sexta-feira, 23 de julho de 2010

Memórias da Pinheiro por Rosalva Rocha

SAUDADES DA VEÍNHA ...

(por Rosalva Rocha – 02/07/2010)


Minha família sempre foi católica, mas nunca dispensou uma benzedura, ato que nos foi traduzido por minha avó materna, que justificava dizendo que era especiamente providencial para as crianças.

Na cidade tínhamos, na minha infância, uma benzedeira de “mão cheia”, a VEÍNHA, mãe da Roberta (uma pessoa muito simples, franzina, que faleceu há poucos anos e que muita amizade sempre teve comigo, a ponto de sempre parar em qualquer lugar por onde passasse e me enxergasse para uma boa conversinha).

Pois bem, a Veínha costumava enveredar-se sempre para a casa da Tia Mosa no mesmo local aonde reside atuamente, na esquina da Rua Marechal Floriano com a Daltro Filho, na diagonal ao Hospital Municipal. Lá ela encontrava carinho e comida. De lá, na maioria das vezes, passava pela casa da minha avó - Rosalina e, geralmente uma vez por semana, quando subia pela Pinheiro Machado para a sua casa, próxima ao Cemitério, passava na casa da minha mãe para a famosa benzedura nas suas filhas (na época eu e a Goretti).

Minha mãe enfileirava-nos sentadas no sofá, com as mãozinhas em cima das pernas e proibia que ríssemos ou fizéssemos algum comentário. E lá ficávamos nós daquela maneira ... Até que virou um hábito e já não mais nos incomodava a situação.

Ela nos benzia com um galhinho de arruda e ficava falando coisas esquisitas bem baixinho e, vez ou outra, minha mãe tinha que colocar uma cadeira às suas costas, pois ela simplesmente “tonteava”. E, geralmente, era quando estava me benzendo ... E eu não entendia nada. Quando ela finalizava a benzedura, sempre dizia: “Tá carregada hein minha fia?” e jogava o galinho de arruda totalmente murcho na grama do jardim.

Recomposta, ela era encaminhada à cozinha e sempre a minha mãe preparava um bom café com leite e um sanduíche como forma de pagamento, já que ela sempre dizia que “benzedura não se paga com dinheiro”.

E assim a Veínha passou a fazer parte da Pinheiro Machado, da minha família e da minha vida.

Vez ou outra ela me questionava: “Fia, tu não tens umas carcinhas véias pra me dar?”

- Eu eu dizia: “Mas Veínha, a gente não dá calcinhas para os outros ...”

E ela respondia:

- “Mas pra mim tá bão, não tem probrema.”

E eu, escondida da minha mãe, acabava dando uma ou duas calcinhas pra ela, já que era muito pequena e magrinha, tanto que as minhas peças certamente serviam nela. Muitas calcinhas minhas, “usadas”, ela usou ... E, mais tarde, a Roberta também, que herdou a mesma mania.

A Veínha era uma pessoa querida e afetuosa. Lembro-me que, vez ou outra, pegava nas minhas mãos e, nas suas palmas, fazia um “sinal da cruz”. Ela gostava verdadeiramente de mim – sempre deu para sentir isto! E, por incrível que possa parecer, com toda a sua vivência quase miserável, tinha uma pele como uma seda. Sinto-a toda vez que penso na leveza das suas mãos, mãos que me benziam e que certamente muito bem me fizeram.

Após o café, ela saia faceira e, antes de subir a Pinheiro, prometia que na próxima semana retornaria. E sempre retornava!

Saudades da Veínha ... assim como eu sei que a Elmara e a Zane devem sentir da mesma forma. Vez ou outra ainda lembramos dela em conversas informais.

Uma “personalidade” marcante nas nossas vidas. Sim! Uma personalidade!

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