domingo, 29 de novembro de 2009

Memórias da Pinheiro por Rosalva Rocha

A PINHEIRO MACHADO E O “BAÚ DA DONA MERCILDA”


Sempre gostei do novo, do insusitado, do desafio mas, por outro lado, o antigo sempre me atraiu muito, a ponto de ter exposto no meu pequeno apartamento todas as relíquias - simples relíquias - que eram adoradas pelo meu pai, falecido há 29 anos, a exemplo da máquina de escrever, do relógio-cuco, do furador de papéis, do copinho do martelinho e por aí afora.

Mas nunca tive um baú, daqueles enormes baús de madeira, arredondados na parte superior.

Sempre quis ter um e penso que o desejo tem a ver com a curiosidade dos tempos de criança, quando eu encontrava um deles e ficava imaginando o quê poderia haver lá dentro.

Lembro-me de que o baú da minha Rosalina era utilizado para guardar o enxoval do casamento com o Dodô. E o mais curioso: a camisola de núpcias (que, obviamente, continha um número infinito de botões).

Pois bem, na vizinha da minha mãe, a Dona Mercilda, também tem um baú. E, como a minha , ela costuma guardar peças antigas desde o tempo da minha infância.

A casa dela é o exemplo de um cenário muito diferente para os dias atuais: tudo é grande, o pé direito da casa é enorme, as janelas têm degraus e as paredes provavelmente devam ter sido construídas com barro.

A sua filha Luciana, minha grande amiga desde os 8 anos de idade, nos tempos de criança curtia aquele baú tanto quanto eu.

Em função da vizinhança, da amizade, afinidade e mesma idade, quando a Dona Mercilda “viajava” para a Catanduva, a Luciana sorrateiramente me avisava para que eu fosse pernoitar por lá.

E era maravilhoso! Eu simplesmente pegava o meu pijaminha, dava alguns passos e adentrava na “casa com cenário diferente”.

Naquela época, final dos anos de chumbo, não ganhávamos bons presentes ou tínhamos lindos jogos. Restava-nos a imaginação e criatividade ... e criamos muito, a ponto de criarmos “desfiles de camisolas” nestas noites, tendo como protagonista o querido baú. Sim, o baú! De dentro dele tirávamos as camisolas, muitas delas já carcumidas pelos bichos, vestíamos e saíamos a desfilar pela imensa casa. A nossa desenvoltura, aos poucos, criava contornos até mesmo profissionais e os desfiles eram dignos de aplausos, muito embora estivéssemos nós, somente nós, na platéia. Uma ria e aplaudia a outra. E vejam que nem sabíamos da existência da Zuzu Angel!

E o mais curioso é que, neste ano de 2009, 3 grandes amigas - eu, a Luciana e a Claire (por sinal “minha comadre”) - por “determinação” do destino, fizemos aniversário, somando 150 anos. A Claire em maio (nunca nos perdoou por ser a mais velha), a Luciana em julho e eu, a mais novinha, em agosto.

Queríamos fazer uma festa à três mas, como atualmente nossos públicos de amigos são muito diversos, a soma deles impossibilitaria a mesma, por questões financeiras.

Tomamos outra decisão então: passaríamos um final de semana juntas, sem filhos e sem maridos. Local escolhido? A serra. Nada melhor do que a serra para rememorarmos os bons tempos, o tempo em que tínhamos tempo para convivermos.

E os preparativos começaram em julho, já que o final de semana programado foi o de 01 e 02 de agosto.

Como sempre, a Luciana, a mais organizada de todas, ligou-me:

- “Rosalva, preciso arrumar a minha mala. O que devo levar além das roupas?”

- Eu respondi: “Leva o secador de cabelos e mais nada. Não te preocupes que eu levarei o chimarrão”.

- E, por fim, ela novamente: “E as camisolas do baú da Mercilda? Levo ou não?”

Essa colocação nos fez retornar ao passado e rirmos por minutos a fio naquela noite fria. Parecíamos duas crianças, justamente as crianças que sempre sonhamos que permanecessem em nós pelo resto das nossas vidas.

E penso que permaneceram!

Rosalva – 21/11/09

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Novela em Bate-Bola - Capítulo 2

CAPITULO II (Josi)


Eram raras as vezes em que Joana conseguia ficar sem pensar em nada. Desde a morte do pai ela trabalhava de dia e estudava a noite para ajudar a mãe nas despesas da casa.

