domingo, 25 de outubro de 2009
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
Um furto na Pinheiro Machado (por uma boa causa!)
Por Rosalva Rocha (rosalva.rocha10@gmail.com)
17/10/2009
Desde a infância sempre fui instigada a ler, especialmente por meu pai que, infelizmente, cursou somente até o 5º. ano primário e, por essa razão, buscava nos livros, jornais e nas famosas “Seleções” o campo aberto para novos saberes.
Desta forma, os livros passaram a ser muito importantes prá mim. Sempre os guardo com muito zelo.
Neles tudo me atrai – o seu formato, o seu cheiro - independentemente da sua origem ou significado.
Apoiando-me nesta afirmativa ouso confessar neste espaço um dos episódios mais feios da minha vida.
Pois bem, na Pinheiro Machado residia o Dr. Bonifácio, excelente médico e grande escritor. A sua casa era antiga e em poucas ocasiões tive oportunidade de adentrá-la. Lembro-me muito bem da sua família, todos muito inteligentes, hospitaleiros e simpáticos. Todos muito parecidos entre si ... os anos passaram e continuam assim.
Um parêntese para a Marcia Zebina, a filha mais nova, com idade próxima à minha - uma das mais lindas rainhas de carnaval que já vi. Arrebatou uma das noites com um macacão azul escuro totalmente bordado com lantejoulas pelas mãos de ouro da Natinha. A pele cor de jambo, a alegria e o samba no pé estremeceram o clube. Estava linda, diferente, glamourosa ... e simples como sempre.
Mas deixando o “parêntese-carnaval” de lado, depois da morte do Dr. Bonifácio, a sua esposa, Dona Luiza, mudou-se para uma casa nova, bem próxima, mais perto da fonte ... e a antiga casa ficou vazia.
Em uma das minhas caminhadas diárias, passando em frente à casa que já se encontrava abandonada, percebi que a porta da frente estava aberta. Decidi entrar para desvendar qualquer mistério que por lá ainda pairasse. Nada! até chegar em um cômodo dos fundos onde visualizei alguns pacotes com vários exemplares do livro escrito pelo Dr. Bonifácio intitulado “Tristuras e Anseios”. Mesmo contra tudo o que havia aprendido, “furtei” um exemplar “sorrateiramente” (mesmo tendo consciência de que o ato era por demais vergonhoso e jamais seria perdoado por meus pais). Não preciso falar que me deliciei com a leitura, mantive segredo absoluto e guardo o livro até hoje.
O lamentável segredo se manteve por longos e longos anos até que, no final de 2007, encontrando a Dona Luiza e o Nicanor, seu filho, em um evento em Santo Antônio para homenagear os autores patrulhenses, ousei confessar o acorrido e, para minha alegria, fui perdoada com dois largos sorrisos, complementados pela mão daquela terna senhora sob a minha com um olhar de bondade.
Confesso que até mesmo a vergonha do ato passou, pela certeza de que eles entenderam que o furto ocorrera por uma “boa causa”.
Algum tempo depois eu soube que a Dona Luiza havia falecido. Logo pensei que tudo, mas tudo na vida é muito providencial .... Eu estava perdoada! E mais: “Tristuras e Anseios” passaria a ter um significado ainda maior prá mim.
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
terça-feira, 20 de outubro de 2009
Tropeços indignos ou indignados?
Hoje ouvi nosso caríssimo presidente dizer que “o Brasil será a quinta economia mundial mais rápido do que pensamos”.
E me pergunto: nós pensamos mesmo nisso?
Será realmente importante pra mim, pra você e praquele amigo seu que tem pós-graduação e não ganha nem pro básico, o Brasil ser uma super economia?
Do fundo da minha ignorância político-econômica, eu digo: não!
Importante pra mim é deitar a cabeça no travesseiro sem fazer a contabilidade das contas que não posso pagar, ter um teto seguro onde deixar esse travesseiro, comer com dignidade, estender a mão quando um amigo precisa mais do que eu, e se não for pedir demais, ter uns ‘pila’ pra uma cervejinha sincera e uma conversa honesta no Pororoca em alguma sexta-feira.
Ah, mas o Brasil vai ser a sei lá qual posição na economia mundial.
Afinal, nosso país já deixou a crise pra trás.
Ou, pelo menos, trancou-a dentro das casas de quem não dá ‘ibope’!
Patrulhenses na Feira do Livro (I)
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
Pérolas do Rico - Relembranças
R E L E M B R A N Ç A S
Nas férias de verão tinha as melancias que meu tio plantava. Era uma roça que ficava no meio do campo, próximo da sanga. Quem descia da casa, rumo à estrada, na direção da porteira que levava para a Esquina e para o Veadinho, passava ao lado dela.
As melancias exuberantes mostravam o lombo por entre os pés de mandioca.
Os meus tios levantavam cedo, iam trabalhar e, mais tarde é que vinham tomar o café da manhã. Lembro-me quando a minha avó gritava: - Zerino, diz para o Badeu trazer uma melancia quando vir tomar café. Mais tarde aparecia Badeu com uma enorme melancia no ombro. Já vinha direto ao poço, que ficava ao lado da casa. Colocava a melancia num balde ou numa lata e descia por uma corda até o fundo do poço, para refrescar a saborosa fruta.
