A PINHEIRO MACHADO E O FURTO DOS CHURRASCOS
(por Rosalva Rocha – 27/09/2010)
Há pessoas que fazem das suas vidas um palco muito colorido e divertido, abrigando “peças teatrais” que ficarão na história.
E, agradecendo a todos os Santos, me permito deixar aqui registrado que passei a minha infância e adolescência participando desse palco, não como protagonista, mas como uma mera coadjuvante, sempre muito entusiasmada.
Esta crônica deixa uma homenagem a um homem, na minha opinião, incomum, que nos deixou há pouco tempo, mas que as marcas ficarão fixadas na nossa memória sempre de uma forma muito alegre, criativa e divertida – O Sr. Ênio Holmer.
Grandão e brincalhão como era o seu coração.
Tinha uma afinidade incontestável com o meu pai, também protagonista do mesmo palco, da mesma criação das peças.
Faziam “misérias” e hoje, pensando no passado, tenho a sensação de que, ao lado do seu trabalho duro, sempre reservavam um tempo para ludibriarem os revezes da vida e deixar os amigos – os verdadeiros amigos - mais alegres. E sempre conseguiam.
Vez ou outra costumavam, aos domingos, roubarem, sorrateiramente, o churrasco feito pelo outro ao meio-dia e, subitamente aparecerem na casa do “feitor” para convidá-lo, juntamente com toda a sua família, para comer um churrasco maravilhoso, que nada mais era do que o seu próprio churrasco, já assado e tudo. E tudo transcorria na maior festa, sempre regada a muita cervejinha. Se bem que o Sr. Ênio sempre gostou de um bom vinho.
Faziam excursões cinematográficas à Boa Esperança para comprarem vinho, e não raras vezes me deixavam na “Casa das Freiras” para poderem curtir melhor os seus momentos de amizade. E lá, de olho nas freiras, sempre deixavam uma determinação: “prá ela somente vinho doce – ela ainda é uma criança!”. Não preciso falar que nunca mais na minha vida suportei tomar vinho doce. Muitos porres me foram dados pelos “artistas”, sempre atenuados por remedinhos caseiros feitos pela minha mãe quando da minha chegada em casa que, obviamente, me recebia embravecida com as facetas dos dois.
Costumavam fazer visitas rápidas um ao outro, coisa que atualmente quase não mais ocorre entre os amigos e, nelas, sempre havia uma ou outra história das criatividades vividas – se bem que até hoje não sei se eram ou não verídicas, pois a sua imaginação não tinha limites. Os fatos, a cada dia, tomavam contornos diferentes – eram sempre acrescidos de alguma situação engraçada.
Gostaria de continuar convivendo com artistas assim, que pensavam a vida de uma forma diferente, que “matavam” pessoas “vivas” pelo simples prazer de rir e, especialmente porque a morte prá eles nada mais era do que uma coisa normal, tão normal que se foram um pouco mais cedo (o meu pai nem se fala!), mas certamente de alma lavada por terem curtido de forma intensa o período a que eles foi destinado.
No dia do falecimento do Sr. Ênio eu comentei com a minha mãe: “Mãe, o Pai deve estar muito feliz! – Reencontrará o amigo!
Também não preciso deixar aqui registrado que o funeral foi digno da pessoa que ele sempre foi, com a esposa e os filhos muito tristes, mas conformados, rodeado de netos que sempre o adoraram e amigos que lá estiverem para dar simplesmente um “adeus” a um homem que deixará saudades eternas.
A minha única dúvida é se os dois artistas já se encontraram, e se “por lá” há churrasqueira. Porque, se houver, certamente algum furto já foi feito, mesmo em tão pouco tempo. Certamente eles têm muito que recordar ...
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