terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Reflexões Tempestivas - por Artur P. dos Santos


CERTIFICADO DE GARANTIA
A MOLDURA

Um quadro sem moldura é como uma bela mulher sem cabelos. Ambos, entretanto são emoldurados, em sua concepção, na mente de cada criador.
O marceneiro busca na paisagem, no motivo ou nas dimensões a inspiração para dar à moldura não apenas a sua arte. Acima de tudo procura captar as reações do artista no momento da criação e nele encaixar suas conclusões.
Cores, dimensões e espessuras são ingredientes cuidadosamente estudados para alcançar a harmonia e a intensidade que a obra requer.
Pinheiros enfileirados, pensa ele, talvez traduzam o perfeito equilíbrio que o artista buscou em cada pincelada, acentuado às vezes pelo decréscimo e outras pela elevação de alturas, em consonância, quem sabe, com as oscilações que a vida lhe proporcionou.
Que motivos teriam levado o artista a alinhar brancas e gélidas montanhas, de alturas diversas, em que as mais elevadas pareçam querer tocar o azul infinito ou as nuvens que delas se esquivam e se esvaem na distância, tocadas pelo vento, invisível e subjetivo como a própria inspiração.
Saberia ele que um dia alguém iria repensar as nuvens para embasar sua análise a fim de reconstruir a moldura? Ou foi de propósito que quase as escondeu para confundir e não deixar que fosse incluído nela algo que pudesse sobrepor a sua imaginação.
E a casa ao pé do monte? O que esconderia em seu interior de janelas fechadas? Sonhos? Aspirações ou o desencanto de não ter alcançado a perfeição que a vida lhe cobrou?
Talvez aprisionasse a intensidade de sua luta, insuficiente no combate ao fantasma das exigências que o fizera sucumbir às comparações.
Enfim, a obra do artesão deve ficar aquém do resultado obtido pelo artista e a moldura deve ser apenas um complemento não destinado a aprisionar a arte. Deve ser um suporte convencional para preservá-la enquanto transmitir recordações ou, na falta destas, causar admiração às gerações futuras.

                                                                            .....................  / .....  de ............... de .....
..............................................................
Validade ilimitada.                                                                         Assinatura do Fabricante
(opcional)    

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Capítulos da Josi - Carnaval

CARNAVAL

Voltei!
E com algumas diferenças... uma barriguinha de 6 meses de gestação que justifica muita felicidade.  A primeira, e maior de todas, é a minha guriazinha, Ana Júlia, que está a caminho.
A segunda é a contagem regressiva para as férias. Bagé sabe ser fria, mas também sabe ser quente quando quer. E eu, que basta muito pouco para ter náuseas e outras “frescurites”, com esse calor, passo mais desmaiando do que acordada.
Mas semana que vem estarei na praia. A família e o ventinho do mar serão os meus remédios.
As férias, emendei com o carnaval! Ah sim, não tem como passar o carnaval só naqueles diazinhos. É preciso muito preparação. Não que eu seja uma foliã entusiasmada, na maioria das vezes passo as noites de carnaval assistindo aos desfiles das escolas do Rio, onde vou estar um dia. Carnaval contamina.
As  vezes fico pensando em como nós, gaúchos, seríamos se realmente fossemos separados do resto do país. Será que nosso carnaval seria igual ao dos uruguaios?
Nada contra, mas sambar de calça jeans realmente não é possível. E quem tenta se soltar parece mais com lagartixa andando no asfalto quente do que uma passista.
Não, definitivamente samba é coisa de brasileiro!
Eu sei que é uma festa que já perdeu muito das suas origens. Que hoje o carnaval está deturpado, promíscuo. Não sei até que ponto podemos colocar a culpa na festa, as propagandas de cervejas incentivando o consumo exagerado de álcool estão aí o ano todo e também contribuem com a violência no trânsito, o desequilíbrio das pessoas nos estádios de futebol e até nas festas de “família”.
Olhando além desses detalhes, o carnaval é uma das festas mais democráticas que se conhece. É também das mais diversificadas. Admite trios elétricos, desfiles grandiosos e bailes em clubes fechados, com acesso a todos.
Já não tem mais ênfase os bailes caríssimos com fantasias enormes e luxuosas. Está fora de moda.
Lá no clube da Barra do Chuí, onde já passei alguns carnavais, as rainhas se preparavam o ano todo e pagavam a decoração do clube. Detalhe, as rainhas são escolhidas pela diretoria, de acordo com a idade e, provavelmente, as posses da família. A escolha é surpresa e muitas gurias esperaram ouvir seu nome silabicamente perante todos. Hoje, acreditem, se tornou tortura. As gurias que estão na faixa dos 16 anos ficam tensas no momento do anúncio. Uma delas, há poucos anos, fugiu do salão quando ouviu seu nome. Imaginem ter que passar o carnaval com plumas e paetês enquanto todas as amigas estão com a camiseta do bloco customizadas e tênis.
Em São José do Norte é diferente, quem vai de fantasia se inscreve no desfile. Quem tem vontade arrasa na passarela e sai rainha do carnaval. Nunca participei, também não lembro de ter passado um carnaval com uma fantasia a altura da rainha. Sequer a fantasia de odalisca eu tive, bom mas isso é um trauma que a mãe vai ter que agüentar a culpa!
Em Santo Antonio da Patrulha, nunca tive oportunidade de participar pois nenhum nortense troca o carnaval do Norte, mas sei que a figura da rainha ainda é bem aceita. As gurias gostam da função e se divertem como soberana.
Uma coisa é comum a todos os lugares, Rio de Janeiro, Salvador, Uruguaiana, Barra do Chuí, São José do Norte, Santo Antonio da Patrulha...todos tem, para os seus, o melhor carnaval do mundo.
É isso gaúchos, deixemos de lado essa ideia de separatismo e vamos nos divertir com a festa profana que também é nossa.
Brasil, esquentai nossos pandeiros iluminai os terreiros que nós queremos sambar...
- Josi Borges -