domingo, 24 de junho de 2012

Cidade Baixa ao Vivo


ACHADOS & PERDIDOS por Rosalva Rocha



Somente uma certeza...
(RR - 13/06/2012 
Não sei de nada
talvez nem queira saber
só sei que sairei daquí
virarei prá trás e direi:
"partí!"

Talvez busque (sozinha) um lugar no mato
quem sabe no asfalto
longe ou perto
mudarei tudo
por um tempo darei adeus ao mundo

Quem sabe em caravana
na cabeça uma bandana
muitos amigos à volta
gritando como criança
recheados de esperança

Não sei - não sei de nada
nem mesmo o dia
muito menos a hora
mas uma coisa é certa
não terá demora

O motivo?
reviravolta nas palavras
que andam vagas
emudecidas
sedentas por nova enxurrada

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Só mais um tropeço


Parábola de Rapina


Da janela do Rancho vejo dois olhos grandes num corpo pequeno, emplumado, esguio e pardo pousado sobre uma trama da cerca.
Aliando a tensão vigilante de sentinela com a visão que alcança todos os lados. Não deixa que nada se perca.
E num cisquedo de folhas que juntei no pátio, os reisados bigodes de um rato, guiam seu olfato a buscar comida, pra manter a vida, nos pequenos olhos que o luar ofusca. Mal sabe ele que está para se transformar naquilo que busca.
Dali assisto a espantosa cena. Se nem tanto amena, não mais que normal.
Segue a ordem natural das coisas deste mundo.
Num instante estamos vivos e fortes. O destino inverte nossa sorte e nos faz moribundos.
Subitamente me vejo pequeno igual ao rato. Meu rancho é um cisco, cercado de campo e mato.
Dos predadores que temo, nem sei a metade. Sei que tem olhos maiores do que a pança. Invés de fome, ganância. Invés de instinto, maldade.
(Tulio Urach)

Reflexões tempestivas - por Artur P. dos Santos


SOMBRAS
P/Artur Pereira dos Santos


Loucos, loucos papéis rasgados.
Transportando loucos pensamentos,
Soltos na areia do mar tão perto.
Folhas secas levadas pelo vento.
Sombras disformes que transpôs as ruas.
Antes de caírem sobre a onda incerta.
Antes de atingirem seu real intento:
De como algas ao sabor das ondas.
Cobrirem de carícias tua pele nua.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

ACHADOS & PERDIDOS - Rosalva Rocha


A tristeza das uvas
(06/05/2012)

As parreiras não são as mesmas
com a variação da temperatura
esmoreceram

Tristonhas estão as uvas

Como em todos os anos
aguardavam bocas sedentas
em noites de lua cheia
ornadas em bandejas brancas
prá brindar o amor
cúmplices de prazeres sem pudor

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Reflexões tempestivas por Artur P. dos Santos


VARA DE PORTEIRA.
p/Artur Pereira dos Santos

A cada tempo temos uma posição do corpo que lembramos com saudade.  Hoje, vendo a foto de uma mulher a se deliciar, de cabeça para baixo pendurada em um brinquedo de criança, deixando os longos cabelos quase arrastarem no chão, lembrei de quando pequeno deitava na área da casa, de assoalho de madeira, e ficava com as pernas levantadas, apoiadas na parede, e durante horas sonhava com o dia em que iria crescer e cavalgar sozinho um dos cavalos de meu pai. Mas a que me trás mais lembranças e dúvidas é justamente esta descrita na foto: Costumava ficar longo tempo com as pernas dobradas sobre a vara mais alta da porteira de entrada do pequeno sítio de meus pais, eu devia ter uns seis ou sete anos. Um dia um homem esguio, com barba e cabelos longos, vestindo uma túnica branca, se aproximou e, sem dizer nada, transmitiu com seu olhar a segurança que eu precisava para permanecer naquela posição. Só mais tarde o identifiquei, em uma folha de calendário antigo, mas não sabia quem era até o dia em que me foi apresentado, na forma de uma imagem de braços abertos, pregado em uma cruz de madeira. Não vestia a mesma túnica branca e longa com a qual O vi pela primeira vez, vestia quase nada e tinha chagas nas mãos, nos pés e no peito, além de uma coroa de espinhos na cabeça, Hoje, passado tanto tempo, me assalta uma dúvida: Ele teria mesmo me aparecido e encorajado a ficar naquela posição, o que é mais provável, ou eu teria adormecido assim e sonhado que Ele segurava minhas pernas para não resvalar até o terreno esburacado pela passagem da carreta de bois? De uma coisa tenho certeza: o Homem de barba e cabelos longos, trajando uma túnica branca, que desde menino esteve em meu sonho ou realidade, é o mesmo que morreu na cruz após ser perseguido por pregar a justiça, e seu nome é JESUS CRISTO.

