quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Memórias da Pinheiro por Rosalva Rocha

A Pinheiro Machado e a lua cheia ...

(por Rosalva Rocha – 30/11/09)

Não tive a mesma sorte de conviver por muitos anos com a minha avó paterna – Olívia Knevitz da Rocha – como com a minha avó materna – Rosalina Assis de Oliveira.

A vó Olívia era uma pessoa extremamente simples, de origem alemã, analfabeta (muito embora muito sábia quando se tratava de dinheiro e ensinamentos).

Viuvou muito cedo e passou muito trabalho para criar os filhos – Nicolau, Chiquinho, Arlindo, João, Teobaldo, Julio, Noêmia e Silma.

A partir de um determinado momento da sua vida passou a viver na casa dos filhos – um mês aqui, outro lá, outro acolá ... e assim ia.

Era uma mulher alta, um tanto seca e raríssimas vezes fazia algum tipo de carinho nos netos ... mas era uma excelente pessoa. Tinha uma secreta afinidade com a minha mãe – Nita – e com outra nora – a Tia Cantilha, a ponto de pedir à Deus que morresse próxima delas – e assim Deus o fez!

Imagino que, por nunca ter tido um brinquedo e também oportunidade de comprar para os seus filhos, nunca me presenteou com um. O seu presente de aniversário era sempre o mesmo: “um corte de tecido” (as vezes ela dizia “um corte de fazenda”), que ela comprava com muito custo com a miserável aposentadoria que recebia. Lembro-me que a minha irmã – Goretti, também ganhava anualmente um corte de tecido. Imagino que ela fazia da mesma forma para todos os netos, que eram inúmeros.

Pois bem, a Vó Olívia não podia comer comida com sal e, quando estava na minha casa, a pobre da minha mãe repartia o fogão de 4 bocas com a sogra, pois ela não permitia que a nora cozinhasse prá ela.

Quando a senilidade mostrou-se latente, no início de cada mês ela reclamava que a minha mãe havia roubado o seu dinheiro. Era preciso que o meu pai chegasse em casa para levantar o seu colchão e pegar a “fortuna”, explicando sempre a mesma coisa: “mãe, tu colocas sempre o teu dinheiro embaixo do colchão. A Nita nem sabe disto!”.

A vó Olívia nunca foi faceira, mas quando saia do banho (que, diga-se de passagem não gostava muito), aparecia com o rosto sempre branco, coberto de talco. E lá íamos nós “espanar” aquele pó branco do rosto da nossa vó.

Mas, apesar de ter nos deixado muito cedo, deixou heranças que ficarão para sempre. Como falei, era sábia!

- Falava constantemente, como se fizesse uma profecia, que as estações do ano, com o passar do tempo, se misturariam. E não é o que está acontecendo?

- Profetizava que o mar tomaria conta das cidades ... muitos casos já foram vistos e

- Por fim, nas noites insuportáveis de calor no verão, costumava sentar na entrada da garagem da nossa casa, e colocava-nos a olhar a lua, sempre quando estava cheia. E sempre falava: “vejam! dentro da lua cheia há um homem plantando um pé de alface. Dá pra ver?”

E eu, “particularmente”, via.

Naquela época eu pensava que a lua, quando virada para a Pinheiro Machado, realmente trazia o desenho de um homem plantando um pé de alface; mas hoje analiso de forma diferente: em qualquer lugar aonde eu esteja, e de onde eu veja uma lua cheia, eu enxergo o mesmo homem plantando o mesmo pé de alface.

E não é à toa que eu sempre coloco entre as minhas preferências de vida uma “visão de lua cheia.

Uma boa lembrança deixada pela vó Olívia.

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