvidos que acompanhavam as missas, foi por água abaixo logo no primeiro ano de participação. Ou, melhor, foi altar abaixo, escorrendo junto com o xixi que deixei escapar em plena missa de domingo.
Isto mesmo: apurada e medrosa de voltar pela sacristia, e me achando forte o suficiente para segurar aquele aperto até o final da missa, me atrapalhei entre respirar, cantar e segurar a bexiga, e deixei um longo e ruidoso xixi descer pelos degraus do altar.
Foi o fim das minhas participações no coral e, por algum tempo, suspendeu minha então agitada vida social. As irmãs até tentaram me reintegrar ao grupo, com aqueles 'isso acontece' e tal, mas não tinha mais clima. Era como se aquele xixi ficasse para sempre marcado no uniforme amarelo com gravata azul do grupo.
E o pior de tudo, o que me faz até hoje relembrar desta história, não é o vexame da missa ou deixar para trás os divertidos encontros dominicais: é a lembrança dos colegas de escola que não estavam presentes, mas alegavam ter tomado conhecimento não por outros colegas, e sim pelo barulho que fiz com minha 'incontinência', transmitido a todos, juntamente com a missa, pela rádio local.
- Cássia -

domingo, 5 de setembro de 2010

Auto-ajude-se com boa leitura

Warning (Advertência) por Jenny Joseph

"Quando eu for velha vou me vestir de roxo
Com um chapéu vermelho que não combina, e não me deixa bem.
Quero gastar minha aposentadoria em conhaque, luvas de seda
E sandálias de cetim, e dizer que não temos o dinheiro da manteiga.
Sentar-me no chão quando estiver cansada
Devorar amostras nas lojas e apertar botões de alarme
E raspar minha bengala pelos gradis das ruas
Para compensar a sobriedade da minha juventude.
Sairei de chinelos na chuva
Colherei flores em jardins alheios
E aprenderei a escarrar.

Poder usar blusas medonhas e deixar-me engordar
E comer dois quilos de lingüiça de uma só vez
Ou apenas pão e picles por uma semana
E estocar canetas e lápis e bolachas de chope e coisas em caixas.

Mas por hora devemos ter roupas que nos mantenham secas
Pagar nosso aluguel e não xingar pelas ruas
Dando bom exemplo para as crianças.
Temos de convidar amigos para jantar e ler jornais.
Mas se eu pudesse ir praticando um pouco agorinha mesmo?

Para que quem me conhece não fique chocado ou surpreso
Quando eu for velha e passar a usar roxo."

sábado, 4 de setembro de 2010

Memórias da Pinheiro por Rosalva Rocha

Insanidades de uma Juventude Meio Transviada

(por Rosalva Rocha – 11/08/2010)


Lá pelos idos da década de 80 a Pinheiro Machado, justamente no número 455, era palco constante de encontro de amigos antes de saírem para algum programinha.

Mas nem sempre tinha programinha, o que fazia com que a turma tivesse que “inventar” constantemente algo para fazer, além de colocar o papo em dia.

O pior era sempre o domingo, já que, depois da missa (todos iam – era o “evento!”), o tempo se tornava ocioso.

Eu, na época, já trabalhava e residia em Porto Alegre, mas costumava tomar o 1º. ônibus nas segundas-feiras, com o objetivo de aproveitar “os últimos minutos do segundo tempo” de todos os finais de semana. Naquela época, Porto Alegre prá mim era um suplício, o que já não mais ocorre hoje, já que aninhei-me dela e dela tiro o maior proveito que posso.

Pois em um desses domingos estávamos nós (lembro-me que eu, a Goretti, o Galinho , o Geraldão, o Joel, a Claire, o Paulo Gilberto, o Alexandre, o Sergio Ceroula, a Licinha e não lembro de quem mais) na minha casa meio entediados. Precisávamos fazer algo realmente interessante - e nada! Nossa energia estava por explodir!

Eis que, de repente, a Goretti - justamente a Goretti que sempre foi extremamente reservada e considerada a “inanimada” da turma, levantou uma idéia bombástica: “que tal batermos o sino da Igreja?”.

Sem comentários! Não pensamos! Saímos todos direto para a Igreja das Pitangueiras, já que foi considerada a mais fácil para acesso ao sino.

De onde veio a escada e a corda? Não lembro!

Quem subiu? O Galinho.

Muitas badaladas com o Galinho pendurado na corda de um lado para outro. Cidade alvoroçada (naquela época bateção de sino sinalizava, além de missa, morte).

Após a bateção não lembro aonde deixamos a escada e a corda (que eram imensas) e saímos todos, em dois carros, “fugidos” para a estrada que ladeia o Açude dos Caetanos. E lá ficamos nós, bem quietinhos, imaginando que a polícia já devia estar atrás dos “delinqüentes”.

Não preciso contar que não dormi naquela noite. As nossas brincadeiras sempre foram saudáveis, dentro dos limites considerados normais para a época - mas aquela tinha simplesmente “arrepiado”.

Segunda-feira. Tomei o ônibus e rumei diretamente para o trabalho em Porto Alegre. A preocupação pairava na minha cara. Não conseguia pensar em outra coisa. Nem em dor, nem em amor ...

Terça-feira. Um telefonema. Do outro lado da linha alguém dizia, em tom enfurecedor:

“É a Rosalva? Por favor, agende aí uma visitinha na Delegacia de Polícia de Santo Antônio em função da tua travessura no último domingo”. Fiquei atônita e, logo em seguida liguei para o Paulo Gilberto que, não só estava conosco no domingo, como era filho do Delegado de Polícia da época (que costumava perambular pela cidade com uma “fatiota” com tecido imitando couro de cobra!).

Diálogo:

Eu: “Meu Paulinho (era assim que eu o chamava), tu recebeste uma ligação da Delegacia?

Ele: Eu não, mas fiquei sabendo que te intimarão como líder do tal do “Grupo do Sino”. Ouvi o meu pai falar ...

Putz!!!!!!!!!!!!!!!!! O que os cidadãos patrulhenses diriam?

Eu estava literalmente “ralada”. Coração aos pulos. Não conseguí trabalhar mais. Não conseguí mais viver, até tomar conhecimento de que a ligação tinha partido justamente do Meu Paulinho.

A delinqüência foi comentada pela cidade por muitos dias e certamente até hoje muita gente questiona quem foram os loucos que fizeram tudo aquilo com Jesus.

Jesus? Perdoe-me Jesus! Mas nas noites de domingo nós não costumávamos pensar no senhor. Era praticamente impossível. Uma juventude meio transviada, tresloucada, nada maculada, precisava colocar a sua energia prá fora.

Depois de tantos anos, estamos perdoados?