sexta-feira, 19 de março de 2010

Memórias da Pinheiro por Rosalva Rocha

A BIOGRAFIA DE UM CACHORRO CHAMADO REX

(por Rosalva Rocha – 18/02/2010)

REX era um fox lindo, de cor branca, com manchas marrons claras. Era de propriedade de meu tio Nilo Linde e uma das grandes paixões de meu pai, que nunca havia tido um cachorro.

Em função dessa paixão, meu pai sempre ameaçava meu tio, alegando que conquistaria o REX com todas as armas possíveis. Meu tio nunca se importou e sempre ria dessa loucura, já que os dois sempre foram grandes companheiros como concunhados. Mas ele não sabia que a ameaça era verdadeira e que meu pai já armava uma estratégia para conquistar o amigo-cão.

De tempos em tempos lá entrava o meu pai no açougue do Seu Cândido e comprava pequenos pedaços da melhor peça de filé mignon e se encaminhava para a residência do Tio Nilo sorrateiramente.

Aos poucos o REX foi se aproximando e mudou-se, sem grandes transtornos, para a Pinheiro Machado. Meu tio não teve o que fazer e acabou resignado.

O lindo cãozinho tornou-se o melhor amigo de meu pai, sendo amado por ele e odiado por minha mãe, que nunca permitiu que ele entrasse na nossa casa. Apesar de um casamento nada romântico, minha mãe sempre teve ciúmes do REX, alegando que ele sempre estava em primeiro lugar na vida do marido.

Era um cachorro muito inteligente e tinha uma afinidade tão grande com meu pai que até mesmo nós, as filhas mais velhas (eu e a Goretti) acabávamos estranhando. Obedecia-o de forma amável, o que deixava todos boquiabertos.

Com a “birra” da minha mãe, o pobre do REX, para chamar a atenção do meu pai, geralmente à noitinha, saia correndo da calçada e parava com as duas patinhas no espaldar da porta de entrada da nossa casa, sempre com os olhinhos voltados para o amigo. E lá ficava o João Rocha todo faceiro, sentado na sua preguiçosa” (uma cadeira com suportes de madeira e assento de gorgurão listrado), após mais um dia de trabalho. O seu sorriso demonstrava algo do tipo: “façam o que quiserem, pois o meu amigo sempre me defenderá!”

Na época meu pai tinha uma Fargo cor de abóbora, cabine simples, com um grande banco “inteiro” forrado de vinil vermelho e, quando abria a porta, lá entrava primeiramente o REX e colocava-se acima do encosto do banco. Depois meu pai entrava e os dois saiam felizes para o trabalho. Sim, ao trabalho! O REX sempre acompanhou o meu pai em todos os lugares freqüentados por ele, a exemplo da Tipografia, do Baar Central e do Clube Patrulhense.

A sua simpatia angariou grandes amigos, que também se incumbiram de auxiliar na sua proteção, a exemplo do Vô Oscar Soares, Seu Benedito Winck, Seu Pedro Oscar de Jesus, Seu Pedro Rangel, Seu Dirceu Ramos, Padre Oscar Calsing, Serafim Ourique (Finfa), Salvador Hilário dos Santos (Barroso), Seu Ênio Holmer, Dirceu Rocha (Dico), Seu Luiz Soares, Dr. Gelson Bier, Delmar Ourique, dentre outros.

Com as freqüentes visitas do REX ao Baar Central e ao Clube Patrulhense, o Seu Nilo Pereira resolveu implicar publicamente com o pobre cãozinho, o que resultou em uma história “verídica” lembrada até hoje na nossa cidade: Os amigos do meu pai e, por consequência do REX, resolveram planejar uma grande eleição, com vasta divulgação, para saberem quem realmente tinha direito ao título do Clube: ou o REX ou o meu pai. Resultado: no escrutínio o REX sagrou-se vencedor com 100% dos votos!

Nunca mais o Seu Nilo Pereira resolveu implicar com o “cachorro-político-mais-festejado-da-cidade alta”.

Infelizmente alguma pessoa com mau espírito resolveu envenenar o amigo de meu pai e, pela primeira vez, em uma manhã cinzenta, o vi chorar. Chorei também, embora ainda muito pequena.

