segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Tropeços envenenados de esperança

Pois vejam que na nossa pacata, divertida e cultural Pinheiro Machado também acontecem crimes, e não estou falando de inocentes roubos de livros.

Falo de tentativa de assassinato. Isso mesmo.

Tentaram matar a Naomi, uma pequena moradora de quatro patas aqui da Pinheiro, nesse calorento domingo de sol.

Explico: me acordo com a Vanessa (dona da Naomi) batendo na porta de casa, às oito e meia da manhã. Abro e ela entra, chorando.

Já pensei que fosse o Candinho, um dos moradores mais antigos da rua e avô da Vanessa, mas que nada. Era a Naomi, que havia sido envenenada na madrugada e corria aos uivos pela rua, desesperada de susto e de dor.

Enquanto a Vanessa se escondia aqui em casa, sem coragem de olhar pro pobrezinho do bicho, sai pela rua, na esperança de ainda poder fazer alguma coisa, gritando pra que ela ligasse pra minha mãe, mais entendida nos mistérios do mundo animal.

Cheguei na casa em frente e a mãe, que mora perto, chegou junto, amigos e vizinhos procurando pela cadelinha e tentando ajudar de qualquer jeito.

Ouvido os gemidos, percebemos que ela estava sob os escombros da ‘casa do Sombra’, uma construção antiga que ruiu há uns dois anos. Perto dela, já em adiantado estado de decomposição, outro cachorrinho. Daí não tínhamos mais dúvida: alguma criatura que se diz humana anda por aí envenenando animais. Deus tenha piedade de uma alma tão pequena.

Mas nesse domingo, Deus tinha outras preocupações: chamamos pela Naomi, embora ninguém conseguisse vê-la. Ela deu apenas um grito e ficou em silêncio.

Nem adiantou o copo de uísque que a Mercedes trouxe na tentativa de cortar o efeito do veneno, não achamos mais o cão.

O S. Cândido, que felizmente sobreviveu aos meus pensamentos negativos, não entendia nada daquela correria.

Tristes, sentamos ainda um tempo em frente à casa, na esperança que a cadela aparecesse. A Vanessa saiu aborrecida pro seu curso, a Mercedes foi pra missa, e os que não tinham compromisso ficaram por ali, entristecidos.

Depois do almoço, já meia tarde, novamente os vizinhos se reuniram em frente às casas, pra lamentar o destino do bichinho, que era querido por todos. Durante a conversa, a mãe e a Mercedes resolveram voltar aos escombros da casa, onde jazia a Naomi, pra decidir o que fazer com o outro cachorro morto, porque o cheiro já se espalhava pela rua.

Conversaram um pouco e quando já íamos pra dentro, a Mercedes gritou: - olha ali a Naomi, balançando as orelhas!

Foi aquela correria! Eu não acreditava, a Josete correu pra chamar o Fernando, que junto com a Vanessa é o dono da Naomi, vieram da casa com o bendito copo de uísque na mão, toalhas e o que mais acharam que pudesse enrolar o cachorro, que durante a madrugada tentou até morder os donos, tamanho o desespero.

Mas não precisou de nada. Ouvindo a voz do dono, ela veio um pouco mais pra fora do seu esconderijo, e ele pode puxá-la e já nos atiramos pros mimos e cuidados.

E seja por sorte, por saúde ou por milagre, a bicha estava viva. Muito viva, e muito bem. A Mercedes, que já tinha salvado o dia, ligeiro transformou aquele uísque num bom copo de leite, que era o que a Naomi precisava.

Acredite você ou não nessa história, o fato é que na Pinheiro Machado, apesar de não estarmos imunes à maldade, o bem sempre vence!

- Cássia -

Um comentário:

  1. E também não seria o prenúncio de um ano maravilhoso para a Pinheiro Machado? Penso que a Naomi deu o sinal ... Rosalva

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