Capítulo 10 - Cássia:
Ele não conseguia se controlar. Sentia aquele ódio, aquela dor, lhe apertando o peito, era mais forte que ele, lhe tirava o ar.
Ela ali, parada, a porta do apartamento ainda aberta.
Por um instante ele pensou que podia matá-la. Seria a única maneira de se livrar daquele sentimento. Ele não merecia aquele sofrimento, tinha sido um bom marido, amigo, companheiro, fiel, e se considerava também um bom amante. Sim, ele fazia sucesso com as namoradas antes de Carol. E mesmo com as amigas da esposa, ela sempre dizia que as amigas o achavam um charme.
Mas ela o tratava como um qualquer. Todo aquele tempo juntos, e ela, além do curso, ainda havia arrumado um amante! E nem se dava ao trabalho de negar.
Sentiu suas mãos se contraírem, chegou mesmo a imaginá-las na gargante de Ana Carolina. Mas aquilo não seria uma vingança suficiente. Afinal, ele era um homem, e não um rato que não sabia o que fazer quando levava um fora.
- Ciro! - ela o tirou daquele devaneio.
- Me dá a aliança. E tem outra coisa: quero saber toda a verdade.
- Ciro, por favor. Está tudo acabado, não interessa o que aconteceu, por favor.
Ele fechou a porta do apartamento:
- Eu tenho o direito de saber a verdade, que droga!
Ela suspirou e concordou com a cabeça:
- Senta, Ciro.
- É um cara da faculdade, tenho certeza.
- Se quer saber, me deixa contar. Foi só depois que surgiu o curso na Alemanha. Você disse que não iria, começamos a nos desentender. Acabamos brigando, e passei aquelas noites fora.
- Bem, eu pensava ter ouvido você dizer que estava na casa da sua mãe.
- Claro que eu estava. Mas uma noite o Manoel ligou e me convidou pra dar uma volta, conversar. Eu precisava muito conversar. Fomos pro apartamento dele, e aconteceu, nem sei como.
- O QUE?! Como assim 'aconteceu, nem sei como'. Ora essa. O Manoel é veado, pô!
Ele se deixou cair no sofá. Estava começando a detestar aquele sofá.
- Continua.
- Foi isso, chega Ciro. Vou pra Alemanha, Manoel também. Agora chega.
Ela largou a aliança em cima da mesa.
- Vai embora. E não volta mais aqui, mando entregar suas tralhas na casa daquela vaca da sua mãe.
- Ciro!
- Sai, Ana Carolina.
Ela saiu em silêncio. Não estava feliz com aquela situação. Amava Ciro, afinal, mas não queria aquela vida, aquela rotina que tinham. Queria um mundo novo.
E Manoel lhe daria este mundo. Na Alemanha tudo seria melhor.
Ele continuou no sofá. Ligou a TV. E como não tinha mais lágrimas para chorar, apenas deixou que os pensamentos se seguissem. Sofria. Penava.
Estava no final da novela das oito, mas ele não prestava atenção à TV.
Logo o sono voltou, desta vez ainda com mais força. Só teve um último pensamento antes de adormecer. Esqueceu de contar para Carol que a polícia havia ligado pouco antes dela chegar: - o veado estava morto!
Eu já citei no COISA DE GORDO: direto prá GLOBOOOOOO .... Fantástico! Bjs, Rosalva
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