sábado, 21 de maio de 2011

Cotidiano - por Rosalva Rocha

SMS com amor ...

(por Rosalva Rocha – 01/05/2011)

Tenho uma ligação muito estreita com os filhos dos meus amigos. Trato-os como se meus filhos fossem e os amo de uma forma muito especial. Sei lá ... penso que também são um pouco meus filhos.
Ontem à noite estive na casa da Claire (um lugar onde sinto-me literalmente “em casa”). 
Chegando lá me deparei com uma cena típica de mãe: ela completamente enlouquecida com preocupações com os 4 filhos. Sempre foi assim ... como acontece com a grande maioria das mães. De todas as preocupações a maior residia em cima do filho mais novo - o Bernardo. Ele tinha saído no final da tarde, com uma turma de amigos, para assistirem a um show em Porto Alegre e só retornaria hoje pela manhã, de ônibus. Que situação caótica! Como se a Claire, “nos seus tempos de brilhantina”, nunca tivesse feito coisa igual.
Ligava, ligava, ligava e o Bernardo não atendia. A cada instante ela enlouquecia mais. Eu querendo acalmá-la e, ao mesmo tempo, pensando que estaria da mesma forma, pois também começava a pensar nos perigos que a vida vem nos alertando. Nossa conversa estava tensa ...
De repente, um sinal – celular com SMS! E foi aí que eu, sem querer, quase me emociono na sua frente. Ela lê a mensagem: “Mãe, não se preocupe. Estou bem. Ti amo. Feliz Aniversário adiantado”. Do sorriso da minha amiga brotou luz, muita luz, ao mesmo tempo em que ela olhou para uma santinha colocada ao lado, na sua sala de jantar, e agradeceu com uma devoção que só ela sabe ter. Sim, ela sempre teve uma fé inabalável e, certamente por essa razão, sempre passou por seus problemas de cabeça erguida.
O SMS com amor cobriu a nossa noite de tranqüilidade, fazendo-me ficar lá até às 24 hs, com a minha “comadre” querendo morrer, pois estava morta de sono.
Saí de lá pensando nas voltas que a vida dá e no quanto as mães da nossa geração devem ter sofrido em noites intermináveis, à nossa espera, sem a possibilidade de receberem um SMS desses. Até porque, na idade do Bernardo, eu não costumava dizer “eu ti amo” para a minha mãe, fato que hoje acontece com a maior freqüência.
Esse rápido e simples episódio serviu-me para pensar que a juventude de hoje até pode estar trilhando caminhos um tanto perigosos, mas uma coisa é certa: aprendeu a demonstrar sentimentos. E só isto já vale a pena!
Ao Bernardo o meu carinho e orgulho de sempre ...
À Claire, um Feliz Aniversário, com um desejo um tanto egoísta: “que ela continue sendo a pessoa que é, pois assim a terei pelo resto da minha vida”.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Só lhe dê solidão, Soledade

Sou tão egoísta
quanto uma ostra
que nacara
uma grão de areia
até transformá-lo
numa pérola
e só mostrá-la quando morrer.

Não!
Não posso ser assim

Devo ser como estrela
ou Lua nova
mostrando que sempre
há um novo acontecer

Mudança
Crescimento
Decadência
Renascer!
- Solide Costa -
da Inglaterra para
Santo Antônio da  Patrulha

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Longe do interior...

Delalvescrevendo - edição comemorativa

A Chegada...

Ao sobrinho Arthur

À espera dos pés, sapatos
são passos que levitam
e anciosos ali passeiam
e sob a lua então palpitam.

O laço quase sem folga
anuncia a voz em choro...
Calma, calma. Meu anjo,
a terra e os passarinhos
ainda versam sob a lua;
os passos são de mãos
e o passeio é de rosas
nesta selva de espinhos.

Silêncio! Psiu! Ouço passos...
Os corações palpitam
e sapatos ganham pés
e em choro agora transitam.
- Delalves Costa -

Esta poesia foi escrita há mais ou menos duas semanas, para o pequeno Arthur, um guri forte, saudável e cheio de manhã, que nasceu nessa segunda-feira, dia 09 de maio.

domingo, 8 de maio de 2011

Delalvescrevendo

Domingo à tarde


Espreguiçar dourado... Branco bocejo...
                            [Noturno, face a face.
Na bagunça do tempo
O recesso das horas...
Insólita... a mesmice
Colorindo a tarde de tédio...
O ouro do sol empobrece,
O alvo do dia escurece.
O negro da noite enriquece.

Na praça... Monótono...
Um domingo cinza
Vestindo segunda-feira
Passeia... depressivo.

Delalves Costa

Publicada no livro "Considerações pre-maturas & Outras ausências" (2008)

sábado, 7 de maio de 2011

Capítulos da Josi - Mães

Mães.

