Capítulo 6 - Cássia
Argh! Ana Carolina. Perguntando se Manoel ainda estava lá. Nem 'boa tarde', nem 'tudo bem', nada. Apenas 'Ciro, é a Carol... O Manoel ainda está aí?', como se os dois tivessem se falado há um minuto atrás. Devia estar sonhando. Alguma coisa mais podia dar errado? Respondeu qualquer absurdo para a ex-mulher - era estranho pensar nela assim -, e desligou. Voltou para o policial, que agora já estava dentro do apartamento. O que dizer? Por um instante, lembrou de uma notícia na TV, ou algum filme no Corujão, em que um homem traumatizado pela morte da mulher e dos filhos tem lapsos de consciência e mata pessoas, não lembrando de nada depois. Devia ser mesmo um filme. Essas coisas não acontecem na vida real. Outra vez ele se sentia uma piada. Só que agora era uma piada sem graça.
- Tudo bem? Podemos continuar? perguntou o policial. O senhor quer chamar um advogado antes de conversarmos?
- Não, não. Podemos conversar. O quê? Estou sendo acusado?
- Não senhor, mas como já disse, a arma do crime está no seu nome.
- Ok, ok.. - e contou ao policial toda a história - a separação, Manoel vindo buscar as coisas da mulher, a arma que lhe entregara.
Sem qualquer cerimônia o policial perguntou se Manoel era o motivo da separação.
- Quê?! Aquele veado? Claro que não!
Na verdade, detestava Manoel. Aliás, não era do tipo que ficava amigo dos amiguinhos gays da mulher. Não, isso não. Considerava-se um homem moderno, mas isso não. Engolia Manoel por causa de Ana Carolina, mas detestava aquele tipo. Mas daí a matá-lo... O policial aguardava que ele continuasse. Mas ele só queria ficar sozinho. Que se danasse o Manoel, pouco lhe importava. Queria se livrar daquilo, e voltar para o sofá. Aquele sono o havia reconfortado. Mas o policial continuava olhando para Ciro com aquela cara de 'claro que foi crime passional'. Que piada! Fez mais umas duzentas perguntas que Ciro respondeu com o que lhe veio à cabeça e concluiu o interrogatório:
- Mais alguma coisa de que o senhor lembre?
- Acho que é só. Se o senhor me der licença, gostaria de ficar sozinho. Quero ligar para minha mulher, afinal Manoel era amigo dela, e ela deve saber o telefone de algum familiar. A não ser que eu esteja sendo acusado de alguma coisa?.... - a pergunta ficou no ar.
- Tudo bem, Sr. Ciro. Mas peço que o senhor me dê seu telefone, e o mantenha ligado, caso a polícia precise de mais esclarecimentos.
E se foi.. Ciro jogou-se novamente no sofá. Não conseguia nem sofrer. Estava estupefato. Em menos de 24 horas tinha perdido a mulher para uma porcaria de curso no exterior, sua vida estava de cabeça pra baixo, e agora, como se tudo isso não fosse o bastante, aquele veado do Manoel morre na porta do seu prédio, assassinado com sua arma. Bem, agora não lhe faltava acontecer mais nada. Olhou a aliança. Girou-a no dedo. Estava presa de novo. Antes que conseguisse organizar os pensamentos, o telefone tocou. Era Ana Carolina de novo...
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