Sempre chegava tarde e envolvida com os trabalhos da faculdade, arrumando a roupa do dia seguinte e, principalmente, caindo de sono.

Naquele dia, o frio e a briga com o chefe foram as razões para ir direto pra casa, sem passar antes na universidade.

Os poucos segundos que passara ali, imóvel pareceram uma eternidade. A mãe interrompeu o transe mandando-a para o banho enquanto a lentilha aquecia.

Joana nunca fora boa para guardar datas, mas calculava que faziam sete meses e alguns dias que seu pai falecera de cirrose hepática e oito meses da grande tristeza de sua vida.

Ligou o chuveiro quente, que enchia o banheiro de fumaça e antes que sua figura sumisse no espelho embaçado Joana sussurrou: - ele não poderia morrer em paz se não me deixar essa dor.

O pai severo e alcoólatra sempre foi um problema na vida da família. Além de não trabalhar devido a problemas de saúde causados pela bebida, ainda era extremamente agressivo com a mulher e a filha.

Ainda durante o velório a mãe de Joana lhe sussurrou ao ouvido: - estamos livres; morreu jovem mas perturbou muito! Provando que a vida ficaria mais leve a partir daquele dia.

Joana deixa que a água do banho leve suas lágrimas. Não sente falta do pai, mas sente culpa por ter acatado o que aquele homem obrigou-a a fazer.

Ela ainda tenta justificar dizendo que era muito jovem, que tinha muito medo do pai. Mas nada estanca as lágrimas, no fundo ela sabe que poderia ter enfrentado e hoje certamente seria muito mais feliz.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Conto a quatro mãos - capítulo 10 - o final da história

Capítulo 10 - Cássia:

Ele não conseguia se controlar. Sentia aquele ódio, aquela dor, lhe apertando o peito, era mais forte que ele, lhe tirava o ar.

Ela ali, parada, a porta do apartamento ainda aberta.

Por um instante ele pensou que podia matá-la. Seria a única maneira de se livrar daquele sentimento. Ele não merecia aquele sofrimento, tinha sido um bom marido, amigo, companheiro, fiel, e se considerava também um bom amante. Sim, ele fazia sucesso com as namoradas antes de Carol. E mesmo com as amigas da esposa, ela sempre dizia que as amigas o achavam um charme.

Mas ela o tratava como um qualquer. Todo aquele tempo juntos, e ela, além do curso, ainda havia arrumado um amante! E nem se dava ao trabalho de negar.

Sentiu suas mãos se contraírem, chegou mesmo a imaginá-las na gargante de Ana Carolina. Mas aquilo não seria uma vingança suficiente. Afinal, ele era um homem, e não um rato que não sabia o que fazer quando levava um fora.

- Ciro! - ela o tirou daquele devaneio.

- Me dá a aliança. E tem outra coisa: quero saber toda a verdade.

- Ciro, por favor. Está tudo acabado, não interessa o que aconteceu, por favor.

Ele fechou a porta do apartamento:

- Eu tenho o direito de saber a verdade, que droga!

Ela suspirou e concordou com a cabeça:

- Senta, Ciro.

- É um cara da faculdade, tenho certeza.

- Se quer saber, me deixa contar. Foi só depois que surgiu o curso na Alemanha. Você disse que não iria, começamos a nos desentender. Acabamos brigando, e passei aquelas noites fora.

- Bem, eu pensava ter ouvido você dizer que estava na casa da sua mãe.

- Claro que eu estava. Mas uma noite o Manoel ligou e me convidou pra dar uma volta, conversar. Eu precisava muito conversar. Fomos pro apartamento dele, e aconteceu, nem sei como.

- O QUE?! Como assim 'aconteceu, nem sei como'. Ora essa. O Manoel é veado, pô!

Ele se deixou cair no sofá. Estava começando a detestar aquele sofá.

- Continua.

- Foi isso, chega Ciro. Vou pra Alemanha, Manoel também. Agora chega.

Ela largou a aliança em cima da mesa.

- Vai embora. E não volta mais aqui, mando entregar suas tralhas na casa daquela vaca da sua mãe.

- Ciro!

- Sai, Ana Carolina.

Ela saiu em silêncio. Não estava feliz com aquela situação. Amava Ciro, afinal, mas não queria aquela vida, aquela rotina que tinham. Queria um mundo novo.

E Manoel lhe daria este mundo. Na Alemanha tudo seria melhor.

