terça-feira, 21 de junho de 2011

Cotidiano - por Rosalva Rocha

Saindo da rotina
(por Rosalva Rocha – 03/06/2011)

Minha natureza é inquieta. Sempre tive muita dificuldade de parar, seja para um pequeno descanso, para uma conversa fiada, para um olhar descompromissado.
Sensação estranha de trabalho 24hs por dia. Produção + produção + produção.
A vida mudou, os caminhos são outros e, sem que eu me desse conta, algumas brechas foram abertas na minha vida para que eu, sem querer, começasse a contemplar e curtir o que está à minha volta. Coisas que me eram fugidias, um tanto desconhecidas e que, inacreditavelmente, sempre estiveram na minha frente.
Na semana passada, chegando ao centro de Porto Alegre, olhei no celular e percebi que havia chegado cedo demais para a Oficina Literária que estou cursando.
  • Fazer o quê?
  • Olhar vitrines? Não, tempo disperdiçado.
  • Tomar um café? Não, sempre tomo no café em frente ao Centro de Cultura Mario Quintana.
  • Ir ao Mercado Público? Não, só olharia, pois não sairia com sacola aquela hora da tarde.
Comecei então a perambular pela cidade. Foi quando, sem que eu me desse conta, me vi em frente ao Santander Cultural.
Subi as largas escadas centenárias e questionei a recepcionista se havia alguma exposição. - Sim, sempre há!
Subí ao 2º. andar e me deparei com uma exposição de desenhos que causou-me grande alegria. Um dos expositores era justamente o meu professor do Curso no Ateliê da Prefeitura de Porto Alegre.
Fiquei olhando e admirando trabalhos variados, curtindo traços, cores e texturas por um longo tempo. Enchi os meus olhos.
Desci a escada e, sem que eu percebesse, dobrei à direita e enveredei para o Café do local. Lá sentei, abri a Zero Hora do dia, tomei o meu “expresso” e, quando vi, já estava na hora do início da Oficina.
Corri e conseguí chegar com pouco atraso, mas com o coração cheio. Mudei a rotina, desvendei um novo caminho, saí do trivial ... e tudo foi tão bom! A partir daquele dia tenho buscado sair do “lugar comum” e sorver o que existe de bom ao meu redor, a olhos vistos, sem que eu tenha, anteriormente, pensado que era possível.

Um comentário:

  1. Uma das características do poeta é a inquietude, aversão a lugar comum. Desvendar outros caminhos é reviver na gente o mistério da surpresa. Por que a surpresa não está apenas "no surpreender o outro", também podemos nos dar o luxo de nos surpreender. Sabe o que acontece com quem não se surpreende? Acaba não contemplando o encanto que há nos pequenos gestos, como dar/receber um beijo no cantinho do lábio, sentir o arrepio que somente a poesia mais lírica pode causar... e assim por diante. Parabéns pelo texto!

    Delalves

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