A comoção foi geral na cidade alta mas, como a “turma do Baar” costumava “tirar de letra” as tristezas provenientes da vida, um pequeno caixão de madeira foi confeccionado e colocado em frente à Tipografia como símbolo de luto, e lá ficou por vários dias. Dizem que a idéia foi do Seu Fahrion, que possuía o seu Escritório de Contabilidade atrás da Tipografia, e sempre era acompanhado pelo REX quando de seus cafezinhos diários com meu pai nos breaks do trabalho.

Contrariando todas as sugestões recebidas na época, meu pai nunca mais comprou ou conquistou um cachorro e, depois de seu envenenamento, como forma de suprir a sua ausência, muitas histórias inverídicas foram criadas por ele sobre o “falecido”, para alegria da sua família e amigos, todas elas lembradas até hoje com muito carinho por todos.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Novela em Bate-bola - Capítulo 7

CAPÍTULO 7 – JOELSON

- Não aconteceu nada Joana. - Escolhemos você para ser a nossa representante nas reivindicações que teremos com o Professor Macedo. - Imaginem eu, tendo de falar em nome da turma. - Achamos que você é talhada para tal papel.
Toca o celular. - Marina, nem tive tempo de te ligar, ou melhor, tentei uma vez e você não atendeu.
- Nem te conto.- Tive um dia deveras diferente. - Fiz coisas que você nem imagina. - E tenho novidades. - Não me deixa mais nervosa ainda. - Hoje o dia foi péssimo no trabalho. - Cheguei na faculdade e me escolheram para representar a turma numa conversa com um professor que não está em sintonia com a gente. - Será que dá para entender que você é importante? - Ou ainda não descobristes ?
- Hoje saí mais cedo do trabalho e fui numa cartomante, guru, cigana, não sei o que ela é. - Uma colega minha foi dia desses e adorou. - Ela é séria, não diz bobagem. - Me fiz de louca e fui. - Não consegui horário para hoje, mas já marquei para nós duas amanhã às 19 horas, pois sei que é quinta-feira e não tens faculdade. - Você está ficando maluca Marina. - Que nada, vamos conferir algumas coisas. - A minha colega ficou muito satisfeita. Disse que é uma coisa séria. - Ela não sabe direito o que ela faz. - É uma mistura de cartas, tarôs, dados, búzios e vai falando da vida da gente.- Amanhã combinamos. - Vai começar a aula.
No dia seguinte, encontraram-se no ponto marcado e lá se foram para a tal consulta.
Marina foi a primeira a ser atendida. Demorou um pouco lá dentro. Joana aguardava na sala de espera.
Abriu-se a porta. Saiu Marina com um bom semblante e, de imediato, chamaram Joana. Nem se conversaram.
Depois de um bom tempo saiu Joana. Tinha uma cara gozada, uma mistura de estranha e pasma.
- E daí perguntou Marina. - Achei interessante em muitos pontos, outros meio mirabolantes. - E tu, perguntou Joana ? - Gostei. Me pareceu sensata. - Disse muitas coisas com coerência, parece que sabia muito da minha vida, dos meus questionamentos, das minhas incertezas, das minhas estranhezas.
- E de ti, falou Marina. - Bateu muito na tecla do meu passado. - Me deu receitas para apagá-lo e viver uma vida para a frente. - Falou que tenho algumas pretensões amorosas, mas pasme : falou que o homem que eu mais detesto é o que mais me ama.- É possível uma coisa dessas ? - Claro que é, respondeu Marina. - O amor é o sentimento mais surpreendente que existe. - Acho melhor limpar seus olhos e começar a enxergar bem mais perto do que você imagina. - Quem sabe o tesouro está ao seu alcance e você vive buscando-o em outras paragens.
Joana calou um instante. Suspirou e começaram a andar rumo aos seus destinos.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Longe do interior


Memórias da Pinheiro por Rosalva Rocha

O vôlei rolava solto na Pinheiro Machado ...

(por Rosalva Rocha – 05/02/2010)


As meninas da Pinheiro Machado da minha geração conheceram o vôlei nas quadras do Colégio Santa Teresinha. Lá os primeiros “saques” foram treinados sob a orientação da Profa. Áurea, sempre simpática com seu longo cabelo liso, ou então pelo Prof. Mico (magrinho e meio bravo).

