Um certo espetáculo
“O que mata a sede é a água e não o copo!”
Glênio Fagundes
Algum tempo atrás, estava num semáforo em Pelotas, quando fui abordado por rapazes e moças arrecadando dinheiro para participar de um concurso, era um concurso de danças folclóricas em alguma cidade do nosso estado. De metido, resolvi perguntar o que eles dançavam e me surpreendi com a resposta, entre outras danças tinha um tal de “chote das flores” (o nome não era esse, mas pouco importa, o fato é que ou não existe, ou não é do meu tempo), e como já fui do meio, por mais de 10 anos, posteiro de invernada e com diploma do IGTF (te mete!!!faz tempo!!!), ainda guardo um amansa burro, manual de danças e pilchas com a capa azul, do Paixão Côrtes e Barbosa Lessa -, retruquei pra mim, após dispensar a gurizada, como as coisas mudaram! Não sei se pra melhor ou pior, mas, creio que simplesmente mudaram.
Bueno, entrei pra os ctg’s, com 7 anos de idade, invernada mirim, juvenil, adulta e já mais taludo virei a cabeça quando me pediram pra fazer carteirinha, carteirinha do mtg, quem sabe eu precisasse dela pra comprovar minha identidade, então, por não me enxergar mais dentro desse contexto, de um centro de leis que nada pode a não ser o que eles acham que pode, como por exemplo: bombachas que qualquer um que a use leva um tropicão na própria ou se enreda nas esporas à cavalo, botinha de sanfona com topizinho boleado, lenço de qualquer cor e, pra agasalhar, dispensaram um bom poncho trocando-o por um abrigo de moletom com os símbolos da instituição, mas isso deve ser pra bonito! Na verdade, o que não me serviu foram os costumes, e, eu nunca fui do rebanho, então me bandeei pra o outro lado.
Recentemente, lendo em um jornal de grande circulação, descobri que um cidadão foi excluído dos quadros do mtg, e não podia mais laçar nos rodeios promovidos por ctg’s, porque participou de uma procissão não “abençoada” pelos doutores de hoje do tradicionalismo, mas isso só aconteceu porque ele tinha carteirinha e se resignou a esses mestres. Ora, tradição e folclore é a história de um povo, que herdamos de nossos antepassados, e que havia se perdido; quando alguém se achou no dever, juntou meia dúzia de gato pingado, pesquisou, trabalhou e recuperou nossos costumes. Com esse intuito, homens, travestidos desse ensejo, recorreram o Rio Grande do Sul, atrás de cada idéia, de cada resto de memória, de cada perna cansada que pudesse ensinar meio passo de dança, ou que mesmo surdo pela idade, soasse nota e meia de melodia para comporem esse acervo. Parece-me que isso tudo foi esquecido, a moda agora é estilizar, a única visão que tem esses jovens é “fegart ou enart”, não sabem de onde saíram as danças que executam, que a nossa bota é diferente do cowboy americano, que um lenço significa mais que um enfeite, é a orientação política de quem o usa; aqui no Rio Grande, ou se é contra ou a favor, ou chimango ou maragato, pica-pau ou federalista, gremista ou colorado, é um estado que se tem posições e por isso eu as defendo.
Eu depois que desmamei dos ctg’s, empunhei a bandeira da liberdade, me alimentei de cultura, construí minha personalidade, compus versos, participei de festivais de música por outros 10 anos, sempre com a minha autenticidade. Hoje, de uma forma mais caseira, espero estar contribuindo de alguma maneira para que as pessoas se dêem conta do que já foi feito, e que há muito por fazer, mas dentro de limites, dentro de um contexto, um panorama que nos foi regalado, talvez por isso, agora a pouco, em um evento, se homenageava o símbolo do tradicionalismo, o próprio “Laçador” de Caringi, em carne, osso e bigode, Paixão Côrtes, que infelizmente, não pode comparecer para apreciar o espetáculo da sua obra!
Christian Davesac
Rincão das Corticeiras, 7 de setembro de 2010
*Christian Davesac também escreve no projeto Colunistas, www.radiosul.net
MEU DEUSSSSS, Q BELO ARTIGO CHRISTIAN, CHEGUEI A ME EMOCIONAR PQ TB SINTO COMO TU, CONSEGUISTE TRADUZIR EM PALAVRAS O SENTIMENTO DO NATO TRADICIONALISTA.
ResponderExcluirSOU FILHA DE UM HOMEM Q É UM GAÚCHO COMPLETO, USA BOMBACHA DIARIAMENTE, ANDA A CAVALO, LAÇA, PEALA, CULTIVA AS COISAS DO HOMEM DO CAMPO E FAZ VERSOS COM TAMANHA SENSIBILIDADE, POR ISSO ENTENDO BEM O Q FALAS, POIS VIVO ISTO DIARIAMENTE... PARABÉNS. SABRINA FERREIRA.