segunda-feira, 22 de março de 2010
sexta-feira, 19 de março de 2010
Memórias da Pinheiro por Rosalva Rocha
A BIOGRAFIA DE UM CACHORRO CHAMADO REX
(por Rosalva Rocha – 18/02/2010)
REX era um fox lindo, de cor branca, com manchas marrons claras. Era de propriedade de meu tio Nilo Linde e uma das grandes paixões de meu pai, que nunca havia tido um cachorro.
Em função dessa paixão, meu pai sempre ameaçava meu tio, alegando que conquistaria o REX com todas as armas possíveis. Meu tio nunca se importou e sempre ria dessa “loucura”, já que os dois sempre foram grandes companheiros como concunhados. Mas ele não sabia que a ameaça era verdadeira e que meu pai já armava uma estratégia para conquistar o amigo-cão.
De tempos em tempos lá entrava o meu pai no açougue do Seu Cândido e comprava pequenos pedaços da melhor peça de filé mignon e se encaminhava para a residência do Tio Nilo “sorrateiramente”.
Aos poucos o REX foi se aproximando e mudou-se, sem grandes transtornos, para a Pinheiro Machado. Meu tio não teve o que fazer e acabou resignado.
O lindo cãozinho tornou-se o melhor amigo de meu pai, sendo amado por ele e odiado por minha mãe, que nunca permitiu que ele entrasse na nossa casa. Apesar de um casamento nada romântico, minha mãe sempre teve ciúmes do REX, alegando que ele sempre estava em primeiro lugar na vida do marido.
Era um cachorro muito inteligente e tinha uma afinidade tão grande com meu pai que até mesmo nós, as filhas mais velhas (eu e a Goretti) acabávamos estranhando. Obedecia-o de forma amável, o que deixava todos boquiabertos.
Com a “birra” da minha mãe, o pobre do REX, para chamar a atenção do meu pai, geralmente à noitinha, saia correndo da calçada e parava com as duas patinhas no espaldar da porta de entrada da nossa casa, sempre com os olhinhos voltados para o amigo. E lá ficava o João Rocha todo faceiro, sentado na sua “preguiçosa” (uma cadeira com suportes de madeira e assento de gorgurão listrado), após mais um dia de trabalho. O seu sorriso demonstrava algo do tipo: “façam o que quiserem, pois o meu amigo sempre me defenderá!”
Na época meu pai tinha uma Fargo cor de abóbora, cabine simples, com um grande banco “inteiro” forrado de vinil vermelho e, quando abria a porta, lá entrava primeiramente o REX e colocava-se acima do encosto do banco. Depois meu pai entrava e os dois saiam felizes para o trabalho. Sim, ao trabalho! O REX sempre acompanhou o meu pai em todos os lugares freqüentados por ele, a exemplo da Tipografia, do Baar Central e do Clube Patrulhense.
A sua simpatia angariou grandes amigos, que também se incumbiram de auxiliar na sua proteção, a exemplo do Vô Oscar Soares, Seu Benedito Winck, Seu Pedro Oscar de Jesus, Seu Pedro Rangel, Seu Dirceu Ramos, Padre Oscar Calsing, Serafim Ourique (Finfa), Salvador Hilário dos Santos (Barroso), Seu Ênio Holmer, Dirceu Rocha (Dico), Seu Luiz Soares, Dr. Gelson Bier, Delmar Ourique, dentre outros.
Com as freqüentes visitas do REX ao Baar Central e ao Clube Patrulhense, o Seu Nilo Pereira resolveu implicar “publicamente” com o pobre cãozinho, o que resultou em uma história “verídica” lembrada até hoje na nossa cidade: Os amigos do meu pai e, por consequência do REX, resolveram planejar uma grande eleição, com vasta divulgação, para saberem quem realmente “tinha direito ao título do Clube”: ou o REX ou o meu pai. Resultado: no escrutínio o REX sagrou-se vencedor com 100% dos votos!
Nunca mais o Seu Nilo Pereira resolveu implicar com o “cachorro-político-mais-festejado-da-cidade alta”.
Infelizmente alguma pessoa com mau espírito resolveu envenenar o amigo de meu pai e, pela primeira vez, em uma manhã cinzenta, o vi chorar. Chorei também, embora ainda muito pequena.