domingo, 6 de maio de 2012

Capítulos da Josi - Razões


Razões.
Não acredito em acaso.
Pra mim tudo na vida tem uma explicação.
O que me levou a São José do Norte com dois anos de idade? A explicação que eu encontrei foi que fui parar no Norte pra ser feliz. Lá convivi com pessoas especiais e vivi os melhores anos da minha vida. Fui LIVRE, coisa que jamais seria em Porto Alegre.
Até hoje me perguntam se não voltaria pra lá. A minha resposta? Sim! Imediatamente. Desde que voltasse tudo como era, a responsabilidade (ou falta dela), os sonhos, as exigências. A gente constrói um caminho que nos modifica tanto a ponto de não voltarmos mais.
E foi essa construção que me levou a Pelotas. Custei a entender como fui parar estudando em Pelotas. Era sacrificado, não desumano, mas difícil. Só para chegar na universidade e voltar pra casa eram 5 horas de viagem diariamente, não raro, com o rebojo (minuano) entrando pelos olhos, nariz, ouvidos e frestinhas da lã.
Mas era lá que estava o meu grande amor. A pessoa que passaria todos os dias da minha vida ao meu lado. Ele veria pratear cada fio dessa imensa cabeleira e eu veria cair cada fio dele. Juntos choramos a ponto de nossos soluços nos impedirem de falarmos qualquer palavra de conforto. Mas rimos muito mais, gargalhadas que me causaram asma.
Construímos o mate perfeito, um pouco de pura folha, outro tanto de erva verde e o nosso gosto.
E aí fomos pra Santo Antonio da Patrulha. Lá descobri que filhos crescem e é impossível não alçar voos. Eu tive o conforto da família que, principalmente na situação que  eu estou hoje, mãe, me garantiria muita tranquilidade. Fui pra SAP aprender que as coisas nunca estão todas juntas e quando as oportunidades estão em outro lugar as pessoas não tem como ficarem unidas.
De SAP fomos pra Santa Maria. Foi em Santa Maria da Boca do Monte que aprendi uma grande lição: Saudade dói, judia, mas não mata!
E como num passe de mágica da vida, vim para Bagé.
Hoje fui chamada na secretaria do gabinete da Reitora da Universidade Federal do Pampa, onde trabalho, para ser informada que por conta de estar no último mês de gestação eu teria horário flexível. Houve uma preocupação com o conforto da cadeira, a necessidade de subir escadas e determinou-se que o meu horário de trabalho seria diferenciado. Na mesma instituição onde tive alguns dissabores fui surpreendida com um gesto de carinho que partiu de uma gestora que conheci a pouco e que tem uma estrutura de 10 mil pessoas para administrar.
Descobri ali, aos 8 meses de gravidez, o que vim fazer em Bagé; Vim para ver, com meus próprios olhos que pessoas boas podem estar onde se menos espera e podem nos atingir de uma maneira que elas jamais sonharão.
- Josi Borges -

quarta-feira, 2 de maio de 2012

ACHADOS & PERDIDOS - Rosalva Rocha


Por Nei DuclósPor que você me tirou daquele ermo absoluto e me colocou aqui no centro do mundo? ela perguntou. A beleza precisa ser livre, disse ele.Qual teu ofício? perguntaram. A palavra certa, quando o resto falta, disse o poeta.
Acene de volta, coração, quando meu verso adotar teu canto.
Consultei a caixa postal. Olhei todos os spams. Talvez um deles fosse teu recado.
Ponha um sapato e arranje um emprego, disseram. Estrelas precisam de um espanador de nuvens.
Precisei viajar. Deixei a ração de sonetos no quarto de despejo. Alimente os sonhos. Eles estão famintos.
Não vai levar poesia hoje? perguntou o garoto. Não, disse ela. Preciso comprar um par de brincos.
Viciei em você. O pior é a síndrome de abstinência.
Foi por te querer que te perdi. Agora me ache onde sou teu.
Não é o sol que brilha no teu ombro, é o meu desejo. Esse flash na pele sobre a areia.
O presente do passado: tudo se mantém intacto. A memória é apenas o espelho que distorce.
Passageiros do tempo, assombramos quem fomos. O garoto vê-se adulto e grita. O ancião olha-se menino e acena.
Se não te ocorre nada, me dá um beijo. Eu farei o mesmo.
Não brinde o excesso de poesia com bocejo. Guarde para o inverno.
Agora que o dia acabou vieste ver minha febre. Não sei como cruzei a tarde olhando o teto.
Não me troque por meia dúzia de frases prontas, disse o poema. Quando for com tudo, me apresente.
Coloquei a beleza em destaque na parede. Quando levanto, é a primeira coisa que vejo. É a tua imagem que desce do pedestal e me cerca.
postado por Nei Duclós 3/26/2012 10:46:00 PM no blog outono.blogspot.com