A BIOGRAFIA DE UM CACHORRO CHAMADO REX
(por Rosalva Rocha – 18/02/2010)
REX era um fox lindo, de cor branca, com manchas marrons claras. Era de propriedade de meu tio Nilo Linde e uma das grandes paixões de meu pai, que nunca havia tido um cachorro.
Em função dessa paixão, meu pai sempre ameaçava meu tio, alegando que conquistaria o REX com todas as armas possíveis. Meu tio nunca se importou e sempre ria dessa “loucura”, já que os dois sempre foram grandes companheiros como concunhados. Mas ele não sabia que a ameaça era verdadeira e que meu pai já armava uma estratégia para conquistar o amigo-cão.
De tempos em tempos lá entrava o meu pai no açougue do Seu Cândido e comprava pequenos pedaços da melhor peça de filé mignon e se encaminhava para a residência do Tio Nilo “sorrateiramente”.
Aos poucos o REX foi se aproximando e mudou-se, sem grandes transtornos, para a Pinheiro Machado. Meu tio não teve o que fazer e acabou resignado.
O lindo cãozinho tornou-se o melhor amigo de meu pai, sendo amado por ele e odiado por minha mãe, que nunca permitiu que ele entrasse na nossa casa. Apesar de um casamento nada romântico, minha mãe sempre teve ciúmes do REX, alegando que ele sempre estava em primeiro lugar na vida do marido.
Era um cachorro muito inteligente e tinha uma afinidade tão grande com meu pai que até mesmo nós, as filhas mais velhas (eu e a Goretti) acabávamos estranhando. Obedecia-o de forma amável, o que deixava todos boquiabertos.
Com a “birra” da minha mãe, o pobre do REX, para chamar a atenção do meu pai, geralmente à noitinha, saia correndo da calçada e parava com as duas patinhas no espaldar da porta de entrada da nossa casa, sempre com os olhinhos voltados para o amigo. E lá ficava o João Rocha todo faceiro, sentado na sua “preguiçosa” (uma cadeira com suportes de madeira e assento de gorgurão listrado), após mais um dia de trabalho. O seu sorriso demonstrava algo do tipo: “façam o que quiserem, pois o meu amigo sempre me defenderá!”
Na época meu pai tinha uma Fargo cor de abóbora, cabine simples, com um grande banco “inteiro” forrado de vinil vermelho e, quando abria a porta, lá entrava primeiramente o REX e colocava-se acima do encosto do banco. Depois meu pai entrava e os dois saiam felizes para o trabalho. Sim, ao trabalho! O REX sempre acompanhou o meu pai em todos os lugares freqüentados por ele, a exemplo da Tipografia, do Baar Central e do Clube Patrulhense.
A sua simpatia angariou grandes amigos, que também se incumbiram de auxiliar na sua proteção, a exemplo do Vô Oscar Soares, Seu Benedito Winck, Seu Pedro Oscar de Jesus, Seu Pedro Rangel, Seu Dirceu Ramos, Padre Oscar Calsing, Serafim Ourique (Finfa), Salvador Hilário dos Santos (Barroso), Seu Ênio Holmer, Dirceu Rocha (Dico), Seu Luiz Soares, Dr. Gelson Bier, Delmar Ourique, dentre outros.
Com as freqüentes visitas do REX ao Baar Central e ao Clube Patrulhense, o Seu Nilo Pereira resolveu implicar “publicamente” com o pobre cãozinho, o que resultou em uma história “verídica” lembrada até hoje na nossa cidade: Os amigos do meu pai e, por consequência do REX, resolveram planejar uma grande eleição, com vasta divulgação, para saberem quem realmente “tinha direito ao título do Clube”: ou o REX ou o meu pai. Resultado: no escrutínio o REX sagrou-se vencedor com 100% dos votos!
Nunca mais o Seu Nilo Pereira resolveu implicar com o “cachorro-político-mais-festejado-da-cidade alta”.
Infelizmente alguma pessoa com mau espírito resolveu envenenar o amigo de meu pai e, pela primeira vez, em uma manhã cinzenta, o vi chorar. Chorei também, embora ainda muito pequena.
A comoção foi geral na cidade alta mas, como a “turma do Baar” costumava “tirar de letra” as tristezas provenientes da vida, um pequeno caixão de madeira foi confeccionado e colocado em frente à Tipografia como símbolo de luto, e lá ficou por vários dias. Dizem que a idéia foi do Seu Fahrion, que possuía o seu Escritório de Contabilidade atrás da Tipografia, e sempre era acompanhado pelo REX quando de seus cafezinhos diários com meu pai nos breaks do trabalho.
Contrariando todas as sugestões recebidas na época, meu pai nunca mais comprou ou conquistou um cachorro e, depois de seu envenenamento, como forma de suprir a sua ausência, muitas histórias “inverídicas” foram criadas por ele sobre o “falecido”, para alegria da sua família e amigos, todas elas lembradas até hoje com muito carinho por todos.
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