As famosas “serenatas” fizeram parte da Pinheiro Machado na década de 70.
Na época, era uma das ruas mais visitadas por elas, justamente por abrigar um número expressivo de meninas com faixa etária próxima, conforme já descrito em post anterior.
Geralmente ocorriam às sextas-feiras, após às 24 hs.
Chegavam com turmas de meninos distintas e traziam o fervor de uma juventude encantada ... travessa, meio itinerante, mas muito envolvida com o prazer de viver.
Eram esperadas ansiosamente por nós. Os vidros das janelas eram abertos para que o som fosse interrompido somente pelas venezianas (só por elas!).
Em muitas ocasiões, uma turma de seresteiros precisava aguardar a outra para apertar o botão do gravador “National”, conectado à uma caixinha de som de madeira de uma forma muito caseira.
Essas eram as serenatas convencionais, que se apagavam frente ao brilho daquelas que traziam um violão e algumas vozes “um tanto afinadas”. Uma certa raridade, já que os músicos eram poucos e nem sempre “fechavam acordo” com os meninos que transitavam constantemente pela Pinheiro Machado.
Em algumas ocasiões, alguns “toques” eram dados por eles antecipadamente, para que providenciássemos uma caipira do lado de fora da casa para aguardá-los. Na minha casa, lembro-me bem, deixávamos a caipirinha em cima do tanque, que ficava na área dos fundos.
E, como não havia grades na época, os meninos, o gravador e a caixinha de som entravam sem a menor cerimônia para apresentar o repertório escolhido para o dia.
E nós ficávamos quietinhas, já na cama, curtindo as músicas e imaginando o que estaria acontecendo do outro lado da janela.
Lembro-me que, em uma das serenatas de sextas feiras, um enorme barulho interrompeu a música. Os meninos riram muito e saíram em disparada. No outro dia fiquei sabendo que a caixinha de som havia caído das mãos de um dos integrantes e se desconectado do gravador “National” (a pilhas). Espetáculo encerrado sem direito à nova tentativa!
E a imaginação corria solta, pois em muitas ocasiões não era possível nem mesmo saber quem estivera por lá ... O silêncio era a tônica ... e somente alguns passos eram ouvidos.
Quando uma paquera estava no auge, era possível perceber que as músicas eram providencialmente escolhidas (mais calmas) ... e a paixão aflorava mais e mais forte.
Nem mesmo o amadorismo com que as serenatas eram feitas maculava o apelo das canções.
Pela Pinheiro Machado rolava “Can´t by me love”, “Bridge over trouble water”, “Feelings” e tantas outras músicas que, na época, nem se sabia do que as letras tratavam.
Se sabia sim que as serenatas apareceriam para encantar as nossas noites, aflorar a nossa inocência, despertar os nossos amores e os nossos sonhos de um mundo encantado.
Rosalva Rocha – 06/10/09
Quantas saudades daqueles tempos em que éramos sem dúvida, a imagem viva da alegria, da leveza,da euforia...Amei relembrar esses momentos que nos deram tantos sonhos e até....alguns casamentos!!
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