sexta-feira, 24 de junho de 2011

Delalvescrevendo

A Constatação


Desponta-se o belo porque o lago

atreveu-se um dia

a imaginar-se parte do cisne.

Mas teu lago não sonhou

numa troca de estação

e a beleza nunca nos presenciou.

Não, não me tenhas por algoz...

Se errei foi por não me frustar

quando estava o cisne

ainda num beijo sem atrevimento.

                                                  - Delalves Costa -

terça-feira, 21 de junho de 2011

Cotidiano - por Rosalva Rocha

Saindo da rotina
(por Rosalva Rocha – 03/06/2011)

Minha natureza é inquieta. Sempre tive muita dificuldade de parar, seja para um pequeno descanso, para uma conversa fiada, para um olhar descompromissado.
Sensação estranha de trabalho 24hs por dia. Produção + produção + produção.
A vida mudou, os caminhos são outros e, sem que eu me desse conta, algumas brechas foram abertas na minha vida para que eu, sem querer, começasse a contemplar e curtir o que está à minha volta. Coisas que me eram fugidias, um tanto desconhecidas e que, inacreditavelmente, sempre estiveram na minha frente.
Na semana passada, chegando ao centro de Porto Alegre, olhei no celular e percebi que havia chegado cedo demais para a Oficina Literária que estou cursando.
  • Fazer o quê?
  • Olhar vitrines? Não, tempo disperdiçado.
  • Tomar um café? Não, sempre tomo no café em frente ao Centro de Cultura Mario Quintana.
  • Ir ao Mercado Público? Não, só olharia, pois não sairia com sacola aquela hora da tarde.
Comecei então a perambular pela cidade. Foi quando, sem que eu me desse conta, me vi em frente ao Santander Cultural.
Subi as largas escadas centenárias e questionei a recepcionista se havia alguma exposição. - Sim, sempre há!
Subí ao 2º. andar e me deparei com uma exposição de desenhos que causou-me grande alegria. Um dos expositores era justamente o meu professor do Curso no Ateliê da Prefeitura de Porto Alegre.
Fiquei olhando e admirando trabalhos variados, curtindo traços, cores e texturas por um longo tempo. Enchi os meus olhos.
Desci a escada e, sem que eu percebesse, dobrei à direita e enveredei para o Café do local. Lá sentei, abri a Zero Hora do dia, tomei o meu “expresso” e, quando vi, já estava na hora do início da Oficina.
Corri e conseguí chegar com pouco atraso, mas com o coração cheio. Mudei a rotina, desvendei um novo caminho, saí do trivial ... e tudo foi tão bom! A partir daquele dia tenho buscado sair do “lugar comum” e sorver o que existe de bom ao meu redor, a olhos vistos, sem que eu tenha, anteriormente, pensado que era possível.

domingo, 19 de junho de 2011

Longe do interior...


Terça Lírica no Palácio da Justiça
vai homenagear 
Heitor Villa-Lobos
O segundo evento do projeto do Memorial do Judiciário do RS, chamado Terça Lírica no Palácio, vai homenagear um dos maiores compositores brasileiros, Heitor Villa-Lobos. Considerado o precursor do ensino da música nas escolas, por meio do canto orfeônico, nas décadas de 30 e 40, Heitor Villa-Lobos também foi um dos maiores maestros do País. O evento está programado para o próximo dia 21/6, a partir das 18h, no Palácio da Justiça (situado na Praça da Matriz, nº 55, no Centro da Capital).
Estão previstos recitais didáticos com destaque para a obra Floresta Amazônica, que instiga o público a valorizar a riqueza e a diversidade do Brasil. Do conjunto da obra vão ser apresentados: Canção de Amor e Melodia Sentimental. As outras obras são: Modinha, Canção do Poeta do Séc. XVIII e Bachiana nº 05.
As apresentações musicais vão contar com a presença da soprano Luciana Kiefer, Mestre em Música, com ênfase na Canção Brasileira, e do violonista, Daniel Wolff, primeiro doutor em violão do Brasil.
O projeto Terça Lírica acontece sempre na terceira terça-feira do mês, durante todo o ano de 2011. Outras informações sobre a programação podem ser obtidas com o Memorial do Judiciário do RS, pelo telefone: 3210.7176  ou 3210. 7177.
Resumo das obras:
Canção de Amor e  Melodia Sentimental (Floresta Amazônica), Modinha e  Canção do Poeta do Séc. XVIII: as obras são o resultado das viagens do compositor pelo interior do Brasil. Nestas ocasiões, ele coletou vasto material folclórico que viria a ser uma rica fonte para o amadurecimento do seu estilo nacionalista, apesar das suas primeiras composições serem influenciadas por Wagner, Puccini e Franck, compositores da virada do século, do alto romantismo e do impressionismo francês.
*  Bachianas nº 5: Sua intensa admiração por Bach manifesta-se em sua plenitude com sua obra mais famosas dos anos 1930-45, as Bachianas Brasileiras, para diversas formas de orquestras. Do total de 10, a Bachiana nº 5 foi feita para soprano e orquestra de 8 violoncelos.
fonte: www.tjrs.jus.br