Ele continuou no sofá. Ligou a TV. E como não tinha mais lágrimas para chorar, apenas deixou que os pensamentos se seguissem. Sofria. Penava.

Estava no final da novela das oito, mas ele não prestava atenção à TV.

Logo o sono voltou, desta vez ainda com mais força. Só teve um último pensamento antes de adormecer. Esqueceu de contar para Carol que a polícia havia ligado pouco antes dela chegar: - o veado estava morto!

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Tropeços no começo do fim

Acabo de escrever o último capítulo do 'conto a quatro mãos'.
Na verdade, escrevi três últimos capítulos, em busca do desfecho perfeito pra história de Ciro, Carol e Manoel.
E agora aguardo ansiosa a opinião e o apoio do Silvano, que embora deixe a decisão para mim, me dará mais firmeza - ou pelo menos respaldo pra escolher errado por mim mesma.
Esse conto foi uma baita experiência pra mim, que engatinho por onde o Silvano já dá passos largos.
Logo vocês lerão o fim escolhido, e talvez intuam os outros dois, mas não é sobre isso que escrevo agora.
É sobre uma coisa que ouço nas entrevistas de vários escritores: que eles não terminam, e sim abandonam as histórias.
E só hoje entendi o que isso significa, da minha inexperiência de desavergonhada principiante.
Não tem como dar fim a uma história, porque dá pra escrever pra sempre sobre algo que só depende da imaginação. Não é pesquisa, não exige dados concretos ou possibilidades reais.
O word aceita tudo, e a gente é obrigado a fazer isso mesmo: abandonar e não voltar mais pra história, porque ela tem vida própria, e não aceita limites.
E é isso que torna esta aventura de escrever cada vez mais fascinante.
- Cássia -

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Novela em Bate-Bola - Capítulo 1

CAPITULO I (Joelson)

Era um fim de tarde frio e ventoso. O vento açoitava as árvores da rua. Os transeuntes andavam agachados contra o vento, enquanto outros se abrigavam na revessa dos prédios. O barulho dos carros enchia a boca da noite.

Joana tinha tido um dia pesado. Discutira com o chefe, passou o dia com dor de cabeça. Estava ansiosa para chegar em casa.

Chegou no ponto do ônibus. Esperaria o Queluz que a conduziria para casa. Mais pessoas esperavam as suas conduções.

A noite já descia sobre a cidade. As luzes iam acendendo de canto em canto. Os néons coloriam o correr da avenida. O trânsito muito lento. Quase parado.

Passavam ônibus para todos os bairros, menos o seu. O estômago lhe roia. Tinha almoçado muito pouco. Estava incomodada, sem vontade de comer.

Veio um lotação para Queluz. Joana fez sinal. O micro-ônibus parou e ela subiu. Tinha um lugar ao fundo.

Logo em seguida, um senhor gordo que era sua companhia no banco, levantou e desceu. Joana passou para o lado da janela. Ia apreciando a rua: seu movimento, seu colorido. Ainda tinha muita gente andando pelas calçadas.

O lotação, além de ir parando devido ao trânsito afogado, também ia parando de ponto em ponto para uns descerem, outros subirem.

Quando chegou ao bairro o trânsito fluía mais rápido. Logo em seguida desceu no seu ponto. Estava próxima de sua casa. Caminhou pela calçada. Fechou o casaco, levantou a gola. O vento era gelado.

Quando entrou no seu edifício, o zelador estava na portaria. Levantou-se e abriu a porta do elevador.

- Boa noite seu Alcides, falou Joana. - Boa noite, como foi de trabalho ? - Muito pesado. - Estou louca para chegar em casa.

Quando colocou a chave na porta, Makeba, a sua Collin preta já latiu lá dentro. A cachorra veio ao seu encontro, fazendo festa para Joana.

- Oi filha, falou a mãe de Joana. - Como foi o dia ? - Ah! Péssimo mãe. Me incomodei com o chefe, só tive problemas. Estou morta de dor de cabeça e louca de fome. Quase não comi no almoço.

- Fiz lentilha com linguicinha e batata como você gosta. - Ah! Vou devorar.

- Marina te ligou a pouco, falou a mãe. - Estou sem bateria no celular e me esqueci do carregador no serviço. - Depois eu ligo para ela.

Atirou-se no sofá. - Mak vem cá. A cachorra se encostou no sofá e recebeu um agrado no pelo negro e lustroso.