Há alguns dias recebi um e-mail com algumas frases que todas as mães dizem, identifiquei a minha em muitas delas e os meus contatos que receberam retornaram dizendo o mesmo.
Não sei se todas as mães são iguais ou os filhos que fazem a mesma coisa, mas o certo é que cada advertência que tinha naquele texto me remetia ao Norte e a voz da mãe me soava nos ouvidos. Na época a voz era forte e brava, semana passada a voz era baixa e eu me esforçava pra ouvir de novo, mais forte, aos gritos.
Passou... hoje a mãe não tem mais os pitis de outrora. Depois de algum tempo e muita evolução conseguimos trocar ideias sem que eu chegue ao final concluindo que a mãe adora empatar a minha vida e ela perca a paciência na primeira tentativa de insistência.
Substituímos os “bate bocas” pela distância. Essa sim corrói.
É uma pena que o ser humano tenha por instinto não aproveitar os momentos para tirar bons proveitos, normalmente nos preocupamos mais em questionar e criticar do que aprender, talvez por que pensamos que temos mais a ensinar aos outros.
Pura ilusão. Se a nossa percepção de fragilidade viesse no momento certo não existia dúvida nem arrependimento, porque todo mundo tem mãe e ninguém as escuta quando realmente é preciso.
O que conforta é que elas também já passaram por isso, já precisaram aprender batendo a cabeça e não ouvindo. Assim como nós, já entenderam a veracidade do ditado: “pernas pra quem não tem cabeça”. E estão lá, sábias e exemplos.
Pra piazada eu sempre digo que não esperem crescer pra perceber que elas tem razão, nem o dia das mães pra dizer o quanto elas são importantes, o tempo não dá muita chance, pode ser que a vida os leve pra alguns kilomêtros de distância e o cotidiano tenha que ser resolvido sozinho mesmo. Sem a responsabilidade solidária do conselho.
Mas é evidente que eles acham que estou exagerando e que ia ser tão mais fácil viverem a sua maneira, sem precisar dar satisfações nem receber recomendações.
Fico no aguardo que daqui alguns anos estejam escrevendo linhas de reconhecimento como as minhas e cantem a música sempre atual, da Elis Regina, “minha dor (NOT) é perceber que apesar de termos feito tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”.
Do lado de cá, ainda na condição de filha, admito que sou o que a minha mãe fez por mim, alcancei porque ela me pegou no colo e hoje, a presença física no cotidiano, me faz uma falta! Aqui por Bagé, só confirmo a mais perfeita definição da palavra mais brasileira do mundo: Saudade é o amor que fica.
A todas as mães, que conhecem a plenitude da mulher, parabenizo pelo dia.
A minha, em especial, quero que saiba que a amo!!!!
- Josi Borges -

Longe do interior...

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Tropeços reprisados

BAÚ

Por vezes visito o lugar silencioso do peito onde guardo as lembranças.
Nem sempre sei ao certo o que procuro, tampouco porque acabei indo buscá-las, apenas sou levada para lá, como uma rajada de vento leva as folhas que nesta semana caíram do Ipê.
Encontro uma bonita música, o poema antigo de um amigo, e com esses guardados estão também momentos que me foram caros e que não voltam mais.
Aos poucos a dúvida sobre o que fui procurar se desfaz.
Já não é importante procurar razões, só estar junto aos meus fantasmas me basta.
São boa companhia e também se sentem felizes com minha visita.
Nem sempre são boas recordações, mas voltar lá me fascina.
E a cada vez que retorno, me refaço em meio a estes esquecimentos.
Ali me perdôo dos primeiros erros, e acho forças para enfrentar os medos que a cada dia se apresentam.
Nesse baú que trago escondido no coração, há lugar pra tudo e todos.
Nele são imortais os que se foram, estão mais próximos e, com eles, sou melhor.
É ali dentro que me permito não ter limites, e me descubro.
E quando o fecho e volto a mim, sei que poderei voltar sempre que preciso, pois ele, com carinho me aguarda.
- Cássia Message -
publicado originalmente no blog do GLP, na coluna "Biscoitos"

domingo, 1 de maio de 2011

Cotidiano - por Rosalva Rocha

Executivos também compram flores ...

(por Rosalva Rocha – 11/04/2011)

Passei anos a fio trabalhando em empresas corporativas, ladeando executivos engravatados, meio neuróticos e literalmente obstinados por suas metas. A sensação que eu tinha, na época, era a de que eles não conseguiam ser românticos, por mais que se esforçassem. O máximo, talvez, seria  pegar o telefone e solicitar à secretária que encomendasse um buquê de flôres para sua amada (sem sequer escolhê-las). Na verdade não era uma sensação – nunca vi mesmo algum executivo realmente romântico. A impressão que eu tinha era de que o mundo deles era absorvido pela empresa, restando muito pouco para “o resto”.
Pois foi na semana passada, no caminho do meu bairro até o centro, que retomei a questão. Passando pela 24 de Outubro com a Dr. Timóteo, na banquinha simples de flôres que está instalada há anos em frente à Casa do Papel (antiga Livraria do Globo), vi saírem sorridentes dois lindos executivos de meia idade, segurando com uma das mãos buquês de rosas vermelhas (cor de sangue mesmo) com a maior naturalidade do mundo. Na outra mão, obviamente, a famosa pasta executiva.
Como eu estava parada na sinaleira, deu tempo para olhar para os seus rostos e sentir o contentamento. Não sei para quem compraram tão lindos buquês ... mas uma coisa me deixou realmente extasiada: não apelaram para as secretárias (que estão acabando, com o tempo, substituídas pela tecnologia) e muito menos para floriculturas famosas, como acontecia naquele tempo.
Divagando sobre o fato, penso que:
- o mundo realmente mudou e o romantismo começa a pairar no ar ...
- a etiqueta da floricultura de renome já não diz mais nada frente ao sentimento ...
- as atitudes simples passam a fazer toda a diferença ...
- e o amor está em alta!
Posso estar equivocada e mesmo “delirando”, mas a cena foi realmente ímpar prá mim.
Arranquei o carro feliz, especialmente pelas duas mulheres (acredito que sejam mulheres – pelo menos na minha cabeça) que as receberam. Podem ser suas esposas, namoradas, amantes, mães, filhas – não interessa! O que interessa é que senti que o mundo está mudando neste sentido.
É, executivos também compram flôres ... Sabe-se lá se, com as intempéries do dia-a-dia, a grande maioria aprendeu a “alargar” o seu mundo e perceber que a base está no amor, nos sentimentos mais puros e que são justamente estes que dão a base para uma carreira profissional bem-sucedida.