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Capítulos da Josi - Amigos

Simplesmente não abri concurso público para amigos

... e falando em amigos,
Simplesmente não abri concurso público para amigos.
Não sei se fui doutrinada a aceitar ou os escolheria de qualquer forma, enfim, tive a sorte de nascer em uma família muito legal. Já a minha família afetiva, de quem adotei inclusive o nome, essa sim, foi aprovada com sucesso nos meus rígidos critérios de seleção.
E além da categoria família tem a categoria conhecidos e a categoria amigos.
A primeira a vida se encarrega de colocar na nossa frente. Posso passar horas a fio que a relação não evolui. As vezes aumenta um grau na escala de carinho, as vezes desce um grau, outras vezes  despenca e aí, para uma leonina, nunca mais sobe. Pra mim existe pena de morte, morte companheirismo.
Quando os conhecidos sobem os degraus dos meus conceitos se tornam amigos. Aí sim, amigos mesmo. Amigos que moram longe ou perto, mas que fazem uma diferença enorme no meu comportamento.
Aos amigos eu me disponho a sair com frio e sou capaz até de andar alguns quilômetros para vê-los. Vou a lugares que nem gosto muito ou faço o que nem tenho vontade, desmarco compromissos menores, só pela parceria.
Consigo defini-los quando sinto saudade. Essa é a resposta... quando sinto saudades é porque estão no topo das minhas considerações.
Enquanto não me fazem falta continuam na categoria conhecidos, que nada mais é do que pessoas que passam.
E o meu seleto grupo de amigos conta ainda com distinções. Os amigos irmãos, além dos meus irmãos, podem fazer o que quiserem, dizer o que quiserem, porque eu sei que dali vem o conselho com a melhor das intenções.
Amigos ausentes, que nunca vejo, mas quando encontro vale a pena estar junto.
Amigos referência. Alguns eu nunca imaginei que poderiam ocupar esse lugar, até mesmo não imaginei que figurariam entre os meus amigos, mas estão lá e, mesmo com os meus preconceitos, se mostraram meus espelhos de caminhada. Assim os observo, ouço, pra enxergar na minha vida, do meu jeito, as bases que entendo dignas de seguir.
Não tem interstício temporal mínimo para atingir o topo dos meus sentimentos, em contrapartida, dependendo do tempo e da minha interpretação das atitudes, simplesmente não tem mais chance de galgar nenhum nível mais. Resumidamente corto mal pela raiz. E ainda assim, com todas essas exigências, já me decepcionei muito.
Tenho amigos de infância, de colégio de faculdade de Santo Antonio, Santa Maria, UNIPAMPA... Pessoas que nutro sentimentos incomensuráveis e indistinguíveis.
Não teria, hoje, condições de viver sem ler os e-mails dos meus amigos, “tuitar-lhes”, chamá-los no MSN, marcar encontros mesmo que nunca aconteçam, promover programas para comer, matear, chorar as pitangas ou tomar porres e dar risada.
Todos os meus amigos são eternos, os demais... meros ilustres conhecidos!
- Josi Borges -

