quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Memórias da Pinheiro por Rosalva Rocha

A casa de número 455 da Pinheiro Machado ficava vazia nos Natais ...

(por Rosalva Rocha – 03/12/09)

É possível que seu navegador não suporte a exibição desta imagem.Minha infância e adolescência tinham um toque diferente no dia de Natal.

Quase todos os anos a Vó Rosalina reunia toda a família na sua casa na Marechal Floriano para comemorar a data.

E nós, felizes da vida, deixávamos a Pinheiro Machado naqueles dias, quase sempre iluminados – hoje tenho a sensação de que a chuva e o mau tempo não pertenciam aos Natais daquela época.

Minha avó, a Natinha, a Tia Teresa e a minha mãe trabalhavam dias a fio na semana anterior para preparar as guloseimas que comeríamos no dia.

Lembro-me de um prato que a Vó Rosalina nunca deixava de fazer: “sarrabulho”, feito com os miolos do boi – ela cortava-os em pedaços bem quadradinhos e pequenos, temperava-os e depois colocava um tipo de farinha. Em homenagem à ela, a minha mãe sempre faz o mesmo prato, só que na virada de ano e com uma ressalva: os quadradinhos não são milimetricamente cortados e acabam ficando disformes (coisa que só a vó sabia fazer).

A família é imensa e muito gritona, muito embora longe de origem italiana. Gritávamos tanto que vez ou outra a Tia Teresa pedia, com a sua gentileza habitual, que baixássemos a voz.

Mas tudo era alegria. Os genros da vó (a quem ela adorava), acabavam bebendo demais e sendo levados pra casa por suas mulheres sempre muito irritadas. As Oliveiras sempre foram “duras de roer” (e eu não deixei de puxar à elas nesse sentido).

A casa ficava sempre muito bem ornamentada pelas mãos mágicas da Natinha. Os presentes eram trocados e tinham características bem diversas, uma vez que a situação financeira das famílias ia de altos a baixos.

Lembro-me que, enquanto alguns primos ganhavam bicicletas e triciclos lindos eu e a minha irmã mais nova ganhávamos bonecas duras, daquelas que não moviam os braços e as pernas. Mas brincávamos da mesma forma e com a mesma alegria.

E a vó fazia questão de separar as mesas – da mesma forma quando fazia os famosos churrascos na sua casa no dia do seu aniversário – uma mesa era para as crianças e a outra para os adultos (grandes mesas!). E, quando eu cheguei lá pelos 13, 14 anos uma certa ansiedade se fez presente: qual mesa me seria designada? Eu queria a mesa dos adultos!

Naquela época, não foram todos os Natais que a vó comemorou na casa dela, mas lembro-me muito bem de vários deles.

Após o jantar o buffet de sobremesas era de arrasar – penso que as Oliveiras disputavam entre si o melhor doce (e todas eram muito boas nisto, especialmente a Tia Evy e a Tia Maria).

E depois vinha a louça! Quanta louça! E eu, sempre muito apegada à Natinha, queria auxiliá-la, o que a deixava muito irritada e sempre dizia: “Sai Rosalva, tu és muito lerda” (eu certamente deveria ter tratado em terapia essa frase, pois até hoje, quando vou lavar uma louça, me lembro dela). Ah Natinha, se eu não te amasse tanto eu juro que não te perdoaria!

Eu, particularmente, tinha ciúmes da Ângela, da Jussara e da Rose. Na época já eram mocinhas e apareciam pintadas com batom vermelho. E comigo? Quando isto aconteceria?

Hoje a vó já não está entre nós. A Tia Evy, a Tia Tereza e aTia Toni também, bem como o Tio Nilo, Tio Pê, o Tio Carlos e meu pai ... mas as boas lembranças certamente ainda permanecem nas nossas cabeças.

E, neste ano, em homenagem à vó, resolvemos organizar o “I Encontro Anual dos Netos da Vó Rosalina” em maio passado. E acreditem ou não ... a gritaria continua a mesma!

2 comentários:

  1. ...realmente aqueles Natais foram inesquescíveis! Quanta saudade!!!Acho que Deus foi de uma bondade imensa nos presenteando com uma Vó tão especial e sábia, que sempre soube entender os problemas de toda a família com uma lucidez ímpar!!!Parabéns pelo que escrecestes! Goretti

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  2. Que texto bonito...como é bom ter essas histórias para contar!!
    Um abraço Sonia Schebela

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