A comoção foi geral na cidade alta mas, como a “turma do Baar” costumava “tirar de letra” as tristezas provenientes da vida, um pequeno caixão de madeira foi confeccionado e colocado em frente à Tipografia como símbolo de luto, e lá ficou por vários dias. Dizem que a idéia foi do Seu Fahrion, que possuía o seu Escritório de Contabilidade atrás da Tipografia, e sempre era acompanhado pelo REX quando de seus cafezinhos diários com meu pai nos breaks do trabalho.
Contrariando todas as sugestões recebidas na época, meu pai nunca mais comprou ou conquistou um cachorro e, depois de seu envenenamento, como forma de suprir a sua ausência, muitas histórias “inverídicas” foram criadas por ele sobre o “falecido”, para alegria da sua família e amigos, todas elas lembradas até hoje com muito carinho por todos.
sexta-feira, 12 de março de 2010
Novela em Bate-bola - Capítulo 7
quinta-feira, 4 de março de 2010
Memórias da Pinheiro por Rosalva Rocha
O vôlei rolava solto na Pinheiro Machado ...
(por Rosalva Rocha – 05/02/2010)
As meninas da Pinheiro Machado da minha geração conheceram o vôlei nas quadras do Colégio Santa Teresinha. Lá os primeiros “saques” foram treinados sob a orientação da Profa. Áurea, sempre simpática com seu longo cabelo liso, ou então pelo Prof. Mico (magrinho e meio bravo).
Virou mania! E as quadras do Colégio passaram a não ser mais suficientes.
Precisávamos treinar, treinar muito ... buscávamos destaque municipal! Quem sabe estadual? E por que não? Todo sonho era válido naqueles “anos dourados”.
E foi nessa época que eu e a Goretti ganhamos duas bolas amarelas (comuns, mas as duas amarelas).
Como morávamos em uma “lomba”, a nossa única opção era delimitar a quadra ali mesmo, utilizando uma corda ao invés de rede, uma das bolas amarelas e ignorando toda e qualquer lei da física.
E confesso que não me lembro de qualquer discussão entre os times em relação à preferência pelo campo mais alto, obviamente aquele que teria muito maiores chances de vencer. O que valia eram os treinos mesmo.
Geralmente a quadra era delimitada entre a casa da Dona Mercilda e a nossa casa velha (já não morávamos mais lá e sim na casa em que minha mãe vive até hoje).
E até que tínhamos algumas boas atletas, a exemplo da Luciana que, se eu não me engano, disputou até mesmo um Campeonato Estadual (ao lado da Pesco e da Teresa Polito por Santo Antônio da Patrulha). Por outro lado, eu e a Licinha éramos de morrer ... eu, baixinha e sempre colocada na posição de levantadora, era constantemente chamada a atenção por não levantar a bola o suficiente, e a Licinha, que eu lembre, nunca acertou um saque. Mas nós duas nunca nos importamos com isto e jogávamos como se fossemos atletas de verdade.
E as “moças” – Maria Alzira e Helena – vez ou outra entravam na quadra e acabavam dando o seu showzinho à parte. Ficávamos orgulhosas quando isto acontecia.
Geralmente as “peladas” eram organizadas quando o sol baixava e duravam o tempo suficiente de ouvirmos dois barulhos distintos:
- o da RuralWyllis verde e branca do Dr. Gelson Bier ou
- o da DKV cor de abóbora, ano 1962, do meu pai (daquelas em que as portas eram abertas pela frente).
Eu até confesso que, com o barulho da DKV teríamos que “desmontar o circo”, pois ela precisaria passar pelo meio da quadra ... mas com o barulho da RuralWyllis não! E era o que mais nos assustava.
Acabamos ficando muito ágeis em “desmontagem”, o que nos proporcionou habilidades muito diferenciadas que utilizamos até hoje em necessidades variadas.
Sinceramente ainda não entendo o porquê de tamanho medo dos dois barulhos ... mas eles assustavam sim! E muito!
Infelizmente o nosso sonho não se concretizou ... fomos para áreas opostas, mas o gostinho dos finais de tarde ainda permanece na minha memória e, certamente, na memória das outras meninas.