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Cotidiano - por Rosalva Rocha

Nossa Cidade Alta mudou!
(por Rosalva Rocha – 16/05/2011)

Andava tristonha
Retraída
Abringando somente olhares
Sem cores
Sabores

De uma hora para outra mudou! E como mudou!
Com o Projeto Coral e o Baú da Borges, a cidade resplandeceu.
Nossa Avenida Borges de Medeiros está encantadora com seus casarios coloridos, abrigando o Baú da Borges como se ele sempre estivesse ali.
Pessoas caminham, sentam, conversam, tomam chimarrão, vêem artesanatos, assistem à exposições, shows e tudo o mais, na maior descontração possível. Tudo o que sempre precisamos para tornar os nossos finais de semana mais aconchegantes, numa cidade ímpar, com história e pessoas que buscam preservá-la.
A vida retornou ao que nunca deveria ter abandonado.
Graças à determinação de alguns, o “gigante” acordou e, com ele, a população que agora precisa curti-la e, especialmente, conservá-la.

Já não mais tristonha
Agora sorri
Especialmente aos domingos
Quando muitos passeiam por ali
Com jeito descontraído
De quem assenta os pés
Na terra que é paraíso

terça-feira, 7 de junho de 2011

Auto-ajude-se com boa leitura

Não-coisa

                               Ferreira Gullar

O que o poeta quer dizer 
no discurso não cabe 
e se o diz é pra saber 
o que ainda não sabe. 

Uma fruta uma flor
um odor que relume... 
Como dizer o sabor,
seu clarão seu perfume? 

Como enfim traduzir
na lógica do ouvido
o que na coisa é coisa 
e que não tem sentido? 

A linguagem dispõe
de conceitos, de nomes 
mas o gosto da fruta 
só o sabes se a comes 

só o sabes no corpo
o sabor que assimilas 
e que na boca é festa 

de saliva e papilas 
invadindo-te inteiro 
tal do mar o marulho 
e que a fala submerge 
e reduz a um barulho,

um tumulto de vozes 
de gozos, de espasmos, 
vertiginoso e pleno 
como são os orgasmos 

No entanto, o poeta 
desafia o impossível 
e tenta no poema 
dizer o indizível: 

subverte a sintaxe 
implode a fala, ousa 
incutir na linguagem 
densidade de coisa 
sem permitir, porém,
que perca a transparência 
já que a coisa ë fechada 
à humana consciência.

O que o poeta faz
mais do que mencioná-la
é torná-la aparência
pura — e iluminá-la.

Toda coisa tem peso:
uma noite em seu centro.
O poema é uma coisa
que não tem nada dentro,

a não ser o ressoar
de uma imprecisa voz
que não quer se apagar
— essa voz somos nós.

Delalvescrevendo

Elo de loucura


Íntimas silhuetas... Olhar distante,
agonia surda de alma inquieta...
Inseguros diante do Silêncio
e clinicamente histéricos
fugimos da sombra,
dos imprevistos e da razão
que dilacera nossos risos.
Insanas promessas pragmáticas...
Sonoras ilusões insuficientes
de um sonho problemático!
Crença impotente de humanos
incapazes de acreditar na lógica.
Lógico, eloqüente-dramático
– aparentemente suspeito,
frenético, corrosivo, fatigado.
Desenfreado absurdo!...
Velhos impulsos, implosões...
Bastardo juízo estilhaçado.
Insultos, razões indefinidas...
Convulsivo, inconscientemente
entre todos, a silhueta:
– epidemia, sexuado o medo
à sombra vazia... O precipício.

Publicada em Considerações Pré-maturas & Outras ausências. Editora Ponto: Osório, 2008. Esta poesia reflete nitidamente a nossa caótica sociedade atualmente: a correria no dia a dia, o excesso de informações, as tragédias inexplicáveis, os desencontros, as desilusões, a autossuficiência, o individualismo, o isolamento. Vivemos numa época transitória, e isso causa um profundo desconforto nas pessoas.
- Delalves Costa -