(logo o segundo capítulo da novela em bate-bola, por Joelson Machado de Oliveira e Josiane Souza Borges)

domingo, 22 de novembro de 2009

Longe do Interior

Conto a quatro mãos - capítulo 9

CAPÍTULO 09: Silvano

Naquela noite ele chamou Carol para uma conversa. Ela chegou meio constrangida, reticente. Parece que nem queria entrar no apartamento. Uma das primeiras coisas que falou foi:

- Posso pegar a aliança?

Ele, quieto, botou a mão no bolso e lhe entregou a aliança. Ela pegou nervosamente e guardou.

- Carol, quero te dizer uma coisa. Talvez a gente possa recomeçar, sei lá, replanejar...

- Ai, não começa, por favor. Já falamos disso tantas vezes.

- Calma, calma, eu posso mudar desta vez.

- Ninguém muda, Ciro. Ninguém muda - ela sentenciou.

Baixou um silêncio entre os dois. O coração de Ciro apertava, ele como que sentia uma fria lâmina penetrando-lhe o peito. A cada frase, cada palavra dura dela, a fio da lâmina adentrava mais e mais seu coração. Ele tentava respirar, mas ela mantinha a dor ali, cravada em seu sentimento.

Enfim - pensou ele - talvez isso tenha mesmo acabado.

- Era só isso que você queria, a aliança? - ele disse.

- Acho que sim. Depois com calma eu venho buscar o resto das minhas coisas.

Ciro respirou fundo e mudou o tom de voz:

- Eu sei de uma coisa....não é só o seu curso na Alemanha..

- Como assim? - Carol meio que assustada.

- Eu li um torpedo no seu celular um dia que você estava no banho...eu sei que há outra pessoa.

A mulher gelou, não esperava por aquilo.

Ciro estendeu a mão e disse:

- Me devolve a aliança! AGORA! - gritou.

Ana Carolina gelou a deu um passo atrás. Viu a fúria nos olhos do seu marido. Viu a dor. Viu tanta coisa. Só não via saída para aquela situação...

Lagoa dos Barros

ÁGUAS QUE ABRAÇAM MUNICÍPIOS DO LITORAL NORTE DO RIO GRANDE DO SUL
LAGOA DOS BARROS - UMA LAGOA COM MUITAS HISTÓRIAS
UM PATRIMÔNIO A SER PRESERVADO

