Ele pegou o sabonete na pia do banheiro e esfregou no dedo, molhando. Precisava tirar aquela aliança logo, duma vez...PRÁ SEMPRE - gritou sozinho dentro de casa. Enquanto lutava para remover a aliança, as lágrimas vertiam sem cerimônia, molhando sua camisa. Fazia calor, talvez o dedo estivesse meio inchado e por isso aquilo era tão difícil. Se precisar eu corto este dedo fora - bradou de novo, para que somente as suas paredes o ouvissem. Mesmo se dando conta de que estava sozinho ele continuava falando de quando em quando, como se quisesse tirar um sarro de si próprio. Como se não bastasse o que estava passando, ele como que saía de si para fazer aquela autocrítica. Auto-piedade. Autocomiseração.
Por fim, a aliança se desprendeu e ele fez menção de jogá-la janela afora. Mas algo o segurou. Algo o impediu.
As lágrimas voltaram fortes e então ele se deu conta de que ao arrancar a aliança de seu dedo ele tirara de sua vida muito mais coisa do que só ouro. Ele meio que tentava exorcizar um passado recente e que, até ali, o fizera feliz. Mas aquilo agora era passado. Saiu a aliança e ele sentiu arrancar de si mesmo lascas de afeto, de carinho, do amor que um dia houve. As lágrimas eram como que um símbolo de seu sofrer, eram sangue emocional a escorrer.
Isso mesmo. Ali, no silêncio de sua casa, ele tinha uma "hemorragia afetiva", ele sentia saírem de si as mais belas páginas de sua existência. Ele estava para morrer.
Lavou as mãos e a aliança. Secou tudo. Pôs a aliança no bolso da calça e suspirou. Ligou a TV da sala e estava no fim do programa do Faustão. Anoiteceu.
A Porto Emerim, sem dúvida, numa boa caminhada, pode brotar idéias geniais. Já estou acompanhando e ansiosa ... Parabéns pela coragem ... Bjs aos dois, Rosalva
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