Capítulo 2 - Cássia
Sentado no sofá, os programas se sucederam sem que ele percebesse. Há quanto tempo estava ali? Não sabia. Apenas se alimentava daquela luz, daqueles sons. Dos rostos daqueles íntimos desconhecidos. Esperava se sentir menos só. Até que aquelas imagens tão familiares se transformaram em indiferentes listras coloridas, que ele pensava não existirem mais. Sentia pena de si.
Andou pela casa, a mesma casa que abrigara recentes momentos felizes. Levou a mão no bolso. Para seu desespero, a aliança ainda estava lá.
Queria gritar, fugir, correr para qualquer lugar onde não houvesse lembranças. Mas sabia que ela voltaria para casa, na esperança de que ele não estivesse mais.
Iria surpreendê-la Agora era livre, e estava feliz. Começava uma nova vida. Autoconfiança.
Olhou-se no espelho e percebeu que aquela noite durara um século. Parecia cansado. Pensou em tomar um banho, se barbear. Tirou aquelas roupas impregnadas de sofrimento e culpa. A aliança caiu do bolso, e decidiu não juntá-la.
Limpo, barbeado e vestido, fazia um esforço sobre-humano para se sentir forte. Enquanto assistia o jornal da manhã, escutou a porta se abrindo.
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