A água é um bem, um patrimônio. E todo bem deve ser cuidado, mantido e preservado.
Como toda herança advinda da natureza ou as geradas pela humanidade e concebidas como um bem coletivo devem ser conservadas para as gerações que sucederão às atuais, com responsabilidade e senso crítico.
Com esse entendimento e compreensão as comunidades usufrutuárias da Lagoa dos Barros, localizada no Litoral Norte do Rio Grande do Sul, são detentoras de um patrimônio natural e histórico que a todo custo deve ser mantido, preservado e legado como herança para as futuras gerações.
A Lagoa dos Barros é um patrimônio natural e histórico, conhecido e reconhecido por nossos antepassados, que fizeram suas vidas nas comunidades que a abraçam e também dos que a usufruem como área de lazer ou como insumo da produção do arroz, economia tradicional da região, desde décadas passadas até o presente.
Lembro de meu saudoso pai – o historiador José Maciel Júnior (residente em Santo Antônio da Patrulha, município que faz divisa com o de Osório) contar lendas sobre a Lagoa dos Barros ou informar do primeiro proprietário das terras no seu entorno, vindo a dar o nome àquele manancial de água doce.
O também historiador Monsenhor Ruben Reis escreveu sobre o primeiro povoador da Lagoa. Diz ele que no distante século XVIII, Manoel de Barros Pereira, um dos primeiros a ganhar terras em Santo Antônio da Patrulha recebeu, em 1744, carta de sesmaria, junto à lagoa que hoje tem o seu nome e ali se radicou. Teve com sua escrava Teresa uma filha que ele reconheceu, vindo a chamar-se Margarida da Exaltação da Cruz. Ela, com 13 anos, casou-se com Inácio José de Mendonça, e passaram a residir nas terras da sede da futura Vila de Santo Antônio da Patrulha. Evidenciado está que o casal de primeiros moradores da avenida principal da antiga cidade – a atual Borges de Medeiros está diretamente relacionado com o “Menino Diabo” – apelido dado a Manoel de Barros, celebrado e perpetuado na toponímia da tranqüila Lagoa dos Barros.
Também escreveu José Maciel Júnior em sua obra Reminiscências da minha terra: Santo Antônio da Patrulha um artigo que leva o título Lenda da Lagoa dos Barros. Diz ele assim:
“Na divisa dos municípios de Santo Antônio da Patrulha e Osório, à margem da rodovia, existe um vasto lençol de água doce, conhecido pelo nome de Lagoa dos Barros.
Uma linha seca e reta, partindo da sanga do Pinho, na costa da serra, atravessa a referida lagoa, alcança o Sangradouro Velho e serve de divisa entre os dois municípios.
Conta lenda que em noite de luar, um casal de noivos em idílio amoroso passeava pelos campos que margeiam a costa da serra. Pela madrugada adormeceram, quando foram despertados por um estrondo pavoroso, seguido por grandes relâmpagos que iluminavam o céu e as águas em grandes borbotões desciam da encosta da serra, envolvendo os noivos, que foram tragados pela imensidão das águias, formando assim a lagoa que passou a se chamar de FORMOSA.
Com muita freqüência ocorriam misteriosas aparições. Em certas noites, quando menos se esperava, surgiam das trevas fantásticos cavalos brancos montados por gênios encantados com feições de mulheres, a galopar pelo descampado, vindo das águas um vento aquecido e o barulho dos cascos aumentando, infundia pavor aos habitantes da área próxima. Quem já avistou a sinistra cavalgada, guarda para sempre a terrível impressão das almas penadas, a cavalgarem noite adentro até sumir na Lagoa.” (p. 73)
Uma Lagoa com tantas histórias e lindas lendas, com forte representação do imaginário popular na região do seu entorno, não pode ser poluída. Ela deve sim ser reverenciada em homenagem a tantos que no passado e no presente mais recente a reconhecem como um bem. E um bem se cuida e se preserva.
A palavra de ordem é: LAGOA VIVA – SUA HISTÓRIA, SUAS LENDAS SÃO SUA PROTEÇÃO!
Véra Lucia Maciel Barroso
Historiadora, filha de José Maciel Júnior, patrulhense que dedicou-se a defender e a preservar a história e a natureza de sua terra (faleceu em 1987)

Mentes tumultuadas

Mesmo no silencia
Mais profundo do mundo
A mente tumultuada não pára
Grita...
Chora...
Sorri...
Cria citações...
Indagações...
Perturbações...
Mergulha no passado
Revê fatos...
Fotos...
Alegrias...
Tristezas...
E sonhos.
Ressurge no futuro
Antecipando fatos...
Fotos...
Alegrias...
Tristezas...
E sonhos.
Fica estática no presente
Nenhum fato...
Nenhuma foto...
Nem alegrias...
Nem tristezas...
E nem sonhos.
- Sônia Raupp Schebela -

Mais companhia pras nossas Insônias

Mas bah que este nosso blog não para.
É e-mail que vem, e-mail que vai, e fiquei sabendo que o blog caiu nas graças da escritora e artesã Sonia Raupp Schebela.
Ela já estava nos acompanhando, e agora mandou sua primeira colaboração.
Como é o natural, vocês já devem ter lido a poesia, que estava acima deste post.
Então a Sônia já não requer apresentações.
Apenas merece nosso agradecimento pela companhia virtual e pelos belos versos que a partir de agora divide conosco.

Patrulhenses na Feira do Livro de Osório


Nesta segunda (23) começa a 24ª Feria do Livro de Osório, que vai ocorrer no Largo dos Estudantes, até dia 29 de novembro.

E como sempre, tem patrulhense na feira - claro:

Dia 24 - terça-feira, às 19h 30min tem o lançamento da Antologia dos Escritores do Litoral Norte, da qual participaram dois patrulhenses e colaboradores do Insônias - Joelson Machado, Rosalva Rocha e Renato Lopes.

Dia 25 - quarta-feira, às 18h, Joelson (nosso Rico) volta à feira, desta vez autografando Céu de Oceano, seu último livro.

Dia 28 - sábado – às 17h – tem o 7º. Encontro de Escritores do Litoral Norte.

