sábado, 4 de setembro de 2010

Memórias da Pinheiro por Rosalva Rocha

Insanidades de uma Juventude Meio Transviada

(por Rosalva Rocha – 11/08/2010)


Lá pelos idos da década de 80 a Pinheiro Machado, justamente no número 455, era palco constante de encontro de amigos antes de saírem para algum programinha.

Mas nem sempre tinha programinha, o que fazia com que a turma tivesse que “inventar” constantemente algo para fazer, além de colocar o papo em dia.

O pior era sempre o domingo, já que, depois da missa (todos iam – era o “evento!”), o tempo se tornava ocioso.

Eu, na época, já trabalhava e residia em Porto Alegre, mas costumava tomar o 1º. ônibus nas segundas-feiras, com o objetivo de aproveitar “os últimos minutos do segundo tempo” de todos os finais de semana. Naquela época, Porto Alegre prá mim era um suplício, o que já não mais ocorre hoje, já que aninhei-me dela e dela tiro o maior proveito que posso.

Pois em um desses domingos estávamos nós (lembro-me que eu, a Goretti, o Galinho , o Geraldão, o Joel, a Claire, o Paulo Gilberto, o Alexandre, o Sergio Ceroula, a Licinha e não lembro de quem mais) na minha casa meio entediados. Precisávamos fazer algo realmente interessante - e nada! Nossa energia estava por explodir!

Eis que, de repente, a Goretti - justamente a Goretti que sempre foi extremamente reservada e considerada a “inanimada” da turma, levantou uma idéia bombástica: “que tal batermos o sino da Igreja?”.

Sem comentários! Não pensamos! Saímos todos direto para a Igreja das Pitangueiras, já que foi considerada a mais fácil para acesso ao sino.

De onde veio a escada e a corda? Não lembro!

Quem subiu? O Galinho.

Muitas badaladas com o Galinho pendurado na corda de um lado para outro. Cidade alvoroçada (naquela época bateção de sino sinalizava, além de missa, morte).

Após a bateção não lembro aonde deixamos a escada e a corda (que eram imensas) e saímos todos, em dois carros, “fugidos” para a estrada que ladeia o Açude dos Caetanos. E lá ficamos nós, bem quietinhos, imaginando que a polícia já devia estar atrás dos “delinqüentes”.

Não preciso contar que não dormi naquela noite. As nossas brincadeiras sempre foram saudáveis, dentro dos limites considerados normais para a época - mas aquela tinha simplesmente “arrepiado”.

Segunda-feira. Tomei o ônibus e rumei diretamente para o trabalho em Porto Alegre. A preocupação pairava na minha cara. Não conseguia pensar em outra coisa. Nem em dor, nem em amor ...

Terça-feira. Um telefonema. Do outro lado da linha alguém dizia, em tom enfurecedor:

“É a Rosalva? Por favor, agende aí uma visitinha na Delegacia de Polícia de Santo Antônio em função da tua travessura no último domingo”. Fiquei atônita e, logo em seguida liguei para o Paulo Gilberto que, não só estava conosco no domingo, como era filho do Delegado de Polícia da época (que costumava perambular pela cidade com uma “fatiota” com tecido imitando couro de cobra!).

Diálogo:

Eu: “Meu Paulinho (era assim que eu o chamava), tu recebeste uma ligação da Delegacia?

Ele: Eu não, mas fiquei sabendo que te intimarão como líder do tal do “Grupo do Sino”. Ouvi o meu pai falar ...

Putz!!!!!!!!!!!!!!!!! O que os cidadãos patrulhenses diriam?

Eu estava literalmente “ralada”. Coração aos pulos. Não conseguí trabalhar mais. Não conseguí mais viver, até tomar conhecimento de que a ligação tinha partido justamente do Meu Paulinho.

A delinqüência foi comentada pela cidade por muitos dias e certamente até hoje muita gente questiona quem foram os loucos que fizeram tudo aquilo com Jesus.

Jesus? Perdoe-me Jesus! Mas nas noites de domingo nós não costumávamos pensar no senhor. Era praticamente impossível. Uma juventude meio transviada, tresloucada, nada maculada, precisava colocar a sua energia prá fora.

Depois de tantos anos, estamos perdoados?

2 comentários:

  1. Rosalva...simplesmente demais!!!Por instantes revivi aquela noite "fatídica". Tínhamos alegria, muita alegria, porém, faltou-nos estrutura para tanto, pois passamos aquela semana DESESPERADOS, APAVORADOS, acreditando que poderíamos ser presos!!
    Muito boa esta!!

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  2. É verdade! E nunca fomos preparados para o xilindró ... rsrs.

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