MOENDA DA CANÇÃO - UMA TRAJETÓRIA
Joelson Machado de Oliveira
Por motivos profissionais e por estar residindo fora de nossa cidade, as primeiras edições do festival, ouvi partes pelo rádio. Passei a assisti-la a partir da 5a. edição e a partir da sexta, comecei a participar mais ativamente, trabalhando na Secretaria do Evento e participando das reuniões semanais.
Embora seja uma satisfação falar de Moenda, não deixa de ser difícil, pois o nosso festival é tão cheio de nuances que ao longo da sua trajetória nos deparamos com situações que protagonizaram discussões que só engrandeceram o evento.
Falam da abertura da Moenda, da sua descaracterização de Nativa para um sentido mais amplo. Eu mesmo no início, quando só ouvia a Moenda, achei que ela deveria se voltar mais para o campo, para as raízes do nosso chão. Todavia fui convivendo com pessoas mais preparadas do que eu, neste assunto, e me convenci que os festivais que atuavam numa linha restrita estavam enfrentando dificuldades, pois muitos artistas que queriam expressar a sua arte no Rio Grande do Sul, estavam impossibilitados, pois os festivais nativistas de um modo geral, limitavam a criação a assuntos campesinos, enquanto que em outros seguimentos havia arte e, esta era tão gaúcha quanto as outras.
O fato de mudar de Moenda da Canção Nativa para Moenda da Canção, não tolheu nenhum compositor, apenas abriu o leque de composições concorrentes o que qualifica mais o festival, o promove além dos nossos limites e, uma coisa importante, abriu espaço para a nossa música nas rádios FM, um seguimento de muito sucesso e de grande expansão nos últimos tempos. Na realidade a Moenda, sempre esteve na vanguarda dos festivais da nossa terra.. O que a Moenda sempre foi é ser arrojada, pioneira, olhar o horizonte e não apenas a próxima porteira.
Aliás, ela já foi assim desde que começou, pois a ganhadora da 1a. Moenda "Dança dos Trigais ", uma notável composição de Beto Barros com música de Sérgio Rojas, que até hoje é reverenciada e passou a ser trilha sonora de abertura das últimas edições em versão erudita, não foi composta para a Moenda, - você sabia ? - e sim para a Seara de Carazinho, zona produtora de trigo e que foi lá rejeitada por ser "subversiva ", pois atacava o patrão - fazendeiro rural - e que a Moenda soube valorizar a grandeza da obra, pois nela não existia e continua não existindo nenhum preconceito - a obra está acima de qualquer querela. Foi aí, neste momento, que acredito, a Moenda mostrou sua personalidade, a sua independência e, certamente, por isso que ela está viva até hoje, crescendo e se fortalecendo cada vez mais.
Cada um de nós já ouviu falar que a Moenda dá prejuízo ao município : - "gastando dinheiro em festa ". São disparates que doem no nosso ouvido. A Moenda é um evento cultural. O investimento que mais retorno dá é o feito
O investimento do município na realização da Moenda têm sido relativamente pequeno. A verba anual - aprovada pela Câmara Municipal - fica em torno de R$
- No financeiro, por várias vezes foi constatado, através do depoimento dos gerentes de Bancos sediados em nossa praça que, a segunda feira pós Moenda é o maior volume de depósitos em cheques e dinheiro por parte dos comerciantes de nossa cidade. É que o advento da Moenda gera um incremento de negócios na cidade: - em restaurantes, bares, postos de combustível, pousada/hotéis, supermercados, armazéns - porque muitas pessoas acorrem ao nosso município aumentando a população no final de semana e também aqueles que passam pelo nosso perímetro urbano em função do evento. A Moenda quando acerta a ajuda de custo às músicas que serão apresentadas no festival o faz no momento do ensaio ou passagem de som, para que os artistas gastem em nossa cidade parte do pagamento.
- No cultural, os progressos surgidos após o surgimento do nosso festival são entusiasmantes : - vários grupos teatrais surgiram em função da Moenda, oficinas de teatro e de danças, grupos musicais, bandas, músicos individuais, bares de entretenimento, que mantêm nossa juventude na maioria dos finais de semana em nossa cidade. Mas certamente, o trabalho mais significativo é o desenvolvido nas escolas do município, com a participação e apoio das professoras e diretoras de colégios, que realizam um brilhante trabalho de interpretação de letras com seus alunos, fazendo com que eles passem para lindos cartazes, que são expostos nas dependências do evento, sempre incentivados por pessoas ligadas à Moenda. Será que tem preço esta agregação cultural, esta valorização do sentimento de patrulhense dos nossos alunos, do orgulho que é despertado nessas crianças ?
Já imaginaram quão cultural é fazer um trabalho sobre uma música apresentada na 4a Moenda, com nome de Vilarejo - obra de Jaime Vaz Brasil, com música de Mário Barbará, que diz : - "Nas casinholas, o fio das frestas afia o vento ". Não é querer filosofar com a desgraça alheia, mas temos que reconhecer que é poesia pura, dentro da realidade. Ou ainda, em Temporal, música da 5a. Moenda, - obra de Colmar Duarte com música de Sérgio Rojas - que ao descrever uma noite de temporal no pampa em um galpão de campanha, diz : - A chuva risca de esporas o zinco e a madrugada ".
Querem que eu fale das músicas ? Existem lindas músicas ao longo das quinze edições da Moenda. A vencedora da primeira edição é muito linda - "Dança dos Trigais - lindas também : Milonga abaixo de mau tempo - Casarão - No tempo das pátrias bêbadas - Fogo de Céu - Nau dos loucos pelo pampa - O poeta dormiu de sapatos - Rei Menino - Pra começar tudo de novo - Toda a minha rima e tantas outras, naturalmente, no meu gosto pessoal. Mas sem dúvida alguma a grande música da Moenda para mim é "Milonga do pendular encontro ", vencedora da 3a. edição, com música de Peri Souza e letra de Jaime Vaz Brasil. Simplesmente ela é perfeita: rural, urbana, lírica. Quem conhece um palmo de campo, sentiu saudade, certamente se transportará para o galope mágico da melodia e cavalgará nos versos puros de poesia. Bravo "Milonga "- que música!
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