terça-feira, 20 de setembro de 2011

Pérolas do Rico

MULHER

A areia seca voava praia afora, tocada pelo minuano gelado.
Perto dali, na Vila da Barra, Catarina era consolada pelos vizinhos. O filho que tinha ido pescar, em alto mar, era para ter voltado e, com aquele tempo raivoso, ainda não aparecera na entrada da barra.
Já havia comentários entre os pescadores que o “São Tomé II”, barco dos pescadores da Vila, estava desaparecido, pois as outras embarcações que andavam junto já haviam retornado. A Capitania tinha ouvido chamados que, depois, sumiram.
As filhas de Catarina, irmãs de Daniel, tentavam acalmar a mãe, missão quase impossível para aquela mulher desesperada. – Estou com pressentimento ruim, era só o que ela falava. – Não é nada mãe. – Daqui a pouco o barco vai aparecer. – Deixa o mar acalmar, falou a filha mais velha.
Passaram-se horas naquela aflição, sem notícias. A noite abocanhou o oceano. Tudo escureceu. Foi uma noite insone na Vila. Os comentários fizeram serão.
No dia seguinte, mal amanheceu, a falação corria por todas as ruelas do aglomerado praiano.
Por volta do meio dia veio a trágica notícia: o São Tomé II havia afundado em alto mar. Foram vistos destroços por um navio cargueiro que fazia aquela rota. A Capitania passou a notícia para os pescadores.
Dias se passaram. Buscas foram feitas por vários barcos da região. Nenhum sinal de sobreviventes.
Semanas se foram sem nenhuma notícia dos tripulantes.
Catarina, na sua procissão de mãe, ia todos os dias na beira da praia, pela manhã e ao fim da tarde. Era uma fé inútil, somente alimentada pelo amor de uma mãe que alagava, ainda mais, a beira da praia, com as lágrimas sensíveis de mulher.

Joelson Machado de Oliveira

2 comentários:

  1. Só com muito talento se coloca em palavras doces uma história de vida tão triste. O mar é testemunha de uma mãe que de chorar se cansou.
    Parabéns! A realidade contada da maneira mais perfeita.
    Beijos - Josi

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  2. Está muito bom o teu conto, amigo.A espera sem fim da notícia ou de alguém, nessas circunstâncias, deve ser desesperadora. E tua a transmitiste muito bem.

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