Quando o sol esquentava mais forte eles vinham da roça, cortavam a melancia, com aquele miolo serenado, e todos comiam com pedaços de queijo, feitos pela minha avó.
Bem no alto do morro, já quase na caída para os lados do poente, ficavam os pés de tucum, pretos e deliciosos. Viviam ali, no meio do mato produzindo cachos abarrotados de frutos. Cresciam naquele silêncio.
No inverno, tinham as bergamotas da tia Florência. Era uma chácara velha, na subida do morro, à esquerda de quem estava nos fundos da casa, cheia de bergamoteiras.
Os pés eram carregados, amarelos de tantas bergamotas saborosas. A gente subia nas bergamoteiras e escolhia as mais bonitas. Em volta dos pés, as saíras coloridas voavam em revoadas, colorindo de arco-íris voejantes, o céu azul cristalino daquele mês de junho.
As ameixas roxas, cujos pés ficavam no arvoredo, próximos das taquareiras, eram doces e acinzentadas por fora. Nunca comi ameixas tão gostosas.
Bem no fundo da casa tinha um pé de jambo. Os frutos perfumados e amarelados eram deliciosos. Cansei de subir no pé, que era bem alto, e comer jambos até sair dali enfarado de tantos frutos.
Uma lembrança bem forte é das laranjas do céu. Tinha um pé que ficava ao lado dos destroços da casa velha, próximo do piquete do tio Candinho.
As laranjas eram enferrujadas e continham uma névoa acinzentada em suas cascas. Eu subia no pé e chupava aquelas laranjas maravilhosas. Eram doces e sadias.
Hoje se encontra muitas variedades nas fruteiras, mas sem querer ser saudosista, frutas como aquelas não existem mais.
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
Tropeços solitários
Há alguns anos saí da casa dos meus pais para procurar um lugar pra chamar de meu. Assim cheguei a Pinheiro Machado e às intermináveis noites insones.
Hoje, retorno pra casa depois de dez dias hospedada na casa da minha mãe, coisa que ainda não tinha feito desde a mudança.
E me sinto como se a vida simplesmente tivesse parado durante esse tempo. Ao menos como a conheço agora.
Dormi e acordei muito cedo todos os dias. Tomei café da manhã, quase nenhum café preto e apenas um chimarrão – vícios que cultivo com devoção.
Computador? Apenas o necessário para deixar as contas e as correspondências urgentes em dia.
Livros? Filmes? Trabalho? Nada.
Foram bons dias junto com minha mãe, apesar de motivados por uma dolorosa perda.
Estava na casa onde cresci, onde me sinto querida e acolhida.
Mas é maravilhoso estar em casa.
Este lugar pequeno tem meu cheiro, meus sons, minha história adulta.
Meu jardim, as bromélias e as orquídeas.
Meus livros, pela metade, por começar, quase no fim, espalhados por toda a casa.
Minha solidão, companheira silenciosa e amiga fiel, à minha espera já no portão.
Neste lugar estão guardados minhas emoções, minhas idéias, inestimáveis tesouros.
Egoísmo, individualismo? Talvez.
Mas não sou chegada a rótulos e definições. Tampouco reprimo meus sentimentos por conta de convenções que não me comportam.
É nesse canto que sou livre, mesmo entre paredes de concreto.
E onde encontro inspiração, conforto e coragem pra dividir estes meus tropeços.
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
Vaidade
Bj
Jassira"
Vaidade
(Florbela Espanca)
Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!
Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!
Sonho que sou Alguém cá neste mundo...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a terra anda curvada!
E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho...
E não sou nada!...
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
Capítulos da Josi - Mercedes Sosa
É impossível para alguém que escreveu uma vez em um blog cultural, não voltar a ele nesse momento.
Momento de luto pela perda da cantora argentina Mercedes Sosa.
Talvez pela perda da mulher Mercedes Sosa, que apenas usou sua incomparável voz e talento para alterar as rotinas normais da música latinoamericana.
Mercedes não se contentou em cantar o folclore de Tucumán (Província Argentina onde nasceu) e cantou o folclore argentino, chileno, boliviano, brasileiro...
Embora seu estilo musical fosse muito próximo do estilo gaúcho cantou, por exemplo, com Fito Paez, Shakira, Luciano Pavarotti, Andrea Bocelli além de gravar com brasileiros como Daniela Mercury, Chico Buarque, Gal Costa, Beth Carvalho, Luis Carlos Borges e Milton Nascimento, de quem regravou muitas músicas; prova de que foi capaz de fazer no mundo o que os brasileiros não conseguem fazer no próprio país, unir gênero e gerações musicais de forma perfeita.
Na minha vida ela também deixou história. O meu casamento em Santo Antonio da Patrulha foi uma junção de diferenças: lugares, ideias e culturas diferentes. A começar pelos noivos, ele o Gaúcho, vive o Rio Grande do Sul na mais profunda essência; ela a Moderna, curte Titãs e não dispensa o samba. Pois foi nesse choque que durante o jantar rodou todos os DVDs de La Negra, admirada e elogiada por todos os convidados. Unanimidade.
