O vôlei rolava solto na Pinheiro Machado ...
(por Rosalva Rocha – 05/02/2010)
As meninas da Pinheiro Machado da minha geração conheceram o vôlei nas quadras do Colégio Santa Teresinha. Lá os primeiros “saques” foram treinados sob a orientação da Profa. Áurea, sempre simpática com seu longo cabelo liso, ou então pelo Prof. Mico (magrinho e meio bravo).
Virou mania! E as quadras do Colégio passaram a não ser mais suficientes.
Precisávamos treinar, treinar muito ... buscávamos destaque municipal! Quem sabe estadual? E por que não? Todo sonho era válido naqueles “anos dourados”.
E foi nessa época que eu e a Goretti ganhamos duas bolas amarelas (comuns, mas as duas amarelas).
Como morávamos em uma “lomba”, a nossa única opção era delimitar a quadra ali mesmo, utilizando uma corda ao invés de rede, uma das bolas amarelas e ignorando toda e qualquer lei da física.
E confesso que não me lembro de qualquer discussão entre os times em relação à preferência pelo campo mais alto, obviamente aquele que teria muito maiores chances de vencer. O que valia eram os treinos mesmo.
Geralmente a quadra era delimitada entre a casa da Dona Mercilda e a nossa casa velha (já não morávamos mais lá e sim na casa em que minha mãe vive até hoje).
E até que tínhamos algumas boas atletas, a exemplo da Luciana que, se eu não me engano, disputou até mesmo um Campeonato Estadual (ao lado da Pesco e da Teresa Polito por Santo Antônio da Patrulha). Por outro lado, eu e a Licinha éramos de morrer ... eu, baixinha e sempre colocada na posição de levantadora, era constantemente chamada a atenção por não levantar a bola o suficiente, e a Licinha, que eu lembre, nunca acertou um saque. Mas nós duas nunca nos importamos com isto e jogávamos como se fossemos atletas de verdade.
E as “moças” – Maria Alzira e Helena – vez ou outra entravam na quadra e acabavam dando o seu showzinho à parte. Ficávamos orgulhosas quando isto acontecia.
Geralmente as “peladas” eram organizadas quando o sol baixava e duravam o tempo suficiente de ouvirmos dois barulhos distintos:
- o da RuralWyllis verde e branca do Dr. Gelson Bier ou
- o da DKV cor de abóbora, ano 1962, do meu pai (daquelas em que as portas eram abertas pela frente).
Eu até confesso que, com o barulho da DKV teríamos que “desmontar o circo”, pois ela precisaria passar pelo meio da quadra ... mas com o barulho da RuralWyllis não! E era o que mais nos assustava.
Acabamos ficando muito ágeis em “desmontagem”, o que nos proporcionou habilidades muito diferenciadas que utilizamos até hoje em necessidades variadas.
Sinceramente ainda não entendo o porquê de tamanho medo dos dois barulhos ... mas eles assustavam sim! E muito!
Infelizmente o nosso sonho não se concretizou ... fomos para áreas opostas, mas o gostinho dos finais de tarde ainda permanece na minha memória e, certamente, na memória das outras meninas.
Tomo a liberdade de transcrever abaixo o comentário feito por e-mail de uma grande amiga, que é jogadora de vôlei com mais de 40 anos (a "moça" arrasa nas quadras da Petrobrás em Tramandaí). Como gostei muito da análise feita por ela, solicitei permissão e aquí estou postando ...
ResponderExcluirO texto retrata bem o imaginário das condições um tanto adversas, mas superadas pela vontade.
Este querer manifesta o prazer, e a ilusão que depois acompanham as nossas vidas adultas, proporcionando condições de criar novas regras, novos jogos... aliás toda criança que consegue inventar e adaptar novas regras e novas maneiras de fazer, estabelece uma nova relação com o saber e isto possibilita tornarmos adultos com mais capacidade para competir...Fora a questão do afeto, que fica colocada de uma forma muito explícita, quando não se importavam se ganhavam ou não e sim o estar juntos, passar algumas horas do dia com as pessoas queridas e mais, aparece claro a questão das limitações, pois quando as duas que sabiam jogar chegavam e davam o show, fica muito claro a percepção do real, a admiração pelo outro e até onde eu posso contribuir, sem manifestação de desagrado com aquele que é melhor!!!! Somos seres imperfeitos cada qual com as suas possibilidades! As diferenças fazem parte de uma equipe, onde um completa o sentimento do outro!
Muito bom!
Agnes Chaves
Rosalva