R E L E M B R A N Ç A S
Nas férias de verão tinha as melancias que meu tio plantava. Era uma roça que ficava no meio do campo, próximo da sanga. Quem descia da casa, rumo à estrada, na direção da porteira que levava para a Esquina e para o Veadinho, passava ao lado dela.
As melancias exuberantes mostravam o lombo por entre os pés de mandioca.
Os meus tios levantavam cedo, iam trabalhar e, mais tarde é que vinham tomar o café da manhã. Lembro-me quando a minha avó gritava: - Zerino, diz para o Badeu trazer uma melancia quando vir tomar café. Mais tarde aparecia Badeu com uma enorme melancia no ombro. Já vinha direto ao poço, que ficava ao lado da casa. Colocava a melancia num balde ou numa lata e descia por uma corda até o fundo do poço, para refrescar a saborosa fruta.
Quando o sol esquentava mais forte eles vinham da roça, cortavam a melancia, com aquele miolo serenado, e todos comiam com pedaços de queijo, feitos pela minha avó.
Bem no alto do morro, já quase na caída para os lados do poente, ficavam os pés de tucum, pretos e deliciosos. Viviam ali, no meio do mato produzindo cachos abarrotados de frutos. Cresciam naquele silêncio.
No inverno, tinham as bergamotas da tia Florência. Era uma chácara velha, na subida do morro, à esquerda de quem estava nos fundos da casa, cheia de bergamoteiras.
Os pés eram carregados, amarelos de tantas bergamotas saborosas. A gente subia nas bergamoteiras e escolhia as mais bonitas. Em volta dos pés, as saíras coloridas voavam em revoadas, colorindo de arco-íris voejantes, o céu azul cristalino daquele mês de junho.
As ameixas roxas, cujos pés ficavam no arvoredo, próximos das taquareiras, eram doces e acinzentadas por fora. Nunca comi ameixas tão gostosas.
Bem no fundo da casa tinha um pé de jambo. Os frutos perfumados e amarelados eram deliciosos. Cansei de subir no pé, que era bem alto, e comer jambos até sair dali enfarado de tantos frutos.
Uma lembrança bem forte é das laranjas do céu. Tinha um pé que ficava ao lado dos destroços da casa velha, próximo do piquete do tio Candinho.
As laranjas eram enferrujadas e continham uma névoa acinzentada em suas cascas. Eu subia no pé e chupava aquelas laranjas maravilhosas. Eram doces e sadias.
Hoje se encontra muitas variedades nas fruteiras, mas sem querer ser saudosista, frutas como aquelas não existem mais.
Água na boca ...
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