Ela era assim, não precisava gostar do tipo de música, bastava gostar de boa música para gostar de Mercedes Sosa.
Ela se foi...nos deixou órfãos da sua presença; mas não da sua voz, que continuará rompendo gerações através dos fãs, como eu, que terão muito dela para passar aos filhos.
La Negra mesmo cantava (de Milton Nascimento) “Quem trás na pele essa marca possui a estranha mania de ter fé na vida”.
- Josi Souza Borges -
Meia Meia 2
A Pinheiro Machado e as Serenatas
As famosas “serenatas” fizeram parte da Pinheiro Machado na década de 70.
Na época, era uma das ruas mais visitadas por elas, justamente por abrigar um número expressivo de meninas com faixa etária próxima, conforme já descrito em post anterior.
Geralmente ocorriam às sextas-feiras, após às 24 hs.
Chegavam com turmas de meninos distintas e traziam o fervor de uma juventude encantada ... travessa, meio itinerante, mas muito envolvida com o prazer de viver.
Eram esperadas ansiosamente por nós. Os vidros das janelas eram abertos para que o som fosse interrompido somente pelas venezianas (só por elas!).
Em muitas ocasiões, uma turma de seresteiros precisava aguardar a outra para apertar o botão do gravador “National”, conectado à uma caixinha de som de madeira de uma forma muito caseira.
Essas eram as serenatas convencionais, que se apagavam frente ao brilho daquelas que traziam um violão e algumas vozes “um tanto afinadas”. Uma certa raridade, já que os músicos eram poucos e nem sempre “fechavam acordo” com os meninos que transitavam constantemente pela Pinheiro Machado.
Em algumas ocasiões, alguns “toques” eram dados por eles antecipadamente, para que providenciássemos uma caipira do lado de fora da casa para aguardá-los. Na minha casa, lembro-me bem, deixávamos a caipirinha em cima do tanque, que ficava na área dos fundos.
E, como não havia grades na época, os meninos, o gravador e a caixinha de som entravam sem a menor cerimônia para apresentar o repertório escolhido para o dia.
E nós ficávamos quietinhas, já na cama, curtindo as músicas e imaginando o que estaria acontecendo do outro lado da janela.
Lembro-me que, em uma das serenatas de sextas feiras, um enorme barulho interrompeu a música. Os meninos riram muito e saíram em disparada. No outro dia fiquei sabendo que a caixinha de som havia caído das mãos de um dos integrantes e se desconectado do gravador “National” (a pilhas). Espetáculo encerrado sem direito à nova tentativa!
E a imaginação corria solta, pois em muitas ocasiões não era possível nem mesmo saber quem estivera por lá ... O silêncio era a tônica ... e somente alguns passos eram ouvidos.
Quando uma paquera estava no auge, era possível perceber que as músicas eram providencialmente escolhidas (mais calmas) ... e a paixão aflorava mais e mais forte.
Nem mesmo o amadorismo com que as serenatas eram feitas maculava o apelo das canções.
Pela Pinheiro Machado rolava “Can´t by me love”, “Bridge over trouble water”, “Feelings” e tantas outras músicas que, na época, nem se sabia do que as letras tratavam.
Se sabia sim que as serenatas apareceriam para encantar as nossas noites, aflorar a nossa inocência, despertar os nossos amores e os nossos sonhos de um mundo encantado.
Rosalva Rocha – 06/10/09
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
Capítulos da Josi
Amo esse blog!
Seria exagero dizer que ele me traz recordações da Rua Pinheiro Machado ou até de Santo Antonio da Patrulha, onde morei por apenas três anos. Embora tenha um carinho muito grande pela terrinha, confesso que a Rua me deixa mais saudosa aqui na Boca do Monte, pois encerrar as jantinhas com tapete da sala arrastado e o som em altura máxima tocando os sambas das escolas do Rio até algumas da madrugada não tem como não deixar saudade. Isso acontece na casa dos meus Tios Joelson e Mercedes, onde????? Na Pinheiro Machado (entre outras histórias...).
Mas o que realmente me atrai todos os dias a ir aos favoritos, são as informações e comentários lá do 662 (por ex.) que me fazem ficar mais próxima dos meus, que estão por Santo Antonio e que amenizam a saudade. Além do principal, a boa leitura.
Sou fã número um da blogueira, tanto que quando vou dormir peço nas minhas orações que a Cássia continue insone (rsrsrs).
Acho que a internet, ao mesmo tempo que nos obriga a saber quase em tempo real, que o jogador Ronaldo vai ser pai mais duas vezes, também nos escancara boas leituras, que envolvem bom português, boas opiniões e boas ideias.
Talvez esse avanço tecnológico louco, seja a fonte para apresentar os grandes talentos que muitas vezes estão perdidos nas gavetas dos criados-mudos.
Espaçosamente aproveitando a liberdade que me foi data, me apresento formalmente ao blog Insônia, para circular por aqui de vez em quando!
- Josi Souza Borges -