sábado, 30 de janeiro de 2010
Pérolas do Rico
domingo, 24 de janeiro de 2010
E no litoral...
9ª Feira do Livro de Tramandaí
Local: Ginásio Municipal de Esportes(Ten. marino Dias de Oliveira), no centro de Tramandaí
Horário de Funcionamento: das 17 às 24horas
Informações: Departamento Municipal de Cultura - (51) 36849045
Acesso: GRATUITO
sábado, 23 de janeiro de 2010
Memórias da Pinheiro por Rosalva Rocha
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
Nada Chega - Carnaval 2010
Novela em bate-bola - Capítulo 6
domingo, 10 de janeiro de 2010
Aparecida persegue a morte
Aparecida era diferente das outras moças da cidade. Com dezoito anos, não era bonita nem feia. Quase nunca sorria. Os cabelos sempre presos, os olhos negros sem brilho, as roupas grandes no corpo franzino, parecia não gostar da vida.
Passava noites e dias sentada no vão da porta, à beira da rua dos Pinheiros.
Não fazia crochê, não pensava em enxoval. Não lia nem assistia às novelas. Raramente conversava com alguém que por ali passasse. As crianças achavam graça dela.
Só o que lhe interessava era a passagem do rabecão. Sereno, o responsável local pelo recolhimento dos defuntos, era moço quieto, talvez castigado pela companhia dos mortos. Já se acostumara com a perseguição não explicada da Aparecida. O carro passava, ela corria até o necrotério, que era logo na próxima quadra de casa.
O povo dizia: “Lá vai a Aparecida, correr atrás da morte”.
E ela ia mesmo. Corria até o pequeno necrotério, se esticava pela janela. Observava com atenção cada detalhe. Parecia fascinada por aqueles rostos que já haviam perdido a expressão.
Nesses momentos, os olhos bem abertos, parecia quase feliz.
Sereno não se importava. Já iam três anos que isso se repetia. Sequer se perguntava por que isso acontecia. Deixava-a quieta. Era bom ter companhia, apesar de nunca ter ouvido sua voz.
Assim passavam as noites e os dias da vida de Aparecida.
O povo comentava. Sereno não se importava. Aparecida nem dormia, antes agonizava.
Ansiava pela doença ou por alguma tragédia que iriam lhe proporcionar aqueles instantes. Os únicos em que sentia o sangue lhe correr de verdade nas veias.
Até que a morte bateu em sua porta. Viera buscar seu avô, com quem morava desde que os pais morreram, quando tinha seis anos.
Fora criada por aquele senhor a quem nunca conheceu, que não lhe deu atenção e a fez trabalhar como uma escrava. Cuidara dele até o último instante, mas não sofria sua morte. Antes, sentia alívio. Nunca recebeu uma palavra de carinho. Apenas silêncio.
Tendo saído o médico, mandaram chamar Sereno para que viesse recolher o corpo. Pela primeira vez, ao invés de perseguir, Aparecida iria acompanhar o defunto. Pediu um instante para se trocar. Sereno percebeu que sua voz era doce. Respondeu que podia esperar. E esperou.
A moça saiu da casa com um vestido floral, simples, mas que fez com que o rapaz percebesse que, afinal de contas, ela era bonita. Estava com os cabelos soltos. Um olhar de contentamento.
- Finalmente sou livre, ela disse. – E nunca me interessei pelos mortos, Sereno. Sempre quis saber foi de ti.
O rapaz, que era também um solitário, percebeu que já se afeiçoara pela silenciosa companheira daqueles anos.
Entenderam-se num demorado abraço. Havia sido um curioso namoro de quatro anos. Mas ainda tinham que levar o defunto. Sentada no carro ao lado de Sereno, Aparecida segurava sua mão.
Afinal, não era atrás da morte que ela corria, era em direção à vida.
- Cássia -
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
Memórias da Pinheiro por Rosalva Rocha
A Pinheiro Machado e a lua cheia ...
(por Rosalva Rocha – 30/11/09)
Não tive a mesma sorte de conviver por muitos anos com a minha avó paterna – Olívia Knevitz da Rocha – como com a minha avó materna – Rosalina Assis de Oliveira.
A vó Olívia era uma pessoa extremamente simples, de origem alemã, analfabeta (muito embora muito sábia quando se tratava de dinheiro e ensinamentos).
Viuvou muito cedo e passou muito trabalho para criar os filhos – Nicolau, Chiquinho, Arlindo, João, Teobaldo, Julio, Noêmia e Silma.
A partir de um determinado momento da sua vida passou a viver na casa dos filhos – um mês aqui, outro lá, outro acolá ... e assim ia.
Era uma mulher alta, um tanto seca e raríssimas vezes fazia algum tipo de carinho nos netos ... mas era uma excelente pessoa. Tinha uma “secreta” afinidade com a minha mãe – Nita – e com outra nora – a Tia Cantilha, a ponto de pedir à Deus que morresse próxima delas – e assim Deus o fez!
Imagino que, por nunca ter tido um brinquedo e também oportunidade de comprar para os seus filhos, nunca me presenteou com um. O seu presente de aniversário era sempre o mesmo: “um corte de tecido” (as vezes ela dizia “um corte de fazenda”), que ela comprava com muito custo com a miserável aposentadoria que recebia. Lembro-me que a minha irmã – Goretti, também ganhava anualmente um corte de tecido. Imagino que ela fazia da mesma forma para todos os netos, que eram inúmeros.
Pois bem, a Vó Olívia não podia comer comida com sal e, quando estava na minha casa, a pobre da minha mãe repartia o fogão de 4 bocas com a sogra, pois ela não permitia que a nora cozinhasse prá ela.
Quando a senilidade mostrou-se latente, no início de cada mês ela reclamava que a minha mãe havia roubado o seu dinheiro. Era preciso que o meu pai chegasse em casa para levantar o seu colchão e pegar a “fortuna”, explicando sempre a mesma coisa: “mãe, tu colocas sempre o teu dinheiro embaixo do colchão. A Nita nem sabe disto!”.
A vó Olívia nunca foi faceira, mas quando saia do banho (que, diga-se de passagem não gostava muito), aparecia com o rosto sempre branco, coberto de talco. E lá íamos nós “espanar” aquele pó branco do rosto da nossa vó.
Mas, apesar de ter nos deixado muito cedo, deixou “heranças” que ficarão para sempre. Como falei, era sábia!
- Falava constantemente, como se fizesse uma profecia, que as estações do ano, com o passar do tempo, se misturariam. E não é o que está acontecendo?
- Profetizava que o mar tomaria conta das cidades ... muitos casos já foram vistos e
- Por fim, nas noites insuportáveis de calor no verão, costumava sentar na entrada da garagem da nossa casa, e colocava-nos a olhar a lua, sempre quando estava cheia. E sempre falava: “vejam! dentro da lua cheia há um homem plantando um pé de alface. Dá pra ver?”
E eu, “particularmente”, via.
Naquela época eu pensava que a lua, quando virada para a Pinheiro Machado, realmente trazia o desenho de um homem plantando um pé de alface; mas hoje analiso de forma diferente: em qualquer lugar aonde eu esteja, e de onde eu veja uma lua cheia, eu enxergo o “mesmo homem plantando o mesmo pé de alface”.
E não é à toa que eu sempre coloco entre as minhas preferências de vida uma “visão de lua cheia”.
Uma boa lembrança deixada pela vó Olívia.