sábado, 17 de abril de 2010

Memórias da Pinheiro por Rosalva Rocha

UM SUSTO DAQUELES ...

(por Rosalva Rocha – 21/02/2010)

Na época da minha juventude, não raras as festas de aniversário de 15 anos eram realizadas na própria residência da(o) aniversariante. Geralmente as “guloseimas” eram feitas pela própria família e os móveis da sala arredados para que, após o “parabéns à você”, a turma pudesse dançar à vontade, obviamente que dentro dos padrões estabelecidos para a época (nada de rostos colados!).

Descendo a nossa rua e dobrando à esquerda, na primeira quadra, lá residiam duas grandes amigas da Pinheiro Machado, filhas do Seu Irani e da Dona Carmem – a Clarice e a Jussara. Tinham idade muito próximas e sua casa sempre foi aberta aos amigos de uma forma muito carinhosa.

Chegando o seu aniversário de 15 anos (as duas comemoraram juntas), nós, as amigas, começamos os preparativos - cortes de tecido comprados no Seu Antônio Chico, maquiagens compradas da Dona Nilda (do AVON) e por aí afora. Muito raramente tínhamos a oportunidade de ir à Porto Alegre para alguma aquisição. O dinheiro era sempre muito curto para as meninas da Pinheiro Machado, mas nossas mães sempre “se puxaram” para que as filhas não se entregassem à ausência de algum adorno que as deixassem mais belas.

A ansiedade era inevitável!

Lembro-me até hoje do meu trajinho: “uma saia de linho bege um pouquinho acima dos joelhos e uma blusa estampada com verde, com uma larga fenda nas costas”. O cabelo? Ah sim, ao estilo “pigmaleão”, cheio de laquê! Os olhos pintados com sombra verde nos tons mais variados e, é claro, cílios postiços (acreditem ou não! mas na minha época os cílios postiços eram muito usados – o pior era a tiragem da cola no dia posterior ... mas tudo era válido!).

O dia do aniversário chegou! Três horas de produção e lá saí do meu quarto toda “engomada”. Meu pai, sentado na sua cadeira preguiçosa na área da nossa casa olhou-me, esboçou um sorriso e foi logo dizendo: “No máximo 1 hora da manhã minha filha! No máximo!” (aquelas palavras até hoje me doem – sempre fui meio louca, mas no fundo comportada, não esquecendo jamais que sou do signo de virgem, com ascendente em escorpião e lua em leão, o que me confere uma certa dose de “seriedade”).

Neste momento não me lembro com quem fui, mas provavelmente com toda a turma da Pinheiro.

Chegando lá me deparei com uma bebida que nunca havia tomado antes, toda ela colocada em uma enorme vasilha de vidro com as xícaras penduradas ao seu redor. A bebida chama-se “bole” e a vasinha “boleira”. É feita com frutas diversas e champagne. Muito boa e “chique” na época.

Vale parar um pouquinho para comentar que, graças ao meu encanto com a tal da “boleira”, acabei herdando da Vó Rosalina as xícaras (somente as xícaras) da boleira dela. A boleira fora “espatifada” antes do seu falecimento. Conservo-as na minha cristaleira da sala com muito carinho.

Retornando ... as aniversariantes estavam lindas como sempre: a Clarice com seus cabelos extremamente lisos e negros e a Jussara com seus olhos azuis ... sempre muito educadas e, naquele dia, ainda mais solícitas aos amigos. Belas anfitriãs!

O aniversário transcorreu maravilhosamente bem para satisfação especialmente da Dona Carmem, que sempre teve um orgulho imenso “das suas meninas”, tirando um pequeno deslize de nosso amigo Joel Cardeal, que, estabanado como sempre, acabou tropeçando sobre o lindo bolo de aniversário. Alguns retoques foram dados ligeiramente no bolo e lá seguiu a festa.

Eu, desfalecida com uma paquera de uma semana anterior, acabei esquecendo qualquer promessa feita ao meu pai. “Ele” (a paquera) me tirou para dançar, nos encaminhamos para o meio da sala, cuidei para não colar o rosto no dele e acabei me esvaindo naquela paixão que, convenhamos, era muito mais intensa do que as paixões que rolam atualmente.

A imaginação corria solta até que, subitamente ... um susto daqueles!!!!!!!!! Meu pai, vestido de pijama (acreditem! e era listrado!), com cara de “leão pronto para pegar a presa”, postava-se na porta de entrada da sala.

Não vejo qualquer necessidade de finalizar a história.

O episódio por si só se explica!

Em tempo: Ao ler esta história para minha mãe a mesma comentou que, no momento em que o meu pai entrou no aniversário de pijama, ela chorava na esquina da Pinheiro Machado com a Marechal Floriano, com a Maria Inês bem pequena no colo, dizendo: “Meu velho, por favor, não faça a nossa menina passar vergonha ...”

E como passou ...

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