Virou mania! E as quadras do Colégio passaram a não ser mais suficientes.

Precisávamos treinar, treinar muito ... buscávamos destaque municipal! Quem sabe estadual? E por que não? Todo sonho era válido naqueles “anos dourados”.

E foi nessa época que eu e a Goretti ganhamos duas bolas amarelas (comuns, mas as duas amarelas).

Como morávamos em uma “lomba”, a nossa única opção era delimitar a quadra ali mesmo, utilizando uma corda ao invés de rede, uma das bolas amarelas e ignorando toda e qualquer lei da física.

E confesso que não me lembro de qualquer discussão entre os times em relação à preferência pelo campo mais alto, obviamente aquele que teria muito maiores chances de vencer. O que valia eram os treinos mesmo.

Geralmente a quadra era delimitada entre a casa da Dona Mercilda e a nossa casa velha (já não morávamos mais lá e sim na casa em que minha mãe vive até hoje).

E até que tínhamos algumas boas atletas, a exemplo da Luciana que, se eu não me engano, disputou até mesmo um Campeonato Estadual (ao lado da Pesco e da Teresa Polito por Santo Antônio da Patrulha). Por outro lado, eu e a Licinha éramos de morrer ... eu, baixinha e sempre colocada na posição de levantadora, era constantemente chamada a atenção por não levantar a bola o suficiente, e a Licinha, que eu lembre, nunca acertou um saque. Mas nós duas nunca nos importamos com isto e jogávamos como se fossemos atletas de verdade.

E as “moças” – Maria Alzira e Helena – vez ou outra entravam na quadra e acabavam dando o seu showzinho à parte. Ficávamos orgulhosas quando isto acontecia.

Geralmente as “peladas” eram organizadas quando o sol baixava e duravam o tempo suficiente de ouvirmos dois barulhos distintos:

- o da RuralWyllis verde e branca do Dr. Gelson Bier ou

- o da DKV cor de abóbora, ano 1962, do meu pai (daquelas em que as portas eram abertas pela frente).

Eu até confesso que, com o barulho da DKV teríamos que “desmontar o circo”, pois ela precisaria passar pelo meio da quadra ... mas com o barulho da RuralWyllis não! E era o que mais nos assustava.

Acabamos ficando muito ágeis em “desmontagem”, o que nos proporcionou habilidades muito diferenciadas que utilizamos até hoje em necessidades variadas.

Sinceramente ainda não entendo o porquê de tamanho medo dos dois barulhos ... mas eles assustavam sim! E muito!

Infelizmente o nosso sonho não se concretizou ... fomos para áreas opostas, mas o gostinho dos finais de tarde ainda permanece na minha memória e, certamente, na memória das outras meninas.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Tropeços em câmera lenta

Os dias e noites passam rápido mas nosso blog, apesar de seguir insone, se move devagar.
A vida adquire novas e diferentes prioridades, sentimos novos gostos, experimentamos sensações inéditas e nos sobra pouco tempo pra estar sozinhos e concentrados em algo que facilmente se afasta de nós: a escrita.
Porque escrever requer prática e habilidade, e por isso deve ser treinado.
E em poucos dias de novas emoções o teclado do micro se torna um corpo estranho, como se não fizesse mais parte do computador. Sobra só o mouse, naquele clic aqui nosso de cada dia, e lá se foram a inspiração e as boas idéias.
Mas para comemorar esses novos momentos, depois de curti-los, podemos experimentar a maravilhosa sensação de trazê-los para o 'papel', pra que se tornem ternas e eternas lembranças.
Assim, convocadas estamos eu e a Rosalva a transcrever nossos veraneios, em que estávamos tão próximas sem nunca nos encontrarmos.
O Rico a desmanchar-se de mimos com a pequena Gabi.
A Josi a dar testemunhos e explicações sobre onde andou e o que viu por esses dois meses.
A Sônia a nos presentear com seus poemas.
E quem mais perder o sono por alguma madrugada morna de março, pois este blog é nosso!
- Cássia -