Confira a programação completa da feira no site da cidade de Osório:

sábado, 21 de novembro de 2009

Conto a quatro mãos - capítulo 8

CAPÍTULO 08- Cássia:

Mas então Manoel estava vivo! Não podia ser real. Talvez estivesse dormindo. Talvez fosse acordar ainda no domingo de manhã. Aquilo tudo poderia ser apenas um pesadelo: Carol andando de um lado para o outro no quarto, contando que havia decidido ir pra Alemanha. Já havia assinado o contrato e tudo! Três anos morando na Alemanha. E o marido por quem ela se dizia tão apaixonada, era o último a saber! Mas não, definitivamente estava acordado, totalmente acordado. E afinal, não tinha sido o último a saber. Ela havia implorado para que ele pensasse a respeito desde o dia que recebeu o convite da faculdade. Mas ele nem cogitou sair do país, nem por um único instante.

Agora pagava o preço. No fundo ele achava que ela não teria coragem. Sabia que era a chance de sua vida, mas achava que ela desistiria de tudo pelo amor dos dois. Estava enganado. E o Manoel. Aquele veado do Manoel. Foi ele quem indicou Ana Carolina. Fez campanha pra que ela fosse aceita. Veado desgraçado. E ainda por cima estava vivo. Bem, ele iria contar que Ciro não tinha nada a ver com o roubo, o tiro, o que quer que fosse. Pelo menos Ciro achava que não tinha. Lembrou do filme. Que filme idiota... Que pensamentos sem sentido. Estava cansado. Pensou em Carol. Sua Carol. Ontem chorava se despedindo, e hoje já estava pedindo a aliança de volta. A aliança! Presa de novo no dedo, e agora Ana Carolina pedira de volta. Foi novamente para o banheiro, abriu a torneira, fez espuma com o sabão. Tudo de novo! E por culpa dele. Agora podia admitir para si mesmo que a culpa era dele. Sabia que era o grande sonho de Carol. E que depois que ela houvesse se decidido, não mudaria de idéia.

E ele, o que ele fez? Nada. Foi arrogante e pretensioso. Poderia muito bem tirar umas férias prolongadas do escritório, redistribuir o serviço, passar um ano só com ela, a lua-de-mel que nunca tiveram. Trabalhou a vida toda no escritório do pai, ele e os dois irmãos. Agora, tinha a chance de curtir a vida ao lado da mulher que ele amava tanto, e só pensou em dizer não, em ser mais forte, testar os sentimentos dela. Se tivesse outra chance, faria tudo diferente. Mas era tarde demais...

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Conto a quatro mãos - capítulo 7

Capítulo 7 - Silvano

- Alô?...Alô...

- Sim, Carol, sou eu, pode falar - ele gostava de ouvir a voz da mulher.

- Olha só, sei que vai parecer meio chato, mas tenho que te falar uma coisa antes da viagem.

- Liga não. Tô sabendo do Manoel.

- O que é que tem o Manoel? - disse ela meio preocupada.

Ele silenciou do outro lado da linha, que raiva, ela ainda não sabia do crime. E agora? O que fazer?

- Ciro...Ciro...você ainda está aí?

- Claro, claro. Esquece o Manoel. O que você quer me falar?

Agora foi a vez dela silenciar. Suspirou e então lascou:

- Lembra das nossas alianças, né? Claro que lembra. Então você deve recordar que quando casamos a minha Avó derreteu as alianças dela e do meu Avô e nos deu de presente. Foi com aquele ouro que fizemos as nossas alianças.

- Sim, e daí?

- E quero a sua aliança de volta. Aliás, sua não. Minha aliança, porque o ouro dela era da minha Avó.

A faca do sofrimento penetrou fundo em seu coração, deixando-o em silêncio, quase congelado. Uma lágrima teimou em escorrer de seu olho esquerdo.

- Alô, Ciro! Tá me ouvindo?

Com raiva ele disse:

- Entreguei tudo ao Manoel. E outra coisa. Mataram ele aqui na entrada do prédio. Não fui eu, não sei quem foi. Não sei nada da droga da aliança.

Ele disse aquilo e roçou o dedo polegar na aliança, como que acalmando-a em sua morada.

A ligação caiu. Ele largou o telefone e foi atender de novo a porta (mas que dia de encheção de saco!!).

O policial sem nem entrar apenas lhe disse:

- Esqueci de lhe dizer uma coisa. O carinha aquele não morreu. Foi levado baleado ao Pronto Socorro. Até onde eu o vi, estava vivo. Essas "bichinhas" não morrem fácil assim - disse ironicamente e foi embora rindo pelas escadas.