sábado, 5 de dezembro de 2009

Novela em Bate-Bola - Capítulo 4

Capítulo 4 (Josi)

- Entendo o que dizes; Jovita também é uma grande amiga. Fundamental para que eu superasse tudo o que passamos... Fazer a vida da gente desgrudar do presente e virar história só mesmo quando estamos acompanhadas por verdadeiros anjos. Filosofou.

Joana voltou pra mesa e continuou o jantar.

A mãe, que já havia acabado, ficou ao lado da filha olhando-a devorar com satisfação o alimento que passara horas preparando.

Não havia muito que ser dito; numa casa onde mora mãe e filha as palavras são supérfluas. O olhar, os gestos, até um suspiro explicava com precisão o que se estava sentindo.

Joana rasgava o pão que acompanhava a lentilha; lentamente matava a fome que horas atrás parecia que jamais seria saciada.

Enquanto isso a mãe apurava-a para assistirem a novela: - o penúltimo capitulo, às vezes é mais importante que o último; é quando tudo se desenrola pra no dia seguinte acabar com final feliz!

Joana riu e concordou. – Já to acabando!

Estava sentada tão próxima a mãe que podia ouvir sua respiração. Levantou os olhos para admirar a sua grande fortaleza.

Helena sempre foi uma pessoa calma e forte, ponderava todas as versões antes de se posicionar sobre qualquer assunto. Seu pai dizia que ela pensava demais. Ensinou a filha muito mais que pedir licença ou dizer obrigada. Com seu jeito humilde, arraigou os valores mais importantes de forma que Joana banalizava. Respeitar o próximo, compreender e valorizar as pessoas, eram lições que Joana aplicava diariamente sem sequer perceber.

Joana sabia a mãe que tinha, mais do que amor, ela sentia admiração por aquela mulher. Uma heroína que estava sentada bem na sua frente, tão próxima que podia ouvir seus pensamentos.

Quando começou a música que toca no final do noticiário, Helena apurou-se em colocar a louça na pia. Joana a seguia, com seu prato na mão, raspando a colher para limpar o último resquício da lentilha que havia.

Correram para a sala a tempo de ver até a abertura da novela. Joana sentou no sofá e ainda sem se ajeitar Makeba acomodou-se confortavelmente sobre suas pantufas.

Helena sentou ao lado da filha e ambas ficaram compenetradas.

Joana, de rabo de olho, viu quando a mãe passou a mão nos olhos.

Pensou: - Passou por tanta coisa na vida e nunca a vi derramar uma lágrima. Jamais chorou com a realidade, como pode chorar com a ficção!

-É muito triste mãe? Ainda bem que já devem estar todos em casa, ninguém passou por tanto sofrimento!

-Nós sim! concluiu apenas em pensamento.

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