sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Pérolas do Rico - Relembranças

R E L E M B R A N Ç A S

As saíras coloridas

Nada me traz tão saudosa lembrança do que as frutas da minha infância. Quando menino, ia muito para os meus avós e me deliciava com as gostosuras que lá encontrava.

Nas férias de verão tinha as melancias que meu tio plantava. Era uma roça que ficava no meio do campo, próximo da sanga. Quem descia da casa, rumo à estrada, na direção da porteira que levava para a Esquina e para o Veadinho, passava ao lado dela.

As melancias exuberantes mostravam o lombo por entre os pés de mandioca.

Os meus tios levantavam cedo, iam trabalhar e, mais tarde é que vinham tomar o café da manhã. Lembro-me quando a minha avó gritava: - Zerino, diz para o Badeu trazer uma melancia quando vir tomar café. Mais tarde aparecia Badeu com uma enorme melancia no ombro. Já vinha direto ao poço, que ficava ao lado da casa. Colocava a melancia num balde ou numa lata e descia por uma corda até o fundo do poço, para refrescar a saborosa fruta.

Quando o sol esquentava mais forte eles vinham da roça, cortavam a melancia, com aquele miolo serenado, e todos comiam com pedaços de queijo, feitos pela minha avó.

Bem no alto do morro, já quase na caída para os lados do poente, ficavam os pés de tucum, pretos e deliciosos. Viviam ali, no meio do mato produzindo cachos abarrotados de frutos. Cresciam naquele silêncio.

No inverno, tinham as bergamotas da tia Florência. Era uma chácara velha, na subida do morro, à esquerda de quem estava nos fundos da casa, cheia de bergamoteiras.

Os pés eram carregados, amarelos de tantas bergamotas saborosas. A gente subia nas bergamoteiras e escolhia as mais bonitas. Em volta dos pés, as saíras coloridas voavam em revoadas, colorindo de arco-íris voejantes, o céu azul cristalino daquele mês de junho.

As ameixas roxas, cujos pés ficavam no arvoredo, próximos das taquareiras, eram doces e acinzentadas por fora. Nunca comi ameixas tão gostosas.

Bem no fundo da casa tinha um pé de jambo. Os frutos perfumados e amarelados eram deliciosos. Cansei de subir no pé, que era bem alto, e comer jambos até sair dali enfarado de tantos frutos.

Uma lembrança bem forte é das laranjas do céu. Tinha um pé que ficava ao lado dos destroços da casa velha, próximo do piquete do tio Candinho.

As laranjas eram enferrujadas e continham uma névoa acinzentada em suas cascas. Eu subia no pé e chupava aquelas laranjas maravilhosas. Eram doces e sadias.

Hoje se encontra muitas variedades nas fruteiras, mas sem querer ser saudosista, frutas como aquelas não existem mais.

Joelson M. de Oliveira

joelson.oliveira@via-rs.net

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