E lá estava ela, regando o jardim, com os pés descalços, pensando no tempo que permeara a sua vida naquela casa, na mesma rua, com as mesmas passagens, os mesmos aromas, a vista de morros verdes e a lua que sempre aparecia no mesmo lugar.
Retornou ao passado enquanto a água respingava em seu corpo.
Seguia os conselhos de sua avó: regar o jardim sempre ao entardecer, sob pena das plantas serem queimadas sem dó nem piedade.
Naquele momento não queria dó nem piedade para as plantas e nem para si.
Sabia que o caminho percorrido até ali tinha sido intenso,
verdadeiro,
com choques elétricos que não mataram,
algumas navalhas mal afiadas que feriram – mas cicatrizaram e, por outro lado,
rosas desabrochadas,
comidas gostosas,
amores desafiadores,
paixões avassaladoras e
certa paz, angariada com o passar dos anos.
A mangueira d´água a seguia como cúmplice e o pensamento escorria como lágrima.
Uma brisa leve a acompanhou na finalização do trabalho, reforçando a certeza de que a vida é assim:
rodeada por fatos inesperados,
que devem ser relembrados,
sonhados,
nunca maltratados e
vez ou outra jogados em um jardim ávido por água para alimentar o desejo de
ver crescer esperanças e energias por um novo tempo.
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